sábado, 24 de setembro de 2011

arte como instituição germânica

derivada das guildas, onde havia uma relação de propriedade com os instrumentos de produção (não com a terra).
ou seja, relação objetiva de existência do homem (além da mera existência subjetiva).
identificação com o produto (não alienação, estranhamento).

no contexto do renascimento (séc xii - xvi) esse artesão específico (sobretudo os pintores e escultores) é alçado a uma condição jamais vista.

rafael, ticiano -- quase "blasés".

segunda-feira, 16 de maio de 2011

dialética do senhor e do escravo

primeiro momento da dialética: a afirmação
para hegel a história começa quando se encontram dois desejos. esse é o momento inicial que é, também, abstrato, pois nada aconteceu além do simples enfrentamento entre as duas consciências.

o que diferencia o desejo humano do desejo animal? o desejo humano deseja do desejo do outro, o do animal, não. o animal deseja apenas coisas.

o desejo do homem deseja que o outro o reconheça, que o reconheça como seu superior, e que se submeta a ele.

a consciência é desejo. por isso hegel está tirando a consciência da imanência que o pensamento subjetivo a tinha.

as duas consciências desejantes desejam a mesma coisa!

os dois sabem que estão empreendendo uma luta à morte. mas em determinado momento se resolve, pq uma das duas consciências tem medo, o medo da morte. aquele que tem medo de morrer antepõe o temor de morrer ao seu desejo. é mais forte seu medo de morrer que seu desejo de ser reconhecido pelo outro.

por outro lado, aquele em que o desejo é mais forte que o medo de morrer se sobrepõe ao outro.

segundo momento da dialética: a negação
temos uma figura que domina, onde o desejo é mais potente e que termina erigida em triunfo. esse é o senhor. a outra figura, que deixa de lado o desejo de ser reconhecido, é o escravo.

no entanto -- e aí vêm o movimento interessante demonstrado por hegel --, o senhor fica totalmente insatisfeito, pois aquele que o está reconhecendo já não é um sujeito autônomo. já não é um outro autônomo, pelo contrário, é um escravo. de que adianta, pensa o senhor, ser reconhecido por um escravo?

de que vale, pensa o senhor, ser reconhecido por alguém que abandona o próprio desejo de desejo do outro, desejo de reconhecimento, que diferencia o homem do animal? de que vale ser reconhecido por um escravo, e não por um homem? de que vale ser reconhecido por algo que não é um outro sujeito? como desejar o desejo do outro se o outro não tem desejo?

essa luta pelo reconhecimento me levou a não ser reconhecido, pensa o senhor.
para o senhor não resta opção senão por o escravo a trabalhar. aqui avançamos no sentido dialético da coisa.

o escravo trabalha para o senhor. o senhor fica na passividade, no ócio. se torna um ser ocioso, um ser passivo. o escravo trabalha e, ao mesmo tempo, trabalha a matéria. começa a construir a cultura, ao mesmo tempo. a cultura é o trabalho que o homem exerce sobre a natureza. a história humana, a cultura, passa pelo trabalho da história. ou seja, quem faz a história é o escravo.

terceiro momento da dialética: a negação da negação
o escravo se torna ativo e faz a cultura, faz a história e se torna, por isso mesmo, humano. o senhor se torna passivo, vive das coisas já realizadas e se torna, ele próprio, uma coisa.

chega-se num terceiro momento em que se conciliam os contrários. os antagônicos estão conciliados em uma síntese que os contêm e que os supera.

domingo, 15 de maio de 2011

trindade cristã (hegel)

o mesmo problema do Ser, puro Ser, que se deduz do Nada ao início da Ciência da Lógica (Primeira Parte - A doutrina do Ser), está expresso também na noção hegeliana da trindade cristã, nas Lições da filosofia da história universal. É a manutenção, ainda, do ser-um não contraditório como princípio fundante.

A Trindade Cristã é expressão do movimento do espírito em sua verdade. Para Hegel, no cristianismo é que se revela essa verdade, pois Deus se revelou em Cristo. O movimento trinitário das figuras do Pai, do Filho e do Espírito é a explicação da natureza mesma do espírito dada por Hegel. O Pai é uma universalidade Abstrata, não mediada, não reconhecida ainda, que se diferencia de si na figura do Filho, colocando se como objeto de si. Ao saber de si nesse movimento, contempla-se enquanto movimento, tem consciência de si enquanto movimento, sendo, portanto, Espírito, mediação consciente de si. Por conta dessa característica da trindade, a religião cristã é concebida por Hegel como sendo superior às outras religiões.

