sábado, 7 de julho de 2012

O movimento trotskista na América Latina até 1940


Pierre Broué1


RESUMO
Traça um painel sobre as origens e o desenvolvimento das
organizações políticas da América Latina vinculadas às idéias de
Leon Trotsky, do final dos anos 1920 até o ano de 1940, bem como
de sua historiografia.

PALAVRAS-CHAVE
Partidos políticos; América Latina; Leon Trotsky.


As pesquisas realizadas pelo Instituto Leon Trotsky, com
vistas à publicação das Obras3 de Trotsky, não resultaram em
descobertas decisivas no domínio da história latino-americana. A
este respeito, mesmo a investigação levada a efeito nos “papéis
de exílio” de Trotsky na Houghton Library de Harvard revelou-se
decepcionante: zeloso em não dar, mesmo que indiretamente, base
a acusações de ingerência, Trotsky praticamente nada deixou em
seus arquivos relativamente à sua atividade na América Latina
após 1937 e sua chegada ao México.

A documentação, no entanto, existe. Na própria Houghton
Library foi depositada o que se chama de “coleção-satélite” de
Octavio Fernández, compreendendo não apenas parte dos
arquivos da seção mexicana, mas os da revista Clave, fundada e
dirigida por Trotsky, e as cartas que o próprio Trotsky quis
conservar em lugar seguro. Além desse, há fundos documentais
importantes, tanto na Europa, em Nanterre (Biblioteca de
Documentação Internacional Contemporânea), Amsterdã
(Instituto Internacional de História Social), Milão (Fundação
Feltrinelli), como nos Estados Unidos (Cambridge e Stanford). O
grosso dos arquivos 3/4 além do Brasil, onde houve um início de
reagrupamento em um arquivo ligado à Universidade de
Campinas4 3/4 encontra-se em acervos privados, pelo menos
aqueles que não foram direta ou indiretamente destruídos em
decorrência da repressão. Mas vários deles não podem ser
consultados sem provocar graves perigos aos seus detentores em
razão do esmagamento das liberdades democráticas nos países
onde estão conservados. Esperamos meter o nariz nos arquivos
do chileno Manuel Hidalgo ou nos de Enrique Espinoza, escritor
argentino de Santiago..., ainda necessitando de alguns
acontecimentos políticos: a história não pode avançar mais rápido
do que a humanidade e Pinochet, como Videla, são obstáculos
objetivos tanto a qualquer desenvolvimento dos conhecimentos
históricos como ao exercício dos direitos e liberdades democráticas
as mais elementares.

A história do trotskismo na América Latina já foi, no
entanto, objeto de uma pesquisa de conjunto realizada por um
universitário, diplomata e pesquisador, especialista do comunismo
na América Latina.5 Robert J. Alexander6, que se apresentava como
“um camarada” aos velhos militantes, conseguiu ter acesso a
arquivos e obter depoimentos. Seu trabalho é muito útil sob este
ângulo, malgrado inevitáveis erros que buscaremos assinalar
oportunamente em outros trabalhos. Infelizmente, faltou a
necessária intimidade com o objeto que somente uma experiência
de militante e um conhecimento dos homens que se interroga
podem dar 3/4 e é o que torna necessário em curto prazo a retomada
de um tema, aliás, muito vasto e que ele não poderia esgotar. Desde
então foram empreendidas pesquisas em diversas universidades:
dissertações de mestrado, teses de doutorado de ciência política
ou de história abordam o tema e já propõem informações e
reflexões úteis.7 Enfim, os sobreviventes começam a falar, desde
que tenham a possibilidade e a ocasião de fazê-lo novamente, e o
autor deste artigo teve o privilégio de ouvir longamente alguns
dos mais eminentes dentre eles.8

A América Latina ficou muito tempo à margem do
movimento operário mundial, apartada de suas principais
correntes e somente recebendo da Europa estímulos com um atraso
por vez considerável. Os primeiros trabalhos científicos sobre a
história do comunismo na América Latina 3/4 em especial os
trabalhos de Carmen Helena Parés e de Manuel Caballero9 3/4
mostram muito bem este descolamento: um país como a Venezuela
ficou completamente afastado do movimento comunista na época
de Lênin e somente viu o nascimento de seu partido comunista
em plena era stalinista.

Percebe-se um atraso idêntico na aparição do movimento
trotskista, uma vez que este último, oposição de esquerda no seio
dos partidos comunistas, pressupunha sua existência. Mas este
descolamento é freqüentemente menos importante na medida em
que a Oposição é uma organização internacional. Por outro lado,
o caráter fortuito da cronologia da implantação destacada por
Carmen Helena Parés para os partidos comunistas, nos parece mais
acentuado ainda para as seções da Oposição de Esquerda. Se se
deixar de lado o caso do Chile, onde uma fração do PC, que existia
de modo independente há muitos anos, se juntou em bloco à
Oposição Internacional, a implantação desta última pareceu
mostrar, amplamente, contatos que se pode qualificar de “contatos
de acaso”, isto é, de fatores bastante contingentes. Foi, por exemplo,
a presença de Pierre Naville na nova Clarté 3/4 que se tornaria La
Lutte de Classes 3/4 que pôs o brasileiro Mario Pedrosa e o peruano
José Carlos Mariateguí em contato com o pensamento de Trotsky
e permitiu a primeira conexão da Oposição de Esquerda no
continente latino-americano.

De modo direto, Moscou foi durante este período um foco
ativo de irradiação das idéias e das teses da Oposição de Esquerda.
Foram as simpatias contraídas pelas suas teses na capital da URSS
que inspiraram, ao menos em parte, no seu retorno ao Brasil, o
delegado do Partido Comunista brasileiro, Rodolpho Coutinho10,
em sua aliança com a Oposição Sindical de Joaquim Barbosa, que
constituiu o ponto de partida da Oposição de Esquerda no Brasil.

Foi igualmente em Moscou, provavelmente nesse mesmo ano, que
o sindicalista cubano Sandalio Junco11 encontrou as idéias da
Oposição de Esquerda na pessoa de Andrés Nin, que foi durante
muito tempo secretário da Internacional Sindical Vermelha. Foi
de Moscou que se enviou ao México, como permanente da
Internacional da Juventude Comunista, o ucraniano Abraham
Golod que, em 1930, entrou para a Oposição de Esquerda com o
americano Rosalio Negrete12, animador dos “pioneiros”. Mais
tarde, instalado em Nova Iorque, Golod, sob o pseudônimo de
Alberto González, prosseguirá um paciente trabalho de
organização na América Latina. Foi um outro ucraniano, meio
inglês, é verdade, Roberto Guinney13, antigo dirigente do PC
argentino e de sua seção de língua ucraniana e russa, que organizou
o primeiro núcleo trotskista argentino.

