sábado, 7 de julho de 2012

A experiência do Movimento Convergência Socialista


Marcos Moutta de Faria1


RESUMO
O Movimento Convergência Socialista propunha-se a organizar
um movimento de unidade política dos socialistas com vista a
legalização de um amplo e democrático partido político.

PALAVRAS-CHAVE
Movimento Convergência Socialista; Ditadura militar;
Trotskismo, história; Partido dos Trabalhadores



O Movimento Convergência Socialista (MCS) foi
organizado em 1978 e propunha-se reunir um largo espectro de
forças políticas e sociais com o objetivo de fundar um amplo
partido socialista capaz de oferecer uma alternativa ao
bipartidarismo, ainda vigente durante o governo do presidente
Ernesto Geisel.

A conjuntura do período estava marcada por sinais de
declínio político e econômico do regime autoritário iniciado em
1964 e por uma intensa reorganização dos movimentos sociais e
populares. O MCS almejava ocupar os escassos espaços de
atividade legal, tolerados pela distensão política do presidente
Ernesto Geisel, para organizar um novo partido que deveria ser
dotado de funcionamento democrático e de um programa de
inspiração socialista. A organização almejava reunir diversos
agrupamentos políticos e sociais associados às lutas pelo fim do
regime autoritário e norteados pelos ideários socialistas.

O principal estimulador do MCS foi a Liga Operária. Ela
havia sido fundada em finais de 1973, na Argentina, por exilados
brasileiros. Como essa organização mantinha relações com a
internacional de inspiração trotskista, seus posicionamentos serão
mais bem compreendidos após um pequeno resumo dos debates
travados na Internacional.

A fundação da 4ª Internacional foi proposta por Trotsky
após a ascensão de Hitler ao poder, na Alemanha. A partir de
então, ele julgou que não seria mais possível resgatar
politicamente a Internacional Comunista.

A 4ª Internacional foi fundada em 1938 e, diferentemente
das anteriores, nasceu sob o signo de duas derrotas históricas do
proletariado: o surgimento do stalinismo e dos regimes fascistas.
Essas condições políticas adversas impediram que a nova
Internacional alcançasse uma significativa penetração no
movimento comunista internacional.

O trotskismo permaneceu marginalizado pelos segmentos
predominantes no marxismo internacional. Hobsbawm retratou
esse isolamento:

Tornou-se logo claro que deixar o partido comunista, seja por
expulsão ou iniciativa própria, equivalia a pôr fim à atividade
revolucionária efetiva. [...] Aqueles que abandonavam o partido
ficavam esquecidos ou privados de toda ação efetiva, a menos
que aderissem aos ëreformistasí ou se filiassem a algum grupo
abertamente ëburguêsí, caso em que deixavam de interessar aos
revolucionários, ou ao menos que escrevessem livros que
pudessem ou não tornar-se importantes trinta anos mais tarde.

A verdadeira história do trotskismo como tendência política
no movimento comunista internacional é póstuma. Os mais
fortes dentre esses trânsfugas marxistas trabalharam
pacientemente e em isolamento até que os tempos mudassem;
os mais fracos sucumbiram à pressão.3

As possibilidades de consolidação da 4ª Internacional não
melhoraram após a 2ª Guerra Mundial. A liderança de Stálin sobre
o movimento comunista internacional emergiu renovada após a
derrota militar que a URSS impôs à Alemanha. A extensão da
economia planificada aos países do Leste Europeu, após um breve
interregno democrático e de pluralidade política, experimentada
entre os momentos finais da 2ª Guerra Mundial e o início da Guerra
Fria, aconteceu a partir da ocupação desses Estados pelo Exército
Vermelho e não pelo desencadeamento de processos
revolucionários. Esse fenômeno produziu nesses países governos
com pouca liberdade de ação e fortemente dependentes da
aprovação de Stálin. Além disso, a polarização criada pela Guerra
Fria tendia a reproduzir uma lógica que excluía a afirmação de
alternativas.

Na década de 1950 a pequena internacional trotskista
sofreu um intenso processo de fracionamento e em vários países
o movimento trotskista cindiu-se em organizações políticas rivais
entre si. Esse processo iniciou quando, impressionada com o
desenvolvimento da Guerra Fria, a maioria da Internacional
trotskista reformulou a avaliação acerca das ligações que ela
deveria desenvolver com os partidos comunistas e a camada
dirigente da URSS o que a levou a impulsionar a política de
entrismo4 nos partidos comunistas.

A Revolução Cubana e as lutas políticas sob a forma de
guerrilhas desenvolvidas na América Latina aprofundaram as
divisões políticas que afligiam a Internacional trotskista, a qual,
a partir de 1969, passou a adotar, cada vez mais a estratégia que
abraçava a guerrilha como instrumento de ação política.

Essas aproximações com os partidos comunistas e, depois,
com os grupos de guerrilha foram questionadas por minorias da
Internacional trotskista num processo que gerou sucessivas crises
e cisões.