[...] Por esta trindade é a religião cristã superior às outras religiões. Se carecesse dela, poderia ser que o pensamento se encontrasse em outras religiões. Ela é o especulativo do cristianismo e aquilo pelo qual a filosofia encontra na religião cristã a idéia da razão. (HEGEL, G. W. F. Lecciones sobre la filosofía de la historia universal, 1837).

Feitiço - Zauber - Fetiche

O uso do termos fetiche em Marx é mais um dos inconvenientes de tradução... assim como maisvalia.
Fetiche é a palavra que Marx usa, de fato, em alemão. No entanto, essa é uma palavra derivada do próprio português, da palavra feitiço.

Foram os portugueses que, no século XVI, deram voltas e voltas pelo mundo, pela Índia, oriente, África etc., e relataram as curiosidades das diversas culturas que conheceram, suas crenças, suas feitiçarias, seu atos não-ocidentais. Isso chocou parte do mundo ocidental-europeu, espalhando o termo feitiço, do português, para vários países.

3 séculos depois é incorporado por Marx e por toda uma tradição crítica que se baseia neste, mas sem maior reflexão sobre isso (assim como sobre a maisvalia), principalmente no Brasil.

Para uso recorrente os alemães se valem de Zauber, palavra muito mais antiga, que expressa a idéia de feitiço, maldição etc.

livro I - cap. IV, 10º parágrafo do primeiro item

parágrafo 10
Analisando com mais calma, vemos as diferenças: na circulação simples a mercadoria inicial não é igual à mercadoria final. Ou seja, ainda que sejam trocas de mercadoria, a finalidade é o uso, a qualidade, o conteúdo da troca.

Na segunda forma, a fórmula do capital, é a mesma coisa que está no começo e no fim, sendo distinguível de si mesma apenas em quantidade. Ou seja, uma forma mistificada, ou forma aparentemente não contraditória, tautológica. Aparentemente, a mercadoria funciona como o Ser-Um parmenideano. Ela parece ser um ser sem contradição, pois parece ser apenas um discurso sobre o mesmo (tauto-lógos), como se nisso, nessa relação somente com o Mesmo, somente com si-mesma, não houvesse contradição. Assim, por isso a mercadoria parece ser fetichizada, pois ela parece ter vida própria, para além da vontade dos homens e, mais ainda, parece controlar os homens.

Como o oroboro, a cobra que come o próprio rabo. Parece assumir outra forma para voltar a si mesma e ser, sempre, o mesmo que si em sua identidade. É como no fragmento 5 de Parmênides:

(5,1) "Igual é para mim por onde comece, pois ali mesmo de novo retornarei"

O valor parece ser um sujeito automático por completo. No entanto, Marx mostrará que a mercadoria, enquanto universal, é outra coisa que não um sujeito automático. É um ser histórico, determinado, que surge em determinadas condições de troca e, no mundo do capital, com a FT sendo mercadoria, se torna "a forma elementar".

ESBOÇO DE UMA SERPENTE

(de Paul Valéry, 1921. Tradução - transcriação - de Augusto de Campos. Versão não completa)


A Henri Ghéon



Entre a árvore, a brisa brinca
Com a víbora que me veste;
Um sorriso, que o dente trinca
E o apetite apresta ao teste,
Sobre o Jardim arrisca a cauda,
E meu triângulo esmeralda
Mostra a língua de duplo fio...
Cobra serei, mas cobra arguta,
Cujo veneno, ainda que vil,
Deixa longe a douta cicuta!

Suave é o tempo complacente!
Tremei, mortais! Fico mais forte
Se, nunca suficientemente,
Bocejo até beirar a morte!
O esplendor do azul aguça
Esta hidra que me encapuça
De uma animal simplicidade.
Vinde a mim, ó raça inexperta!
Estou de pé e já desperta,
Semelhante à necessidade!