No entanto, de modo geral, foram as viagens de
intelectuais ou estágios de estudantes na Europa que trouxeram a
maioria dos contatos. Naville jamais encontrou Mariateguí, o
pioneiro do marxismo no Peru, e sua correspondência cedo se
interrompeu, mas Naville se ligou em Paris com Pedrosa e obteve
sua adesão e Pedrosa, por sua vez, começou a se corresponder
com seus amigos do Brasil. O meio mexicano Manuel Fernández
Grandizo 3/4 o futuro G. Munis14 3/4 e o peruano Juan Luís
Velázquez15 leram Comunismo e militaram nas fileiras da Esquerda
Comunista da Espanha antes de voltar à América Latina, na mesma
época em que Héctor Raurich, já um experimentado militante, e o
jovem Antonio Gallo16, que encarnavam a segunda geração
trotskista da Argentina. Os Estados Unidos tiveram um papel não
neglicenciável enviando ao México Rosalio Negrete em um
primeiro momento e depois Charles Curtiss.17 Enfim, também não
se pode negligenciar os reflexos impostos pela perseguição policial
e os exílios forçados. Foi no Chile que José Aguirre18, futuro
fundador, em Córdoba, na Argentina, do Partido Operário
Revolucionário (POR) boliviano, foi ganho pelos militantes da
Esquerda Comunista chilena. Os homens da segunda geração da
Bolívia, Walter Asbun e Guillermo Lora19, muito mais que ao POR,
devem sua formação de trotskistas a um militante brasileiro, Fulvio
Abramo, que veio em um carro de boi da fronteira brasileira até
Santa Cruz de la Sierra, onde o encontraram.20

Foi somente a partir de 1938, no contexto da metódica
preparação da conferência internacional pela atividade do Bureau
Pan-Americano, que se pôde constatar um esforço sistemático e um
início de planificação empreendido pelo núcleo do Socialist Workers
Party (SWP) reunido em torno de González-Golod. Os militantes
estrangeiros nos Estados Unidos, que se dissimulavam sob os
pseudônimos de “Lopez” (Frankel) e “Colay” 3/4 um cubano 3/4,
apoiavam os esforços daqueles conhecidos como “especialistas”,
militantes norte-americanos que conheciam a língua espanhola...

A história da Oposição da Esquerda e da 4ª Internacional
na América Latina difere sensivelmente daquela da Europa em
razão de sua pré-história e de um contexto diferente. Foi assim
que na América Latina, muitas vezes por partes inteiras ou, até,
por partidos comunistas, ao menos de importantes frações de seus
quadros ou mesmo de suas direções, passaram-se à Oposição de
Esquerda e mais tarde à 4ª Internacional. Do ponto de vista de
seus efetivos, as seções assim constituídas sustentavam por vezes
comparações vitoriosas com os “partidos oficiais”, que na época,
evidentemente, estavam longe do que se poderia chamar de
partidos de massa. Esta situação não teve equivalente na Europa
dos anos 1930, embora houvesse alguma semelhança com alguns
aspectos da situação da Espanha no início desse período e,
sobretudo, da Grécia na grande época do “arqueiomarxismo”, cuja
organização suportava uma comparação com o PC “oficial”.

Foi o caso do Brasil. As informações trazidas por Coutinho,
depois os documentos e a correspondência de Pedrosa
persuadiram a primeira oposição do Partido Comunista do Brasil
(PCB), o Grupo Comunista Lenine, em parte saído da Oposição
Sindical, a pedir sua filiação à Oposição de Esquerda Internacional.

Ela tinha então em suas fileiras alguns dos pioneiros do
comunismo no Brasil e, em primeiro lugar, aquele gráfico mestiço
que, em 1917, animou o comitê de greve de São Paulo e fundou o
PCB, o próprio símbolo do proletariado brasileiro moderno que
foi João Jorge da Costa Pimenta.21 Mas seus companheiros Mario
Pedrosa ou Livio Xavier, os irmãos Abramo ou Plínio Mello22
também foram pioneiros do comunismo no Brasil e foi preciso

reescrever a história do partido que também foi o seu, para tentar
apagá-los. E a história, aqui, repetiu-se uma segunda vez: logo
que a primeira geração trotskista brasileira desapareceu sob os
ferozes golpes da repressão do regime Vargas após 1939, foi ainda
do seio do partido e das juventudes que renasceu uma oposição
que, por sua vez, tomou o caminho da 4ª Internacional, aquela
que se reagrupou em torno do Comitê Regional de São Paulo com
Hermínio Sacchetta e José Stacchini, das Juventudes23, e que neste
ano constituiu o Partido Socialista Revolucionário.

Quando a Oposição de Esquerda constituiu-se oficialmente
em Cuba em 1932, ela já contava com centenas de militantes e
alguns asseguravam que era mais numerosa que o partido oficial.
Três anos antes Julio Antonio Mella fora assassinado na rua, no
México.24 Já se sabe que ele fora excluído do PC cubano, do qual
era um dos dirigentes mais populares, mas não se sabia que pouco
antes de sua morte ele estava ligado ao grupo de oposição de
Manuel Rodríguez no México. Os cerca de 600 militantes dos quais
se vangloriava, no final de 1933, o jovem Partido Bolchevique-
Leninista de Cuba (PBL) eram, talvez, como se disse e repetiu,
militantes que, sobretudo, se situavam dentro da tradição do
sindicalismo revolucionário e, para alguns, mais próximos do
espanhol Joaquin Maurín que de Trotsky. Mesmo assim, eles
constituíram-se em um pedaço do PC cubano que dele se separou.

Aqui não é o caso de narrar em detalhes a divisão do
partido chileno em duas frações rivais reivindicando ambas o título
de partido e que foram chamadas, a partir do nome de seus
dirigentes, o PC-Hidalgo e o PC-Lafferte.25 Estas duas frações
voltaram-se uma contra a outra, combatendo-se furiosamente,
durante um duro período de repressão que abalou ambas e
dizimou suas fileiras, a respeito da política do “terceiro período”
e de suas conseqü.ncias no Chile. Foi ao final desse conflito 3/4
que por vezes teve aspectos de querela de legitimidade 3/4 que os
partidários do senador Hidalgo, informados das divergências
mundiais através de suas ligações com Nin e pela leitura da revista
espanhola Comunismo, optaram pela Oposição de Esquerda no
momento em que esta se preparava a chamar pela formação de
novos partidos comunistas e de uma nova internacional, a quarta.

Estas organizações jogaram um papel relativamente
importante na história contemporânea de seus respectivos países.
A Izquierda Comunista do Chile inscreveu-se nas lutas dos
operários da construção civil, em particular dos pedreiros de
Santiago, e seu famoso “comitê único”, assim como nos primeiros
esforços de organização autônoma dos camponeses. Seu papel não
foi negligenciável em escala nacional e diz-se que, quando da
efêmera república socialista de 1932, o chefe da Junta Militar de
esquerda, Marmaduke Grove26, lhe propôs a entrada no governo
provisório, à qual opôs um programa de reivindicações de
transição. A mesma Izquierda Comunista teve um papel
determinante em 1935 na constituição do Bloco de Esquerdas, que
foi o antecessor da Frente Popular no Chile.

Os trotskistas cubanos estiveram tão presentes na
revolução a partir de agosto de 1933 que, desde então, seus quadros
operários, cobiçados ou cortejados, foram objeto de tentativas de
corrupção aberta ou dissimilada por parte das formações
nacionalistas. Os trotskistas controlavam a Federação Operária
de Havana, que propôs, no verão de 1933, um “programa operário”
que não tinha equivalente nessa época 3/4 antes do programa de
ação para a França. Quanto aos trotskistas brasileiros, eles jogaram
um papel determinante na resistência organizada às primeiras
ondas fascistas e à tentativa dos camisas-verdes de Plínio Salgado
de impor-se nas ruas. Seu papel na constituição da Coligação
Proletária paulista em 1934 3/4 agrupando sindicatos, formações
políticas, socialistas, comunistas, stalinistas e trotskistas, e
anarquistas 3/4 ficou na história de seu país do mesmo modo que
a batalha da Praça da Sé de 7 de outubro de 1934, no centro de São
Paulo, na qual eles jogaram um papel determinante na vitória sobre
as tropas de choque do fascismo.

Estas grandes seções da Oposição de Esquerda, que
indicamos poderem sustentar numericamente comparação com
os partidos da Internacional Comunista (IC), são, ao mesmo tempo,
de uma extraordinária fragilidade política e elas tiveram, enquanto
grandes organizações, uma existência efêmera.
Logo após os combates de rua de 7 de outubro de 1934
explode uma grave crise política na Liga brasileira a respeito do
“política militar”, o modo pelo qual foi precisamente concebido o
combate contra os fascistas. Aristides Lobo, Rachel de Queiroz, Victor
de Azevedo27 julgaram esta política “aventurista”, acusando seus
camaradas de brincar de “guerra”. A seção brasileira não se
recuperou deste conflito que tomou um caráter de grande virulência
neste contexto e provocou sua explosão, sua desintegração, em
algumas semanas: ela foi posta na clandestinidade em novembro de
1935, sem ter tempo de tratar de suas feridas.

