domingo, 8 de maio de 2011

foucault

AS PALAVRAS E AS COISAS (66)
"o homem morreu" - frase baseada em nietzsche.
foucault é um seguidor de nietzsche através da leitura que heidegger faz deste.

a idéia da morte do homem em foucault é paralela à "morte de deus" de nietzsche.

"se deus está morto, agora morre o homem" -- foucault.

o que o estruturalismo propõe é sair do sujeito. é o sujeito que descartes em 1637 coloca na centralidade como ponto de partida epistemológico único: "ego cogito. ergo sum." EU penso. esse sujeito centralizado, que domina todo o conhecimento e realidade vai ser questionado por foucault.

o sujeito não está no centro e não domina a realidade, mas está na trama histórica. é um sujeito constituído pelas relações de estrutura. tira o sujeito da centralidade. e foucauld diz: mantenho sartre, para colocá-lo dentro da estrutura (estruturalismo).

no segundo heidegger há um crítica a descartes. isso é visto nos dois tomos dos seminários que dá sobre nietzsche entre 1935 e 1940. lá ele diz que descartes realiza uma antropologia, um estudo do homem.

segundo heidegger, esse homem colocado na centralidade faz com que esqueçamos o ser. (esquecimento do ser). esse homem se dedica à conquista dos entes.

para todos os pensadores franceses da década de 60, com a degeneração da URSS, o marxismo já não servia mais como ferramenta para explicar a realidade. precisavam de uma ferramenta de crítica à modernidade que não viesse de marx. assim, eles a encontram em heidegger. heidegger, de fato, é um dos maiores críticos da modernidade capitalista enquanto técnica apropriadora dos entes, dos objetos, da realidade. para tomar heidegger, têm que adaptar-se a ele. isso não é fácil, pq heidegger é um filósofo que liquida o sujeito.

o pensamento francês desse período deriva, portanto, de nietzsche e heidegger, dois críticos da modernidade capitalista. heidegger = a modernidade capitalista começa com descartes, colocando o sujeito na centralidade e realizando, assim, o esquecimento do ser -- se focando nos entes. os gregos eram diferentes, para ele. os gregos não partiam do sujeito, tinham uma relação de encontro com o ser (ereignis = momento em que o homem se encontra com a plenitude do ser).

para sair de heidegger, foucault vai esquecer a centralidade do sujeito e vai assumir em seu lugar a estrutura. dentro dela ficará o sujeito, submetido a uma infidade de determinações.

em as palavras e as coisas, escreve a fórmula "o homem morreu". isso em 66. no entanto, em maio de 68, em apenas dois anos, essa idéia vem abaixo. os estudantes e trabalhadores lhe respondem que quem sai às ruas não é a estrutura, mas o sujeito.
por isso volta à primeira cena da filosofia francesa sartre, o filosofo do sujeito livre em sua práxis histórica.

na argentina, che guevara propunha um homem novo. (não era o mesmo que trotsky propunha?) -- choque com a noção trabalhada por foucault.

no seu livro mais importante na AL e seu segundo grande livro:

VIGIAR E PUNIR
Lá ele analisa as sociedades disciplinares. Ele é um brilhante analista de poder.
A única coisa que não conseguiu explicar como se resiste ao poder. Explica todos as formas e diz que isso cria resistência. Só não diz como resistir a ele.

O poder para Foucault vai ser o poder da razão. sua crítica não é nada novo. Já na Dialética do Esclarecimento Adorno e Horkheimer criticam o que chamavam de "razão instrumental". Uma razão que vem do iluminismo como Deus e se rtansformava numa razão para dominar a natureza e os homens. Sua aparição mais assustadora aparecia no nazismo.

foucault se baseará neles, mas de sua forma interpretará em História da loucura na época clássica (61) e em Vigiar e Punir (65).

A finalidade de Foucault é tirar a razão do lugar privilegiado que tem. Questioná-la, mostrar que ela se instaurou para dominar os homens. Escreve a História da Loucura. Pq? pq não há nada que questione mais a razão que a loucura. não há nada que a razão precise esconder mais que a loucura. ela é a negação da razão, sua antítese. e a razão não pode admitir que a loucura faz parte dela. a razão não pode admitir que ela própria gera a loucura.

a figura do manicômio ocupa um lugar importante. eles são escondidos. é onde ficam os loucos. aí vc pode andar pela sociedade racional, bem organizada, sem ver os loucos.

para foucault, a sociedade disciplinária é a sociedade racional. tudo isso para dominar os homens. e para dominar os homens, a razão tem que estar separada da loucura. o manicomio assume uma importância central, pois afasta aquilo que é diferente. é fundamental para a afirmação da razão, pois a loucura é o maior questionamento à razão.

VIGIAR E PUNIR
a delinquência. a sociedade civil tem que ser organizada, transparente. já hobbes em Leviatã (1652) falava que os homens deixados em seus próprios instintos geravam uma guerra de todos contra todos. o homem é o lobo do homem, por isso, o Estado, Leviatã, seria fundamental para organizar a guerra de todos contra todos. todos deveriam se submeter ao estado, que organizaria a todos.

para foucault, isso só seria possível se o estado organizasse as prisões. se os loucos ficavam nos manicômios, os delinquentes ficam nas cadeias. qual o elemento fundamental da prisão? foucault se lembra de uma figura do filósofo inglês Jeremy Bentham (1748 - 1832): o panóptico: uma torre colocada no meio da unidade carcerária. Do panóptico posso ver tudo ao redor e não ser visto. Aquele que vê coisifica o outro. Faz do outro um objeto visto, não um ser humano. Para o guarda o sujeito é uma coisa a vigilar, uma coisa a olhar, uma coisa que não o pode ver.

guarda: ver e não ser visto.
preso: ser visto e não ver.

essa relação que o poder estabelece com o detido é uma relação de exclusão. o poder é a razão que vê, a razão que controla, que domina, que instrumenta os homens.

essa razão desenvolve as ciências humanas não para conhecer o homem, mas para conhecê-lo e dominá-lo melhor.

o poder tem uma capacidade enorme, gigantesca, de impor a verdade. Pergunta central: por que é o poder quem impõe a verdade? Ele tem os meios de comunicação. Ela forma a subjetividade dos receptores. o poder cria a verdade.

a verdade não existe. o que existe é a interpretação da verdade e a verdade que o poder pode repetir um zilhão de vezes durante o dia, até que acreditem nela.

há uma frase de nietzsche genial: "não existem feitos, existem interpretações". ou seja, nenhum feito nos trará a verdade. suponhamos: terrível acontecimento trágico. tantos morrem. mas, o que é a verdade? há milhares de interpretações sobre isso. a interpretação desse fato é múltiplo. o poder, no entanto, tem o poder de impor a sua interpretação. é a capacidade que tem um determinado grupo de impor a sua verdade como verdade para todos.

sujeitar o sujeito é finalidade do poder.

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