Sol, sol!... Ilusório arquiteto!
Tu, Sol, que mascaras a morte,
Sob o azul e o ouro de um teto
Onde as flores têm sua corte;
No arco-íris das tuas cores,
Tu, traidor dos traidores,
Dos meus laços o mais perfeito,
Poupas a pena de saber
Que o mundo é apenas um defeito
Ante a pureza do Não-ser!

Grande Sol, tu que a luz descerras
Ao ser, de fogos o iluminas,
Tu, que no sono ameno o encerras,
A falsa tinta das campinas,
Fautor de fantasmas fugazes
Que prendem aos olhos falazes
A presença obscura da alma,
A mentira é minha parceira,
Que espalhas pela terra inteira,
Rei das sombras, feito de flama!

Versa em mim teu fogo fictício,
Onde o meu tédio regelado
Elucubra algum malefício
Segundo meu ser enlaçado...
Esta área em que a carne clara-
Mente caiu me é muito cara!
Minha fúria, aqui, está madura;
Afago e afogo os seus intuitos:
Eu me escuto e nos meus circuitos
Minha meditação murmura...

Ó Vaidade! Causa Inicial!
Esse que reina sobre os Céus,
Com a voz que foi o fanal,
Abriu o universo. E foi Deus,
Cansado de seu espetáculo,
Ele mesmo rompendo o obstáculo
De sua perfeita eternidade,
Que fez, dissipador de ciências,
Do seu Princípio, conseqüências,
E estrelas, de sua Unidade.

Os Céus, seu erro! O Tempo, ruína!
E o abismo animal, aberto!
A queda, quando se origina,
É faísca, depois deserto!...
Mas a voz maior do seu Verbo,
Eu!... Dos astros o mais soberbo
Que alçou o louco criador,
Eu sou!... Eu serei!... ilumina
A diminuição divina
Com os fogos do Sedutor!

Radioso objeto desta pena,
Vós que eu odeio em meu amor,
Vós que quisestes do geena
Dar o império ao vosso amador,
Olhai-vos nestas trevas tristes!
No velho espelho em que vos vistes
Foi tal a aflição de ver o
Reflexo vão do vosso eu,
Que o vosso sopro se perdeu
Num suspiro de desespero!

Em vão procurastes no lodo
Modelar os fáceis infantes
Que aos Vossos atos triunfantes
Teçam loas o dia todo.
Assim que Vós soprais-lhes a vida,
Mestre Serpente já revida
Às pobres almas recém-natas!
Olá – diz ele, sem demora -,
Sois todos homens nus agora,
Ó bestas brancas e beatas!
(...)






(Paul Valéry, 1921. Tradução de Renato Suttana)

Entre a árvore, a brisa acalenta
a víbora que hei de vestir;
um sorriso, que o dente espeta
e de apetites vem luzir,
sobre o jardim se arrisca e vaga,
e o meu triângulo de esmeralda
atrai a língua do reptil...
Besta sou, porém besta arguta,
cujo veneno, embora vil,
deixa longe a sábia cicuta!

Suave é este tempo de prazer!
Tremei, mortais, ao meu valor
quando, sem me satisfazer,
bocejo e quebro o meu torpor!
A esplendidez do azul aguça
esta cobra que me rebuça
de uma animal simplicidade:
vinde a mim, ó raça aturdida!
Que estou prestes e decidida,
semelhante à necessidade!

Ó Sol, ó Sol!... Falta estupenda!
Tu que mascaras o morrer,
sob o azul e o ouro de uma tenda
onde as flores vão se acolher;
em meio a mil delícias baças,
tu, o mais feroz dos meus comparsas,
dos meus ardis o mais perfeito,
aos corações não deixas ver
que este universo é só um defeito
na puridade do Não-Ser!

Ó Sol, que soas as matinas
do ser, e em fogos o acompanhas,
que num fatal sono o arrepanhas
todo pintado de campinas,
fautor de fantasmas risíveis
que prendes às coisas visíveis
a presença obscura da alma,
sempre me agradou a mentira
que tu sobre o absoluto espalhas,
rei das sombras tornado pira!

A mim o teu calor brutal,
onde a minha preguiça gelada
vem devanear sobre algum mal
próprio à minha índole enlaçada...
Este amável lugar me seduz
onde cai a carne e produz!
Aqui meu furor amadura;
e eu o aconselho, e eu o refaço,
e me escuto, e em meio aos meus laços
minha meditação murmura...