A seção cubana se decompôs, também, rapidamente, desde
1933, sob a impulsão de seu agrupamento estudantil, a Ala
Izquierda Estudantil, e daqueles seus dirigentes que então
preconizavam uma política “entrista”, que justificavam pelas
condições específicas de Cuba, e lançaram a fórmula da
“construção da IV Internacional pela via externa”. Uma importante
fração deste jovem partido acreditou ter descoberto uma via
expressa de acesso ao poder, a real, via rumo às massas, na nova
organização nacionalista de tendências golpistas Joven Cuba,
fundada pelo célebre Antônio Guiteras28, porta-bandeira dos
elementos de esquerda do governo provisório. Um relato de época
nos dá uma descrição detalhada da decomposição desta
organização de vanguarda. Ele conta minuciosamente como o
secretário-geral do PBL, um jovem de 24 anos, Marcos Garcia
Villareal, se tornou culpado de se casar na Igreja e... de anunciá-lo
na imprensa, e como ele foi “deposto”, em 2 de fevereiro de 1935,
por um “golpe de Estado” conduzido pelas estruturas desse
pequeno partido que seus dirigentes abandonaram um após o
outro. Desde essa época, fica claro que os antigos quadros operários
do PBL já haviam transitado ou para Joven Cuba ou para o partido
dito “revolucionário” dos “autênticos” 3/4 formação nacionalista
burguesa de esquerda, mais moderada que aquela de Guiteras 3/4,
no qual se encontrará, mais tarde, não apenas Sandalio Junco, que
se tornaria seu “responsável operário”, mas Eusébio Mujal, que
acabaria mais à direita, ao lado de Batista.

Indicamos acima o papel dos trotskistas chilenos na
formação do Bloco de Esquerdas. Foi durante este período que
eles buscaram de todo modo aliar-se ao Partido Socialista do Chile,
que vinha de se constituir, e que se recusara a aderir à II
Internacional. Foi em 1936 que eles decidiram formalmente se
fundir, como já antes havia temido Andrés Nin, o qual, em nome
dos trotskistas, já havia criticado sua orientação em direção ao
Bloco das Esquerdas. Em 1936, a experiência, um pouco
“adaptada”, do ‘tournant’ francês de entrismo no Partido Socialista
Seção Francesa da Internacional Operária (SFIO), o nascimento do
Partido Obrero de Unificación Marxista (POUM) com a entrada da
Izquierda Comunista, a assinatura pelo POUM do bloco eleitoral
das esquerdas, anunciadora da Frente Popular espanhola, foram
invocadas para justificar o que de fato era pura e simplesmente
uma autodissolução. Em todo o caso, ficou claro que vários chefes
históricos, pelo menos Hidalgo e Mendoza29, não entraram no
Partido Socialista para transformá-lo, mas apenas para integrá-lo
a uma força política que iria fazer deles, em curto prazo,
embaixadores e ministros.

A violência da repressão que caracteriza as sociedades
latino-americanas foi evidentemente um elemento de explicação
destes rápidos desmoronamentos e, de certo modo, definitivos.
No Chile, militantes foram assassinados, José Lopez Cáceres, por
exemplo, outros, como Humberto Valenzuela e Humilde Figueroa
saíram enfermos das mãos da polícia. No Brasil, o operário Manoel
Medeiros morreu na prisão em condições particularmente atrozes,
enquanto seu camarada italiano Goffredo Rosini, deportado para
a Espanha, aí desapareceu.30 Os cubanos também evocavam seus
mártires: Crescencio Freire, morto em 1935, Américo Labadi,
Gastón Medina, Nieves Otero, sobre os quais nada sabemos, e
também os militantes Andrade e Blanco assassinados em El
Salvador. Mas a causa do fracasso destas organizações é
eminentemente política. Ramos separados dos PCs com todas as
fraquezas das organizações comunistas da época, já marcadas pelo
stalinismo, as seções da Oposição de Esquerda não tinham nem a
base teórica nem a formação prática que lhes permitisse fazer face
vitoriosamente a todas pressões que sobre eles pesavam. Foi a
violenta oposição de uma fração sectária que atingiu a seção
brasileira, e as de Cuba e do Chile suicidaram-se ao colocarem-se
a serviço de forças sociais que não eram as da classe operária.

É claro que o movimento trotskista não desapareceu
totalmente com o desmoronamento das grandes seções. No Brasil,
Mário Pedrosa conseguiu escapar da prisão e continuou uma
corajosa e perigosa atividade clandestina, reuniu os que
conseguiram escapar da repressão no Partido Operário Leninista;
quando ele se exilou em 1938, havia em liberdade apenas uns
poucos militantes da primeira geração trotskista, que iriam juntarse
nesta data à segunda geração, a de Sacchetta e do Comitê
Regional de São Paulo. O trotskismo não fora liquidado em Cuba.
Este foi um dos testemunhos dados, por exemplo, pelo livro sobre
a Guerra Civil espanhola escrito por um dos seus e que aí combateu
no POUM, Juan Ramón Breá.31 O testemunham igualmente as
silhuetas que entrevimos nos papéis do Octavio Fernández em
Harvard, de Pérez Santiesteban, de Bodernea, e particularmente
de Pablo Díaz González, chamado Lassale, este negro secretário
do Sindicato dos Operários Tintureiros, que foi mais tarde

tesoureiro da expedição do Granma.

No Chile, a liquidação da Izquierda Comunista no Partido
Socialista não se fez sem resistências. Mais uma vez, esta última
foi inspirada pelo Comitê Regional de Santiago, a partir de outubro
de 1935, sob a impulsão de Enrique Sepúlveda (Diego Henríquez)32
que recebeu mais tarde o reforço dos jovens socialistas dirigidos por
Abraham Pimstein.33 O Partido Obrero Revolucionário (POR-Chile),
seção chilena da IV Internacional, nasceu de seus esforços em 1938,
mas no Chile, como em outros países da América Latina, dali em
diante fora a hora do crescimento das cisões e das rivalidades de
grupelhos.

Assim, a primeira categoria destacada entre as
organizações trotskistas latino-americanas, a das grandes
organizações, desapareceu ao fim de alguns anos resultando na
segunda, a dos pequenos grupos dominados pelas rivalidades
pessoais e querelas fracionais entre pequenos chefes.
O caso mais conhecido é o do que se pode chamar de
“fracionismo” argentino, estudado por Osvaldo Coggiola. As
condições gerais, à primeira vista, não eram mais desfavoráveis
ao trabalho da Oposição na Argentina do que no Chile ou no Brasil.

Em 1925, uma primeira cisão do Partido Comunista argentino
reuniu em torno do Partido Comunista Obrero e de seu jornal La
Chispa militantes 3/4 “los chispistas” 3/4 que se encontrarão mais
tarde nas fileiras trotskistas, como o intelectual Raurich ou o
operário Mateo Fossa. Este agrupamento à esquerda foi efêmero.
Uma nova oportunidade nasceu com outra cisão, quando do
nascimento, em 1927, em torno de José F. Penelón, o único vereador
comunista de Buenos Aires34, do Partido Comunista de la Región
Argentina (PCRA), ao qual não faltavam quadros operários. Mas
seus dirigentes recusavam explicitamente tudo o que poderia
servir para negar a seu partido o caráter “nacional” das bases de
sua existência. Tomada de posição fortuita, refletindo um estado
de espírito próprio a seus homens, ou, ao contrário, tendência
permanente, marca da sociedade argentina? Finalmente, em 1929,
foi do seio do PCRA que saiu o Comitê Comunista de Izquierda,
primeiro grupo argentino ligado à Oposição Internacional, com
os irmãos Guinney, Pedro Manulis e Camilo López, que editava
La Verdad e apareceu como uma “fração pública” do PC argentino.

Sem dúvida Coggiola tem razão em sublinhar que o golpe
de Estado do general Uriburu, em 6 de dezembro de 1930, deixou
este pequeno grupo nas piores condições para agir e comprometeu
o futuro do movimento trotskista neste decisivo momento de sua
história. Mas a repressão que se desencadeou na Argentina a partir
de 1930 não basta para explicar porque Raurich e Gallo, de volta da
Espanha, onde haviam sido conquistados por Nin e sua organização,
trataram com desprezo os membros da Izquierda Comunista
Argentina (ICA) e formaram uma segunda organização concorrente.

Ela não explica, ainda, recém-excluído do PCA, em 1932, o militante
Pedro Milesi35, entrando com seus partidários na ICA para dar um
golpe de estado branco, ao fim de uma assembléia geral. É preciso
dizê-lo: muitos dos episódios destacados na história dos grupos que,
na Argentina, se reclamam do trotskismo, revelam uma
irresponsabilidade política que tem incontestavelmente raízes sociais
e só pode introduzir-se no seio do movimento operário, ao qual ela
é estranha, sob a cobertura das chamadas tradições “nacionais”.

Deixando de lado os problemas colocados, na Argentina como em
outros lugares, a partir de 1936-1937, por meio do debate sobre o
“entrismo” e o novo papel do Partido Socialista Operário, nós nos
contentaremos em relevar que o movimento argentino, esmigalhado
em frações rivais e inundado de epítetos coloridos e vigorosos,
produziu nesta época dois militantes fora do comum.
Liborio Justo36 3/4 Quebracho no trotskismo 3/4 é um
intelectual argentino clássico e um privilegiado de nascença. Filho
de um oficial que se tornou presidente da República, pôde viajar
para a Europa e os Estados Unidos. Membro do PC, em 1935
aproximou-se dos trotskistas e sofreu a influência dos ultraesquerdistas
americanos reunidos em torno de Hugo Oehler.37
Ficou muito conhecido o episódio quando, no curso de uma recepção
oferecida no palácio presidencial por seu pai ao presidente Roosevelt,
gritou no microfone: Abaixo o Imperialismo Ianque. Em novembro de
1936 rompeu oficialmente e publicamente com o stalinismo e voltouse
para a IV Internacional. As condições de sua adesão e suas
qualidades pessoais permitiram pensar que ele seria o unificador
dos trotskistas na Argentina. Ele acabou sendo um fator virulento
suplementar, pela sua inteligência, seu talento de polemista, seu gosto
pelas lutas fracionais e os epítetos espetaculares. Trotsky e ele jamais
se encontraram.

Mateo Fossa38, que durante vários anos esteve junto a
Quebracho, foi completamente diferente. Militante operário,
secretário da Federação dos Madeireiros, militante do Partido
Socialista, do PC, do Partido Comunista Obrero, depois do Partido
Socialista Obrero, cisão à esquerda do PS, após ter animado a Liga
Anti-Imperialista e ter tido sua quota de prisão, foi, por sua vez,
um homem muito aberto e muito duro. Enviado ao México,
quando do congresso de fundação da central latino-americana
Confederación de los Trabajadores de América Latina, pelo comitê
de coordenação dos sindicatos independentes argentinos, este
antigo presidente do congresso constitutivo da Confederación
General del Trabajo (CGT) em 1936 foi expulso, na sua chegada à
sala do congresso mexicano, pela segurança, devidamente
prevenida de sua presença. Suas peregrinações no México 3/4 onde
não tinha sequer um peso 3/4 o levaram finalmente à casa de
Coyoacán e aí se encontrou durante três vezes com Trotsky em
setembro de 1938, saindo daí trotskista convicto até sua morte.

Na hora do balanço provisório, a coragem, a honestidade, a
fidelidade de Mateo Fossa, que sobressaem tanto de sua narrativa
como de outros documentos, dão, felizmente, uma imagem
completamente diferente daquela das lutas entre caudilhos de
seitas rivais, estes “agitadores de café”, como ele disse a Trotsky,
se excomungando uns aos outros em nome da ortodoxia, mas dos
quais um tão grande número fez em seguida carreira nas fileiras
peronistas e socialistas e até stalinistas.

A história da seção mexicana antes de 1940 manifestou
provavelmente um fracionalismo menos virulento, mas as
rivalidades e querelas pessoais tiveram igualmente um lugar
desproporcional. Nota-se igualmente uma influência mais direta
da vida política espanhola. Robert Alexander em seu livro
descreveu o núcleo constituído em torno de Negrete sem ter
compreendido o papel de Golod nem ter entrevisto a importância
do depoimento de Manuel Rodríguez sobre o pertencimento de
Mella. Foi, no entanto, Golod-González que encarnou, de certa
forma, a continuidade mexicana, pois foi ele quem, de Nova
Iorque, orientou os dois estudantes, Luciano Galicia e Octavio
Fernández39, conquistados pela leitura de Comunismo, a partir de
1933. Foi com sua ajuda e seus conselhos que ele tentaram 3/4
quantas vezes? 3/4 erguer uma Liga mexicana, cujas periódicas
destruições são tão fantásticas como os restabelecimentos e
dramáticas como as crises as quais os arquivos de Octavio
Fernández permitem seguir o desenvolvimento e a sucessão.

Em 1936, no entanto, na véspera da chegada de Trotsky,
as coisas pareceram tomar um bom caminho pela primeira vez. A
velha geração, ligada por intermédio de Negrete ao grupo de
Oehler em Nova Iorque, ficou de um lado. Do outro, Fernández e
Galicia, reconciliados pelo sucesso, ficaram com o movimento pela
4ª Internacional, do qual eram a seção oficial, e a seção americana
cujos militantes “entraram” no Partido Socialista. No mês de
setembro, atrás de Diego Rivera40 e Frida Kahlo, e graças a eles, a
Liga mexicana recrutou dezenas de trabalhadores da construção
civil, especialmente o núcleo dirigente da Casa Del Pueblo. A seção
mexicana parecia então deter todos os trunfos no momento em
que Trotsky desembarcou: porta-bandeiras prestigiosos, meios
financeiros, homens de grande capacidade, base operária,
amizades em um largo círculo. No entanto, ela se desmantelou
em alguns meses.

A instalação de Trotsky em Coyoacán, que, aliás, pareceu
em primeiro lugar aos trotskistas mexicanos um presente caído
do céu, marcou realmente o início de uma grave crise que viu,
sucessivamente, sua autodissolução, sua reconstituição, depois sua
dissolução por uma conferência mundial, e os arquivos de Octavio
Fernández trazem sobre tais peripécias uma abundante
informação.

Foi em abril de 1937 que as coisas começaram a se
deteriorar. A direção da Liga, sob impulsão, precisamente, de
Galicia, editou um panfleto contra o custo de vida, a inflação que
devorava os salários e espalhava a miséria. O texto chamava à
“ação direta” contra o governo de Cárdenas41, apontando-o como
responsável pela miséria popular. Foi, recordemos, imediatamente
após os dois primeiros processos de Moscou, das tentativas dos
stalinistas de obter a expulsão de Trotsky do México ligando sua
atividade política à difusão do terrorismo e da violência. A política,
evidentemente sumária em si mesma, de Galicia deu,
incontestavelmente, armas aos stalinistas, colocou em perigo o
asilo de Trotsky, arriscou isolar perigosamente a seção mexicana
opondo-a de frente em relação à corrente antiimperialista que
Cárdenas conduzia no conflito que amadurecia em torno do
petróleo mexicano. Trotsky não hesitou: em uma carta a Diego
Rivera rompeu pessoalmente com a seção mexicana. A direção
desta conclui que ele sacrificava os interesses dos operários e dos
camponeses mexicanos às exigências de sua própria segurança e
apoiou Cárdenas para conservar seu asilo: foi, em todo o caso, o
que disse Galicia e que não poucas pessoas pensavam desse modo.