Ó Vaidade! Causa primeira,
que domina os Céus e os conduz,
de uma voz que já foi a luz
abrindo o cosmo sem fronteira!
Lasso de Seu puro espetáculo,
o próprio Deus rompeu o obstáculo
de tão perfeita eternidade;
ele se fez O que dispersa
em conseqüências Seu começo,
em estrelas Sua Unidade.

O Céu, Seu erro! E o Tempo, a ruína!
E o abismo animal alargado!
Queda naquilo que origina,
fagulha em vez do puro nada!
Mas o primeiro som do Seu Verbo,
EU!... dos astros o mais soberbo
que disse o louco criador –
eu sou!... Eu serei... E ilumino
esse diminuir divino
dos fogos do grão Sedutor!

Radioso objeto de minha ira,
Tu, que amei de um amor flamante,
e que da geena decidiste
conceder o império a este amante,
nos meus escuros Te remira!
Que ao veres Teu reflexo triste,
troféu do meu espelho negro,
tenhas tão funda comoção,
que sobre a argila o Teu ofego
seja um suspiro de aflição!

Em vão moldaste nessa lama
a prole dos fáceis infantes
que dos Teus atos triunfantes
a eterna louvação proclama!
Tão logo secos – e perfeitos,
são da Serpente já desfeitos,
filhos que o Teu criar produz.
Olá, lhes diz, recém-chegados!
Homens que sois, e andais tão nus,
animais brancos e abençoados!

Odeio-vos, que do execrado
à semelhança fostes feitos,
tal como ao Nome que tem criado
esses prodígios imperfeitos!
Eu sou o agente da mudança,
retoco o peito que se afiança,
de um dedo exato e misterioso!
Transformaremos essas obras
e as evasivas, moles cobras
em répteis negros, furiosos!

Meu intelecto inumerável
toca no humano coração
o instrumento de minha raiva,
que foi feito por Tua mão!
E Tua Paternidade alada,
todo aquele que, na estrelada
câmara ela acolha que a afague,
sempre o excesso dos meus assaltos
lhe traga uns longes sobressaltos
que seus propósitos estrague!

Vou e venho, deslizo, enfronho,
desapareço em peito puro!
Houve jamais seio tão duro
onde não possa entrar um sonho?
Quem quer que sejas, não sou esta
complacência que te requesta
a alma, desde que ela se ame ?
Ao fundo sou de seu favor
este inimitável sabor
que de ti em ti se derrame!

Eva! que eu tenho surpreendido
em seus primeiros pensamentos,
o lábio aos hálitos rendido
que das rosas se evolam lentos.
Quão perfeita me apareceu,
de ouro coberto o flanco seu,
sem temor ao sol nem ao homem;
ofertada aos olhos da brisa,
a alma ainda estúpida, tal como
perplexa ante a carne, indecisa.

Oh, massa de beatitude,
és tão bela, prêmio veraz
para toda a solicitude
das almas boas e das más!
Para que aos lábios teus se prendam,
basta que a um sopro teu se rendam!
Tornam-se piores os mais puros,
logo se ferem os mais duros...
Também a mim teus dons encantam,
de quem vampiros se levantam!

Sim! De meu posto entre a folhagem –
réptil que de ave se fingia –,
enquanto a minha pabulagem
uma armadilha te tecia,
eu te bebi, surda beldade!
Prenhe de encanto e claridade,
eu dominava, sem tremer,
fixo o olho em tua lã dourada,
tua nuca obscura e carregada
dos segredos do teu mover!

Presente estive, qual odor
que a alguma idéia corresponda,
cujo fundo, insidioso negror
não se elucida nem se sonda!
Pois eu te inquietava, ó candura,
carne molemente segura,
sem ter de mim nenhum temor,
a tremer em teu esplendor!
Logo eu te tinha, eu te levava,
e tua nuança variava!

(A soberba simplicidade
demanda infinitos cuidares!
Sua transparência de olhares,
tolice, orgulho, felicidade
guardam bem a bela cidade!
Procuremos criar-lhe azares,
e traga o mais raro artifício
ao peito puro o seu motim.
Eis minha força, o meu ofício,
a mim os meios do meu fim!)

Ora, de uma baba ofuscante
fiemos os suaves assaltos
que façam com que Eva, hesitante,
se envolva em vagos sobressaltos.
Que sob a seda da surpresa
palpite a pele dessa presa,
acostumada ao azul puro!...
Mas de gaze nem uma trama,
nem fio invisível, seguro,
além da que meu estilo trama!

E ditos, língua, redourados,
dá-lhe os mais doces que conheças!
Alusões, fábulas, finezas,
e mil silêncios cinzelados,
emprega tudo o que a seduza:
nada que a não bajule e induza
a se perder nas minhas vias,
dócil aos declives que guiam
para o fundo das azuis bacias
os veios que nos céus se criam.

Oh, quanta prosa sem parelha,
quanto espírito não recoso
e lanço ao dédalo sedoso
dessa maravilhosa orelha!
Penso: lá nada é sem proveito,
tudo importa ao suspenso peito!
O triunfo é certo, se o propor,
da alma espreitando algum tesouro,
como uma abelha a alguma flor,
não deixa mais a orelha de ouro!

“Só o que o meu sopro lhe confere,
a ela, é a própria voz divina!
Uma ciência viva fere
o corpo do fruto maduro!
Não ouças o Ser velho e puro
que a breve mordida abomina!
Que, se a boca se põe a sonhar,
a sede que à seiva se atreva,
esta delícia por chegar,
é a eternidade fundente, Eva!”

Ela bebeu minha mensagem,
que tecia um estranho arranjo;
seu olho perdeu algum anjo
por penetrar minha ramagem.
O mais hábil dos animais
que se ri de seres tão dura,
ou pérfida e cheia de males,
é só uma voz entre a verdura!
– Mas Eva muito séria estava
e sob o galho ela a escutava!

“Alma, eu lhe disse, doce pouso
de tanto êxtase condenado,
não sentes este amor sinuoso
que foi por mim ao Pai roubado?
Tenho esta essência celestial
a fins mais doces do que o mel
reservado tão suavemente...
Apanha o fruto... Oh, que se estenda
a tua mão e, ardentemente,
te faça dele uma oferenda!”

Que silêncio – o bater de um cílio!
Que sopro no peito soçobra,
que a árvore mordeu de sua sombra!
O outro brilhava qual pistilo!
– Silva, silva! – ele me cantava!
E eu sentia fremir as mil
dobras do meu dorso sutil,
saindo então do meu abrigo:
rolaram atrás do berilo
de minha crista, até o perigo!

Ó gênio! Ó comprida impaciência!
Eis chegado o instante em que um passo
em direção à nova Ciência
fluirá de um fino pé descalço.
Aspira o mármore, o ouro enjambra!
Tremem as bases de sombra e âmbar
na véspera do movimento!...
Ela vacila, a grande urna,
de onde emana o consentimento
dessa aparente taciturna!

Do vivo prazer que antegozes,
belo corpo, cede aos apelos!
Que a sede de metamorfoses
em torno da Árvore dos Zelos
engendre a cadeia de poses!
Vem, sem vires! Ensaia passos
vagos, como ao peso de rosas...
Não penses! Dança nos espaços...
Aqui há causas deliciosas
que bastam ao curso das coisas!...

Oh, quanto é infértil a fruição
que me ofereço, com demência:
de ver tão suave compleição,
fremir em desobediência!...
Breve, emanando seu sustento
de sabedoria e ilusões,
toda a Árvore do Conhecimento,
esguedelhada de visões,
no amplo corpo que investe rumo
ao sol, bebe do sonho o sumo.

Grande Árvore, Sombra das Alturas,
irresistível Árvore de árvores,
que os sucos amáveis procuras
na fragilidade dos mármores,
ó tu, que os labirintos cevas
por onde as constrangidas trevas
se percam no marinho lume
da sempiterna madrugada,
doce perda, brisa ou perfume,
ou pomba já predestinada,

Cantor, secreto bebedor
das mais profundas pedrarias,
berço do réptil sonhador
por quem já Eva tresvaria,
grande Ser, pleno de saber,
que sempre, como por mais ver,
ao alto apelo de teu cimo
cedes, e ao ouro puro os braços
estendes, teus esgalhos baços,
de outra parte, cavando o abismo,

Podes o infindo repelir,
feito só de teu crescimento,
e, da tumba ao ninho, sentir
que és inteiro Conhecimento!
Mas este velho amante do impasse,
de uns secos sóis no inútil ouro,
vem em tua copa enroscar-se –
seus olhos fremem teu tesouro!
Frutos de morte, de incerteza,
de desespero ali sopesa!