Não é o caso de buscar aqui retraçar, mesmo em linhas
gerais, esta penosa pré-história que será estudada a fundo em outro
contexto. A rivalidade entre Galicia e Octavio Fernández, que o
primeiro acusava de ser homem de Trotsky, preencheria muitos
volumes. Devemos apenas destacar que foi para romper um
perigoso isolamento político no continente latino-americano, bem
como para preparar as condições da reconstrução de uma seção
mexicana, que Trotsky se incumbirá da publicação de Clave.

Qual foi a situação nos outros países da América Latina
ao longo dos dois anos de publicação de Clave, que também foram
os dois últimos da vida de Trotsky? O fichário dos assinantes de
Clave, conservado na coleção-satélite Octavio Fernández da
Houghton Library, nos deu preciosas indicações, mas abriu mais
caminhos de pesquisa inconclusos. Além dos elementos que
esboçamos acima em relação ao “grandes países” e certas “grandes
seções” ele trouxe importantes elementos. O verdadeiro
nascimento do trotskismo na Bolívia situou-se ao fim deste
período, e já mencionamos José Aguirre, mas também Asbun e
Lora. Qual a ligação existente entre a correspondência Mariateguí-
Naville do final dos anos 1920 e a aparição, em 1939, do periódico
peruano Izquierda Roja, órgão da clandestina Liga de los
Trabajadores Revolucionários? O poeta Juan Luis Velázquez,
peruano, vivia então no México e não encontramos nenhum
endereço peruano no fichário. Robert Alexander menciona o
nascimento, em 1938, de uma organização uruguaia em torno de
Esteban Kichich, presidente do sindicato dos metalúrgicos em
1940, um emigrado de origem iugoslava. O fichário e a
correspondência de Octavio Fernández mencionavam vários
endereços no Uruguai e especialmente o de um Esteban Vilitch:
coisas de pseudônimo? Aguardamos de Diógenes de la Rosa
detalhes sobre a situação no Panamá, onde Clave possuía muitos
assinantes. Ao contrário, nada há nem em El Salvador, onde se
sabe da passagem de trotskistas cubanos, nem no Equador, onde
um grupo constituiu-se em 1934.42 Havia uma seção ativa na
Colômbia que tentou trazer Trotsky. Em Porto Rico, Luís Vergne
Ortiz destacou-se pela constância e a regularidade de sua
correspondência. Ainda se encontra no fichário de Clave o nome
de um assinante de San José da Costa Rica que recebeu uma grande
remessa da revista. Parece também que nenhuma literatura
trotskista tenha penetrado antes de 1940 em São Domingos ou
Haiti, na Venezuela ou no Paraguai, assim como em Honduras ou
na Nicarágua.

Haveria, como pretendem alguns, uma “excepcionalidade”
do trotskismo latino-americano? Não creio, embora incontestavelmente
os trotskistas latino-americanos sejam muito diferentes de
seus camaradas de outros continentes.

É verdade que na América Latina as violências dos
stalinistas parecem ter começado mais cedo que em outros lugares.
Talvez por que a violência fosse um elemento constituinte da vida
política? Deixemos de lado a questão do assassinato de Julio
Antonio Mella e a hipótese segundo a qual o jovem dirigente
cubano teria sido assassinado pelos stalinistas.43 Desde 1931, a
fração Hidalgo, no Chile, acusava os laffertistas do assassinato
do jovem operário da construção civil López Cáceres.

Incontestavelmente, os trotskistas inseriram-se em um corpo social
marcado pela violência e as armas de fogo. Do mesmo modo os
estudantes Galicia e Fernández, antes que se conformar de antemão
com uma surra prometida, foram, de revólver no bolso, à reunião
de célula que os iria excluir do PC mexicano. E foi um antigo
membro do PBL cubano, Emilio Tró que fundou a organização
terrorista estudantil Unión Insurreccional Revolucionária 3/4
espécie de continuação de Joven Cuba 3/4 na qual o jovem Fidel
Castro dará seus primeiros passos na política e na “luta armada”.44

Para o restante, digo francamente que o fracionalismo
argentino não me pareceu mais virulento que o dos austríacos, e
que o épico duelo entre os mexicanos Galicia e Fernández só
sobrepujou o que opôs Molinier a Naville pela superioridade das
cores mexicanas e a incontestável e infinita variedade da injúria e
da diatribe.

De fato, se segmentos inteiros se separaram dos partidos
comunistas da América Latina ao longo dos anos 1930 foi porque
os partidos comunistas aí se formaram tardiamente, porque os
quadros stalinistas ainda não estavam formados, que alguns deles
puderam, como os militantes, ser sensíveis aos argumentos dos
trotskistas. Além disso, não existiu em nenhuma parte do
movimento operário da América Latina um sério obstáculo socialdemocrata
e todo operário que soubesse um pouco de política
poderia, com relativa facilidade, conquistar posições sindicais. Tudo
isto foi verdade apenas por um tempo. A história do século XX foi
uma história mundial: a política dos partidos comunistas favoreceu
o desenvolvimento de formações “socialistas” e sobretudo
“populistas”, nacionalistas que atraíram a base e freqüentemente
seduziram os quadros trotskistas. A 4ª Internacional na América
Latina em 1940, apesar dos malogrados inícios da Oposição de
Esquerda em muitos países, foi sem dúvida um grau acima daquele
de então em outros continentes: o universo particular do
trotskismo latino-americano retomou seu lugar.

As condições de clandestinidade ou semiclandestinidade
nas quais, depois de 1939, viveram ou sobreviveram a maioria
das seções da América Latina, irão, por outro lado, amplificar as
conseqü.ncias da cisão internacional ocorrida em seguida àquela
do SWP em 1940. Membro do Secretariado Internacional desde
1938, Mario Pedrosa, “o camarada Lebrun”, colocou-se com Max
Shachtman ao lado do Workers Party nascido da cisão. Isto explica
sem dúvida o sucesso da conferência organizada em Lima pelos
schachtmanianos, onde alguns pareciam estar sem saber que
houvera uma cisão no plano internacional.

De todo modo, não foi mais de Moscou, nem do resto da
Europa que vieram as influências revolucionárias. Foi de Nova
Iorque que vieram impulso e organização, a partir dos escritórios
e departamentos especializados do Socialist Workers Party de
Cannon e do Workers Party de Shachtman. A guerra,
interrompendo praticamente as relações com a velha Europa,
corrigiu a última aberração saliente no desenvolvimento do
movimento trotskista na América Latina: a 4ª Internacional não
vinha mais com os ventos do Leste, mas sim com os do Norte. A
impulsão trotskista na América Latina veio daí então das
organizações que estavam no coração do imperialismo ianque, o
qual, precisamente, dominava este continente. Em 1935 foi em vão
que o dirigente do Workers Party, A. J. Muste tentou impedir a
direção da seção cubana de se engajar no caminho fatal da
dissolução no movimento nacionalista.45 Em 1940 foi em Nova
Iorque que os homens representativos da terceira geração, os
mexicanos Manuel Alvarado e Luis Pérez Yañez46, foram
definitivamente conquistados; e foi Nova Iorque que enviou à
América Latina um homem que a marcou durante todo um
período da história trotskista, Sherry Mangan. Mas esta é outra
história que começa.