Bela serpe, suspensa aos céus,
sibilo, com delicadeza,
ofertando à glória de Deus
o triunfo da minha tristeza...
Basta-me, nos ares tranqüilos,
que a ânsia do amargo fruto os filhos
do barro ponha em desvario...
– A sede que te faz tamanha
até ao Ser exalta a estranha
Toda-Potência do Vazio!









Ébauche d’un serpent

















(de Paul Valéry, 1921)


À Henri Ghéon.


Parmi l’arbre, la brise berce
La vipère que je vêtis ;
Un sourire, que la dent perce
Et qu’elle éclaire d’appétits,
Sur le Jardin se risque et rôde,
Et mon triangle d’émeraude
Tire sa langue à double fil…
Bête que je suis, mais bête aiguë,
De qui le venin quoique vil
Laisse loin la sage ciguë !

Suave est ce temps de plaisance !
Tremblez, mortels ! Je suis bien fort
Quand jamais à ma suffisance,
Je bâille à briser le ressort !
La splendeur de l’azur aiguise
Cette guivre qui me déguise
D’animale simplicité ;
Venez à moi, race étourdie !
Je suis debout et dégourdie,
Pareille à la nécessité !

Soleil, soleil !… Faute éclatante !
Toi qui masques la mort, Soleil,
Sous l’azur et l’or d’une tente
Où les fleurs tiennent leur conseil ;
Par d’impénétrables délices,
Toi, le plus fier de mes complices,
Et de mes pièges le plus haut,
Tu gardes le cœur de connaître
Que l’univers n’est qu’un défaut
Dans la pureté du Non-être !

Grand Soleil, qui sonnes l’éveil
À l’être, et de feux l’accompagnes,
Toi qui l’enfermes d’un sommeil
Trompeusement peint de campagnes,
Fauteur des fantômes joyeux
Qui rendent sujette des yeux
La présence obscure de l’âme,
Toujours le mensonge m’a plu
Que tu répands sur l’absolu,
Ô roi des ombres fait de flamme !

Verse-moi ta brute chaleur,
Où vient ma paresse glacée
Rêvasser de quelque malheur
Selon ma nature enlacée…
Ce lieu charmant qui vit la chair
Choir et se joindre m’est très cher !
Ma fureur, ici, se fait mûre ;
Je la conseille et la recuis,
Je m’écoute, et dans mes circuits,
Ma méditation murmure…

Ô Vanité ! Cause Première !
Celui qui règne dans les Cieux,
D’une voix qui fut la lumière
Ouvrit l’univers spacieux.
Comme las de son pur spectacle,
Dieu lui-même a rompu l’obstacle
De sa parfaite éternité ;
Il se fit Celui qui dissipe
En conséquences, son Principe,
En étoiles, son Unité.

Cieux, son erreur ! Temps, sa ruine !
Et l’abîme animal, béant !…
Quelle chute dans l’origine
Étincelle au lieu de néant !…
Mais, le premier mot de son Verbe,
MOI !… Des astres le plus superbe
Qu’ait parlés le fou créateur,
Je suis !… Je serai !… J’illumine
La diminution divine
De tous les feux du Séducteur !

Objet radieux de ma haine,
Vous que j’aimais éperdument,
Vous qui dûtes de la géhenne
Donner l’empire à cet amant,
Regardez-vous dans ma ténèbre !
Devant votre image funèbre,
Orgueil de mon sombre miroir,
Si profond fut votre malaise
Que votre souffle sur la glaise
Fut un soupir de désespoir !

En vain, Vous avez, dans la fange,
Pétri de faciles enfants,
Qui de Vos actes triomphants
Tout le jour Vous fissent louange !
Sitôt pétris, sitôt soufflés,
Maître Serpent les a sifflés,
Les beaux enfants que Vous créâtes !
Holà ! dit-il, nouveaux venus !
Vous êtes des hommes tout nus,
Ô bêtes blanches et béates !