Tradução de Dainis Karepovs


NOTAS:
1 Pierre Broué (1926-2005), militante e historiador trotskista, foi professor do
Institut d’Études Politiques (IEP) de Grenoble, França. O texto aqui
reproduzido foi publicado originalmente nos Cahiers Leon Trotsky, Grenoble,
n. 11, p.13-30, sept. 1982. (N. do Ed.).
2 O ponto de partida deste artigo foi uma comunicação que apresentei no
Colóquio Internacional sobre o Movimento Operário Latino-Americano
realizado em Caracas, na Universidade Central, de 23 de outubro a 2 de
novembro de 1980. Em sua redação aproveitei as observações e críticas
formuladas durante a discussão, particularmente por Adolfo Gilly,
Alejandro Gálvez e Luis Vitale. Esta comunicação e este artigo tiveram
apenas a pretensão de traçar grandes linhas de pesquisa.
3 Na França, Pierre Broué, através do Institut Leon Trotsky, de Grenoble,
editou 27 volumes das Obras de Trotsky (24 volumes da 1ª série ? de março
de 1933 a agosto de 1940 - e 3 da 2ª série, de janeiro de 1928 a maio de 1929).
(N. do Ed.).
4 O autor refere-se ao Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), da Universidade
Estadual de Campinas a partir da chegada dos documentos de Hermínio
Sacchetta. (N. Ed.).
5 ALEXANDER, R. J. Trotskyism in Latin America. Stanford: Hoover Institution
Press, 1973. 303 p.
6 A coleção de entrevistas foi depositada no Special Collections and University
Archives, Rutgers University, New Brunswick, NJ e reproduzida para
comercialização pela IDC Publishers. O AEL possui em 15 rolos de
microfilmes, as 213 entrevistas da Interviews Collection Robert Alexander
[Robert Jackson Alexander], relativos ao período entre 1947 e 1994. Cf.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Arquivo Edgard Leuenroth.
Coleção Interviews Collection. Disponível em: <http://
www.ifch.unicamp.br/ael/website-ael_icra/website-ael_icra.htm>. Acesso
em: 11 jan. 2007. (N. do Ed.).
7 Citemos, entre outras, a dissertação de mestrado de Osvaldo COGGIOLA,
L’opposition de gauche em Argentine (1930-1943), feita na Universidade de
Paris VII, sob orientação de Madeleine Reberioux, e a tese em preparação
de Olívia Gall, em Grenoble, sobre Trotsky e a política mexicana.
8 Entre os que nos receberam e longamente responderam, gostaria de
mencionar, no Brasil: Fulvio Abramo, Victor de Azevedo, Plínio Mello, Mário
Pedrosa; no México: Octavio Fernández e Manuel Alvarado; pelo Chile:
Abraham Pimstein Lamm, que encontrei em Caracas. Alguns, raros, é
verdade, não responderam.
9 PARES, C. H. Théorie marxiste et pratique politique en Amérique latine. 1980.
Tese. (Doutorado em Ciência Política) Grenoble, 1980; CABALLERO, M. La
Internacional Comunista y América Latina: la sección venezoelana. México (DF):
Pasado y Presente, 1978.
10 Rodolpho de Morais Coutinho, estudante em Recife, onde animou um grupo
marxista e fundou um grupo comunista em 1919; delegado no Congresso
de fundação do PCB em 1922, foi eleito suplente do executivo, que o delegou
para ir a Moscou em 1924. Retornou em 1927, bem informado a respeito da
Oposição de Esquerda na URSS, e se consagrou ao ensino e à juventude, e
posteriormente às ligas camponesas. Mas, gravemente enfermo, logo
abandonou suas atividades.
11 Sandalio Junco (1900-1942) padeiro, foi uma das mais importantes figuras
do partido cubano a partir dos anos 1920 como secretário internacional da
Confederación Nacional de los Obreros de Cuba. Ele esteve em Moscou e,
convencido por Nin, teria aí vivamente repreendido Stalin a propósito da
repressão contra a Oposição. Viveu no México em 1928 e participou, em
1929, da Conferência de Montevidéu. Retornou a Cuba em 1932, foi excluído
do Partido Comunista, fundou a Oposição de Esquerda, que iria tornar-se
o Partido Bolchevique-Leninista Cubano. Em agosto de 1933 ele dirigia a
Federación Obrera de La Habana. Pouco depois rompeu com o Partido
Bolchevique-Leninista, aderindo à organização Joven Cuba, da qual era o
secretário-operário, mais tarde Partido Autêntico, onde exerceu as mesmas
funções. Foi assassinado durante um comício.
12 Russell Blackwell, chamado Rosalio Negrete (1904-1969), militante do PC
americano e organizador dos “pioneiros”, foi enviado ao México em fins
dos anos 1920. Foi aí que tomou contato epistolar com os trotskistas
americanos e fundou a Oposição de Esquerda no México. Excluído do PC
em 1930, foi logo em seguida expulso do México. A partir de 1935 militou
no grupo organizado por Hugo Oehler e nele buscou reunir os grupos
latino-americanos. Foi para a Espanha em 1937, onde ficou preso em 1938
e 1939.
13 Roberto Guinney (1868-1933) nascido na Grã-Bretanha, passou sua
juventude na Rússia antes de voltar à Grã-Bretanha; conheceu Kropotkin e
Tom Mann. Emigrou para a Argentina, onde aderiu ao PC em 1923 e deixou-o
em 1927, com Penelón, pelo Partido Comunista Revolucionário Argentino,
onde se tornou administrador de seu jornal Adelante. Fundador do Comitê
de Oposição Comunista em 1929 juntou-se formalmente no mesmo ano à
Oposição Internacional e constituiu o grupo que publicava La Verdad em
março de 1930 e se chamou Esquerda Comunista Argentina. Um membro
deste grupo, o operário Pedro Manulis, teve uma estreita correspondência,
em russo, com Trotsky, em 1929 e 1930.
14 Manuel Fernández Grandizo, chamado G. Munis (nascido em 1912) era
filho de imigrantes espanhóis no México. Ele retornou à Espanha como
estudante e juntou-se à Oposição de esquerda em 1930. Partidário do
“entrismo” nas Juventudes Socialistas em 1935, não foi para o POUM com
seus camaradas da Izquierda Comunista de España (ICE) e voltou ao México
em julho de 1936 para retornar em setembro com o primeiro carregamento
de armas. Depois de ter combatido nas milícias das Juventud Socialista (JS)
no front de Madrid, ele organizou o grupo Bolchevique Leninista (BL) de
Barcelona e editou La Voz Leninista. Preso em fevereiro de 1938, acusado do
assassinato do agente da Administração Política do Estado (GPU, em russo),
Leon Narvitch, fugiu no início de 1939, quando da derrocada da Catalunha.
Participou da chamada Conferência de Alarme, da 4ª Internacional, em maio
de 1940; falou na cerimônia de incineração dos restos de Trotsky no Panteão;
depois dirigiu a seção mexicana e o grupo espanhol do México até sua
ruptura com a 4ª Internacional em 1947.
15 Juan Luis Velázquez (nascido em 1903) peruano, foi à Europa e militou no
PC espanhol, depois na Alemanha e sensibilizou-se com as críticas da
Oposição de Esquerda contra a linha stalinista. Ele não conseguiu entrar
na Espanha em 1936. Fixou-se no México, onde conheceu Trotsky e militou
na seção mexicana até 1942.
16 Héctor Raurich, brilhante intelectual, que impressionou seus
contemporâneos, militou na Argentina com os “chispistas” antes de ir
estudar na Espanha onde reencontrou a Oposição de Esquerda. Como ele,
Antonio Gallo, chamado Ontiveros (nascido em 1913) foi ganho na Espanha
por Nin. Em seu retorno, em 1932, Raurich e Gallo recusaram-se a se juntar
ao grupo de Guinney sem razão política aparentemente fundamentada e
fundaram a Liga Comunista Internacionalista - Sección Argentina, que