À la ressemblance exécrée,
Vous fûtes faits, et je vous hais !
Comme je hais le Nom qui crée
Tant de prodiges imparfaits !
Je suis Celui qui modifie,
Je retouche au cœur qui s’y fie,
D’un doigt sûr et mystérieux !…
Nous changerons ces molles œuvres,
Et ces évasives couleuvres
En des reptiles furieux !

Mon Innombrable Intelligence
Touche dans l’âme des humains
Un instrument de ma vengeance
Qui fut assemblé de tes mains !
Et ta Paternité voilée,
Quoique, dans sa chambre étoilée,
Elle n’accueille que l’encens,
Toutefois l’excès de mes charmes
Pourra de lointaines alarmes
Troubler ses desseins tout-puissants !

Je vais, je viens, je glisse, plonge,
Je disparais dans un cœur pur !
Fut-il jamais de sein si dur
Qu’on n’y puisse loger un songe !
Qui que tu sois, ne suis-je point
Cette complaisance qui poind
Dans ton âme lorsqu’elle s’aime ?
Je suis au fond de sa faveur
Cette inimitable saveur
Que tu ne trouves qu’à toi-même !

Ève, jadis, je la surpris,
Parmi ses premières pensées,
La lèvre entr’ouverte aux esprits
Qui naissaient des roses bercés.
Cette parfaite m’apparut,
Son flanc vaste et d’or parcouru
Ne craignant le soleil ni l’homme ;
Tout offerte aux regards de l’air
L’âme encore stupide, et comme
Interdite au seuil de la chair.

Ô masse de béatitude,
Tu es si belle, juste prix
De la toute sollicitude
Des bons et des meilleurs esprits !
Pour qu’à tes lèvres ils soient pris
Il leur suffit que tu soupires !
Les plus purs s’y penchent les pires,
Les plus durs sont les plus meurtris…
Jusques à moi, tu m’attendris,
De qui relèvent les vampires !

Oui ! De mon poste de feuillage
Reptile aux extases d’oiseau,
Cependant que mon babillage
Tissait de ruses le réseau,
Je te buvais, ô belle sourde !
Calme, claire, de charmes lourde,
Je dormirais furtivement,
L’œil dans l’or ardent de ta laine,
Ta nuque énigmatique et pleine
Des secrets de ton mouvement !

J’étais présent comme une odeur,
Comme l’arôme d’une idée
Dont ne puisse être élucidée
L’insidieuse profondeur !
Et je t’inquiétais, candeur,
Ô chair mollement décidée,
Sans que je t’eusse intimidée,
À chanceler dans la splendeur !
Bientôt, je t’aurai, je parie,
Déjà ta nuance varie !

(La superbe simplicité
Demande d’immense égards !
Sa transparence de regards,
Sottise, orgueil, félicité,
Gardent bien la belle cité !
Sachons lui créer des hasards,
Et par ce plus rare des arts,
Soit le cœur pur sollicité ;
C’est là mon fort, c’est là mon fin,
À moi les moyens de ma fin !)

Or, d’une éblouissante bave,
Filons les systèmes légers
Où l’oisive et l’Ève suave
S’engage en de vagues dangers !
Que sous une charge de soie
Tremble la peau de cette proie
Accoutumée au seul azur !…
Mais de gaze point de subtile,
Ni de fil invisible et sûr,
Plus qu’une trame de mon style !

Dore, langue ! dore-lui les
Plus doux des dits que tu connaisses !
Allusions, fables, finesses,
Mille silences ciselés,
Use de tout ce qui lui nuise :
Rien qui ne flatte et ne l’induise
À se perdre dans mes desseins,
Docile à ces pentes qui rendent
Aux profondeurs des bleus bassins
Les ruisseaux qui des cieux descendent !

Ô quelle prose non pareille,
Que d’esprit n’ai-je pas jeté
Dans le dédale duveté
De cette merveilleuse oreille !
Là, pensais-je, rien de perdu ;
Tout profite au cœur suspendu !
Sûr triomphe ! si ma parole,
De l’âme obsédant le trésor,
Comme une abeille une corolle
Ne quitte plus l’oreille d’or !