publicou Nueva Etapa. Eles acabaram juntando-se à social-democracia após
a guerra.
17 Charles Curtiss, chamado Carlos Cortes (nascido em 1908) linotipista na
Califórnia, falando bem o espanhol, foi enviado ao México pela Communist
League of America (CLA) em 1934, mas o grupo que ele conseguiu organizar
acabou desmantelado pela polícia. Voltou aos Estados Unidos. De 1938 a
1939 ele foi o delegado do Secretariado Internacional no Comitê Pan-Americano
da 4ª Internacional no México. Foi secretário nacional do SWP em 1941.
Saiu desta organização para juntar-se ao Partido Socialista em 1951.
18 José Aguirre Gainsborg, chamado Maximiliano Fernández (1909-1938) filho
de um diplomata boliviano, estudante de Direito, dirigente do movimento
estudantil, aderiu ao PC em 1930. Preso e expulso do Chile em 1932, juntou-se à
Izquierda Comunista. Tendo recrutado outros exilados bolivianos, foi um dos
organizadores, em Córdoba, em 1938, do congresso de fundação do Partido
Obrero Revolucionário. Retornou pouco depois a seu país, abandonando
rapidamente o POR, então dirigido por Tristan Marof. Morreu em um
acidente automobilístico.
19 Walter Asbun, de origem Síria, pertencia a uma rica família; viveu no Chile,
onde teve seus primeiros contatos com o grupo de Aguirre. Financiou o
movimento em seu princípio. Guillermo Lora (nascido em 1922) estudou
Direito em Cochabamba e tornou-se um dos dirigentes histórico do POR,
autor de Teses de Pulacayo e de uma história do movimento operário
boliviano.
20 Cf. as recordações de Fulvio Abramo em: ABRAMO, F. Construire la IV
Internationale en Amérique Latine: interview de Fulvio Abramo par Pierre
Broué et Victor Leonardi, São Paulo, le 22 avril 1979. Cahiers Leon Trotsky,
Grenoble, n. 11, p. 83-93, set. 1982.
21 João Jorge da Costa Pimenta (1886-1971) mulato, padeiro em Campos,
tornou-se em 1904, tipógrafo no Rio de Janeiro. Inicialmente anarquista,
foi um dos organizadores do 2º Congresso Operário em 1913. Editor de La
Barricada em 1916, um dos organizadores das greves de 1917, membro do
conselho insurrecional em 1918, presidente do 3º Congresso Operário em
1920, foi um dos nove delegados ao congresso de fundação do PC do Brasil
em 1922. Adversário da política do “terceiro período”, foi excluído por ter
participado do grupo de oposição de Joaquim Barbosa. Juntou-se então à
Oposição de esquerda e foi um dos seus dirigentes até sua prisão em 1935.
22 Mário Xavier de Andrade Pedrosa (1905-1981) crítico de arte, foi um dos
mais destacados intelectuais e jovens dirigentes do PC no final dos anos
1920. Desistiu de ir a Moscou após uma estadia na Alemanha e foi à França,
onde encontrou com Boris Souvarine e Pierre Naville. Voltando ao Brasil,
fundou em 1930 a grupo que publica A Lucta de Classe e tornou-se em 1931
a Liga Comunista (Oposição Leninista do Partido Comunista do Brasil).
Frente à ameaça dos camisas-verdes, foi um dos organizadores da Frente
Única Antifascista em São Paulo em 1933 e foi ferido na contramanifestação
de 7 de outubro de 1934. Caiu na clandestinidade em 1935, conseguindo
mais tarde sair do Brasil e chegar à Europa em 1938, onde participou da
conferência que criou em setembro a 4ª Internacional. Eleito para o
Secretariado Internacional, foi então para Nova Iorque e tomou partido,
quando da crise de 1939, em favor da minoria dirigida por Schachtman e
Burnham, o que o levou ao Workers Party quando da cisão de 1940. Lívio
Barreto Xavier (1900-1988) foi conhecido jornalista que aderiu ao PCB em
1927 e juntou-se rapidamente à Oposição de Esquerda. Lívio Abramo (1903-
1992) desenhista e gravador, membro do PC, foi excluído em 1930 por ter
se recusado a representar Trotsky como um cachorro acorrentado a um Tio
Sam. Plínio Gomes de Mello (1900-1993) igualmente jornalista, organizador
das juventudes comunistas e membro do partido em 1927, foi enviado ao
Rio Grande do Sul para aí ser candidato pelo Bloco Operário e Camponês.
Preso e espancado, foi expulso pela polícia e refugiou-se em Montevidéu,
onde participou, em maio de 1930, de uma reunião do Bureau Latino-
Americano da Internacional Comunista. Excluído por sua oposição ao
“terceiro período”, reorganizou legalmente o PCB em novembro de 1930
em São Paulo, o que lhe valeu o qualificativo de “renegado” e de
“trotskista”. Juntou-se à Oposição de Esquerda em 1931 e dirigiu em São
Paulo a grande greve da Light & Power Co., o que resultou na sua prisão.
Foi, ao longo dos anos seguintes, um dos dirigentes do Sindicato dos
Jornalistas. Em 1939 foi um dos raros sãos e salvos da primeira geração a
participar da fundação do Partido Socialista Revolucionário. Rompeu com
o trotskismo em 1943 e depois militou muitos anos no Partido Socialista
Brasileiro, até seu fechamento.
23 Hermínio Sacchetta (1909-1983) filho de um operário italiano emigrado,
entrou para o PCB em 1932, onde logo se tornou secretário regional de
São Paulo e membro do Comitê Central. Aceitou a unidade de ação contra
os integralistas em 1934 e participou pessoalmente da manifestação de 7
de outubro, entrando em conflito com a direção do PCB em razão de sua
oposição à concepção deste última com relação ao papel “progressista”
da “burguesia nacional”. Organizou uma oposição, que contou com cerca
de 300 militantes, a maioria de seus partidários, conduzindo-os, em 1938,
à fundação do Partido Socialista Revolucionário, em agosto de 1939,
tornando-o a seção brasileira da 4ª Internacional. José Stacchini, chamado
Salerno (1916-1988) era na época seu principal colaborador, secretário das
JC de São Paulo. Posteriormente renegou o movimento operário.
24 Julio Antonio Mella (1903-1929) estudante cubano, fundador da Federación
de Estudiantes Universitarios (FEU) em 1923, da Universidade Popular
José Martí em 1924 era uma das figuras mais populares do movimento
comunista cubano dos anos 1920. Ele organizou os trabalhadores do fumo,
fez uma greve de fome para protestar contra a acusação de terrorismo etc.
Refugiado no México, aí freqüentou o grupo constituído em torno de Manuel
Rodríguez e viveu com Tina Modotti, com a qual ele se encontrava quando
foi assassinado em 16 de janeiro de 1929.
25 Elias Gavino Lafferte (1886-1961) operário do salitre, membro do POS antes
da guerra, tornou-se tesoureiro da Federación Obrera Chilena (FOCh) em
1921. A partir de 1929 dirigiu a fração pró-stalinista do partido chileno e
tornou-se secretário geral da FOCh, de 1931 a 1936. Foi senador de 1937 a
1953. Manuel Hidalgo Plaza (1882-1967) marceneiro, membro do partido
socialista em 1912, juntou-se ao PC em seu nascimento e foi eleito senador.
Principal dirigente da fração do PC que levou seu nome e depois se tornou
a Izquierda Comunista. Retornou ao PS, o que, em um primeiro momento,
o fez embaixador no México e depois ministro em 1941.
26 Marmaduke Grove (1878-1954) oficial aviador, foi um dos instigadores do
pronunciamento que derrubou o presidente Alessandri em 1924, depois
daquele que o reinstalou no poder no ano seguinte. Líder dos militares de
esquerda “socializantes”, apoiou em um primeiro momento o general
Ibañez à presidência. Em agosto de 1932, quando era coronel, tomou o
poder com o apoio da aviação e da marinha e proclamou a efêmera
República Socialista do Chile. Posteriormente, foi um dos fundadores do
PS chileno, encarnação de sua ala moderada.
27 Victor de Azevedo Pinheiro (1905-) jornalista, que nunca pertenceu ao PC, foi
um dos dirigentes da Oposição de Esquerda brasileira desde 1930. Aristides
da Silveira Lobo (1905-1968) jornalista, membro do PCB em 1925, depois
secretário do Luiz Carlos Prestes, foi dirigente do PC em São Paulo, depois
impulsionou, em julho de 1930, com Prestes, a Liga de Ação Revolucionária.
Convenceu Prestes de ingressar no PC. Rachel de Queiroz (1910-2003) filha
de fazendeiro, romancista do Ceará, aderiu ao PC em 1930 e foi excluída em
1933 depois da publicação de seu romance João Miguel. Aderiu à Liga
Comunista em 1933.
28 Antônio Guiteras Holmes (1906-1935) nascido nos Estados Unidos, foi para
Cuba em 1913 onde começou seus estudos de medicina e farmácia e se tornou
um dos dirigentes do movimento estudantil em Havana. Membro do Diretório
Estudantil Revolucionário durante a revolução de 1933, tornou-se governador
da província de Oriente, depois, em setembro, Ministro do Interior no governo
nacionalista de esquerda Joven Cuba e foi um dos organizadores da greve
geral insurrecional de março de 1935. Encontrou a morte em um combate
armado contra um destacamento do exército de Batista em 8 de maio de 1935.
Os trotskistas cubanos “sonharam”, nesta época, em conquistá-lo para seu
movimento.
29 Humberto Mendoza Bañados, chamado Jorge Levín (1912-1972) engenheiro
agrônomo, vindo da “fração Hidalgo”, secretário da IC, foi mais tarde
ministro da agricultura em um governo de união nacional.
30 Sobre as circunstâncias da morte em prisão do gráfico Manoel Carreira
Medeiros (1900-1936) e da desaparição do trotskista italiano Goffredo Rosini
(1889-1937), Cf. ABRAMO, 1982, 83-93.
31 LOW, M.; BREÁ, J. R. Red Spanish notebook. Londres, 1937. Breá morreu em
Cuba em 1941.
32 Enrique Sepúlveda, um jovem médico, e seu irmão Arturo, chamado Ismael
Suárez, recusaram a liquidação da Izquierda Comunista.
33 Abraham Pimstein Lamm (nascido em 1914) conduziu as juventudes
socialistas à ruptura com o Partido Socialista e depois à fusão com o POR.
34 José Fernando Penelón (1892-1962) gráfico, durante a 1ª Guerra foi o líder
da tendência pacifista internacionalista do Partido Socialista Argentino,
que em seguida transformou-se no Partido Comunista. Foi eleito em 1922,
para o Comitê Executivo da IC e reeleito em 1924. Combateu a linha ultraesquerdista
do “terceiro período” e foi excluído antes de fundar o Partido
Comunista Revolucionário Argentino (PCRA).
35 O homem que é conhecido no movimento trotskista como Pedro Milesi
(1888-1981) mas também como Pedro Maciel e Eduardo Islas. Nascido em
Buenos Aires, funcionário municipal nesta cidade, inicialmente anarquista
que depois entrou para o PC, dele foi excluído em 1932. Ele, então, entra
com seus partidários no grupo do ICA de Guinney e outros e toma sua
direção. Participou em 1936 da reunificação que deu nascimento ao Partido
Socialista Obrero, mas tomou posição em 1937 contra o “entrismo” e
começou a publicação de Inicial, com um pequeno grupo de militantes.
36 Liborio Justo (1902-2003) filho de um oficial que se tornou presidente da
República argentina em 1932. Estudante de medicina, teve, nos anos 1920,
um papel importante no movimento pela reforma universitária. Viajando
pela Europa, juntou-se ao PC. A partir de 1934 começou a se interessar
pelos trotskistas e grupos ultra-esquerdistas. Após sua ruptura com o
stalinismo em novembro de 1936, organizou, em 7 de novembro de 1937, a
conferência de unificação dos grupos trotskistas argentinos. Rompeu com
a 4ª Internacional em setembro de 1942.
37 Edward Oler, chamado Hugo Oehler (1903-1983), originário de Kansas,
era um dos melhores organizadores sindicais do PC americano. Ficou em
“fração” no PC antes de juntar-se abertamente à CLA; adversário da entrada
na social-democracia, foi excluído em 1935 e fundou a Revolutionary
Workers League.
38 Mateo Fossa (1896-1973).
39 Octavio Fernández Vilchis (1914-2003) começou a militar com a Oposição
de Esquerda quando ele era ainda normalista, em 1932. Ele foi depois desta
época o principal organizador da seção mexicana, cujos efetivos, que nunca
haviam ultrapassado uma dúzia de membros, atingiram a centena. Luciano
Galicia, chamado Rodolfo Blanno e Jorge Santiago (1915-1997) companheiro
do precedente na escola normal, foi depois seu obstinado adversário no
movimento. Foi em razão de sua política que Trotsky rompeu com a seção
mexicana.
40 Diego Rivera, pintor (1886-1957) foi membro do Comitê Central do PC
mexicano, do qual saiu em 1929. Simpatizou com a Oposição de Direita
por meio de seu amigo americano Bertram Wolfe e depois se ligou aos
trotskistas mexicanos após discussões levadas durante um ano. Ele foi
membro do Bureau Político da Liga Comunista Internacionalista. Frida
Kahlo de Rivera (1910-1954) pintora, foi a companheira de Diego e foi em
sua casa azul de Coyoacán que os Trotsky ficaram.
41 Foi o presidente Lázaro Cárdenas que concedeu a Trotsky o asilo político
no México.
42 Carta de A. González a O. Fernández, 3 de junho de 1934. Houghton Library,
coleção-satélite O. Fernández.
43 Como o censurei por não ter mencionado esta hipótese em uma comunicação
apresentada no Primeiro Colóquio Internacional sobre a História do
Movimento Operário Latino-Americano na Universidade de Caracas, em
abril de 1979, Michael Löwy me respondeu que nenhum dos inquietadores
fatos destacados na enquete, especialmente o papel de Tina Modotti e a
possibilidade de uma participação neste episódio de Vittorio Vidali, lhe
pareceram dignos de serem levados em conta porque os stalinistas não
matavam ainda nesta época. Não estudei particularmente este caso e, portanto,
não tenho uma opinião firme e consolidada, mas gostaria ao menos de
dizer que o argumento de Michel Löwy me parece tautológico: se um
inquérito sério demonstrasse que os stalinistas mataram Mella, seria preciso
concluir que eles já matavam, pelo menos em bom método histórico.
44 ALEXANDER, 1973, p. 223.
45 Encontra-se em Harvard toda uma correspondência de “cautela” de Muste
e da seção americana, cujas cópias foram enviadas ao México. Note-se que
a seção americana parece não ter tido qualquer relação com a seção cubana
antes da revolução de agosto de 1933 que derrubou a ditadura de Machado
e levou ao poder o governo provisório de Grau San-Martin.
46 Alvarado, Pérez Yañez e alguns outros, estudantes de economia,
influenciados por seu professor Garcia Treviño dirigiram uma sociedade
estudantil para o estudo do marxismo que valeu aos autores de uma
publicação sua uma surra de marmelo da parte de Trotsky. Ligados à
Oposição de Direita (lovestoniana), que os convidou a uma escola de
formação em Nova Iorque, eles se orientaram, sob a influência de Jan
Frankel, o antigo secretário de Trotsky, rumo à 4ª Internacional.































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