« Rien, lui soufflais-je, n’est moins sûr
Que la parole divine, Ève !
Une science vive crève
L’énormité de ce fruit mûr
N’écoute l’Être vieil et pur
Qui maudit la morsure brève
Que si ta bouche fait un rêve,
Cette soif qui songe à la sève,
Ce délice à demi futur,
C’est l’éternité fondante, Ève ! »

Elle buvait mes petits mots
Qui bâtissaient une œuvre étrange ;
Son œil, parfois, perdait un ange
Pour revenir à mes rameaux.
Le plus rusé des animaux
Qui te raille d’être si dure,
Ô perfide et grosse de maux,
N’est qu’une voix dans la verdure.
— Mais sérieuse l’Ève était
Qui sous la branche l’écoutait !

« Âme, disais-je, doux séjour
De toute extase prohibée,
Sens-tu la sinueuse amour
Que j’ai du Père dérobée ?
Je l’ai, cette essence du Ciel,
À des fins plus douces que miel
Délicatement ordonnée…
Prends de ce fruit… Dresse ton bras !
Pour cueillir ce que tu voudras
Ta belle main te fut donnée ! »

Quel silence battu d’un cil !
Mais quel souffle sous le sein sombre
Que mordait l’Arbre de son ombre !
L’autre brillait, comme un pistil !
— Siffle, siffle ! me chantait-il !
Et je sentais frémir le nombre,
Tout le long de mon fouet subtil,
De ces replis dont je m’encombre :
Ils roulaient depuis le béryl
De ma crête, jusqu’au péril !

Génie ! Ô longue impatience !
À la fin, les temps sont venus,
Qu’un pas vers la neuve Science
Va donc jaillir de ces pieds nus !
Le marbre aspire, l’or se cambre !
Ces blondes bases d’ombre et d’ambre
Tremblent au bord du mouvement !…
Elle chancelle, la grande urne,
D’où va fuir le consentement
De l’apparente taciturne !

Du plaisir que tu te proposes
Cède, cher corps, cède aux appâts !
Que ta soif de métamorphoses
Autour de l’Arbre du Trépas
Engendre une chaîne de poses !
Viens sans venir ! forme des pas
Vaguement comme lourds de roses…
Danse cher corps… Ne pense pas !
Ici les délices sont causes
Suffisantes au cours des choses !…

Ô follement que je m’offrais
Cette infertile jouissance :
Voir le long pur d’un dos si frais
Frémir la désobéissance !…
Déjà délivrant son essence
De sagesse et d’illusions,
Tout l’Arbre de la Connaissance
Échevelé de visions,
Agitait son grand corps qui plonge
Au soleil, et suce le songe !

Arbre, grand Arbre, Ombre des Cieux,
Irrésistible Arbre des arbres,
Qui dans les faiblesses des marbres,
Poursuis des sucs délicieux,
Toi qui pousses tels labyrinthes
Par qui les ténèbres étreintes
S’iront perdre dans le saphir
De l’éternelle matinée,
Douce perte, arôme ou zéphir,
Ou colombe prédestinée,

Ô Chanteur, ô secret buveur
Des plus profondes pierreries,
Berceau du reptile rêveur
Qui jeta l’Ève en rêveries,
Grand Être agité de savoir,
Qui toujours, comme pour mieux voir,
Grandis à l’appel de ta cime,
Toi qui dans l’or très pur promeus
Tes bras durs, tes rameaux fumeux,
D’autre part, creusant vers l’abîme,

Tu peux repousser l’infini
Qui n’est fait que de ta croissance,
Et de la tombe jusqu’au nid
Te sentir toute Connaissance !
Mais ce vieil amateur d’échecs,
Dans l’or oisif des soleils secs,
Sur ton branchage vient se tordre ;
Ses yeux font frémir ton trésor.
Il en cherra des fruits de mort,
De désespoir et de désordre !

Beau serpent, bercé dans le bleu,
Je siffle, avec délicatesse,
Offrant à la gloire de Dieu
Le triomphe de ma tristesse…
Il me suffit que dans les airs,
L’immense espoir de fruits amers
Affole les fils de la fange…
— Cette soif qui te fit géant,
Jusqu’à l’Être exalte l’étrange
Toute-Puissance du Néant !