Em seu processo de formação a Liga Operária posicionou-se
em relação às polêmicas que dividiam a Internacional. Formada,
sobretudo por ex-integrantes de organizações que haviam
adotado a luta armada imediata como a solução para o
enfrentamento com a ditadura militar no Brasil, a Liga Operária
manteve, desde seu início, um posicionamento crítico em relação
às teses da guerrilha. A aproximação da Liga Operária de uma
minoria da Internacional trotskista, que era crítica às teorias
foquistas, obedeceu a um processo de amadurecimento político
que esses ativistas iniciaram ainda no Brasil. Mario Pedrosa5 foi
responsável pela aproximação desses brasileiros ao trotskismo
através dos debates que travou com eles e também da criação de
um grupo de discussões políticas: o Ponto de Partida.

A maioria dos membros que integraram o grupo Ponto
de Partida, enquanto estavam exilados no Chile, ao se decidir
integrar a 4ª Internacional, se organizaram numa fração a qual
era integrada pelo Socialist Workers Party (SWP) [dos Estados
Unidos da América] e pelo Partido Socialista dos Trabalhadores
[da Argentina], além de outras organizações. O que estes dois
partidos trotskistas possuíam em comum era, sobretudo, a política
de repúdio à tática de guerrilhas adotada pelo Secretariado
Unificado.6

O surgimento do grupo Ponto de Partida e depois da Liga
Operária deve ser compreendido como uma resultante das
experiências desenvolvidas na luta de classes no Brasil e dos
debates travados no exílio com dirigentes e ativistas políticos. O
estreitamento de relações da Liga Operária com o dirigente
argentino Nahuel Moreno7 deve ser compreendido como um
encontro entre a autocrítica da opção pela guerrilha, realizada
pelos integrantes da Liga Operária, e a posição crítica que esse
dirigente manteve em relação à teoria do foco revolucionário.8

A Liga Operária iniciou suas atividades no Brasil sob o
governo do general Ernesto Geisel. Ela avaliava que a liberalização
política proposta, desde meados de 1973, expressava sinais de
enfraquecimento do projeto ditatorial. No Brasil, a opção pela luta
armada já estava sendo abandonada pelas organizações de esquerda
entre as quais se fortalecia a tendência a buscar os canais de luta
política legal. Seus esforços estavam sendo direcionados para a
tentativa de ampliar os espaços de legalidade, romper a
clandestinidade e garantir um espaço público e aberto para a disputa
política. Isso implicava intensa disputa entre as organizações
revolucionárias porque persistia, entre uma parte dos ativistas
políticos no Brasil, um comportamento que privilegiava a
clandestinidade e a recusa formal a qualquer participação em
instituições controladas pelos governos autoritários, quer fossem
eleições parlamentares, quer fossem os sindicatos oficiais.
Em 1974 foram realizadas eleições parlamentares no Brasil.

Nelas renovou-se a composição da Câmara Federal e um terço das
cadeiras no Senado Federal. A Liga Operária decidiu participar
dessas eleições argumentando que sendo:

A ditadura militar nosso principal inimigo, chamamos todos os
setores populares a se unirem em torno de um programa claro,
que ajude a mobilizar a classe trabalhadora e apoiando os
candidatos operários do MDB.9

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) obteve uma
importante vitória naquelas eleições. Esse resultado eleitoral
dividiu o poder militar e abalou o projeto original de abertura. Os
grupos de militares da linha dura se rearticularam a fim de oferecer
uma alternativa política ao país em torno do ministro do Exército,
Sílvio Frota, o que levou o presidente Geisel a uma situação
delicada já que seu projeto de governo e de distensão política havia
sido construído como um acordo entre os diferentes grupos de
militares. Foi nessa conjuntura que Geisel autorizou uma violenta
onda repressiva desfechada contra as organizações de esquerda,
em especial contra o Partido Comunista Brasileiro.

A proposta de formação de um novo partido já havia sido
veiculada, pela Liga Operária, em seu jornal desde março de 1975,
quando a edição trouxe impresso na capa: Pela Construção do
Partido Socialista da Classe Operária. Essa mudança na conjuntura
levou a Liga Operária a rever e adiar os projetos de legalização
de suas atividades políticas levando a organização a sustentar a
proposta de criação de um partido socialista legal apenas como
propaganda para restritos setores sociais.

Apesar das dificuldades enfrentadas até 1977, a Liga
Operária conseguiu um certo amadurecimento de sua intervenção
na sociedade brasileira, sobretudo nas universidades, a qual lhe
permitiu participar ativamente das mobilizações estudantis, entre
elas, as causadas pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog.

As dificuldades geradas pela conjuntura política, no
entanto, estiveram mais expostas durante o ano de 1977. Às
vésperas do 1º de Maio, quando preparavam e distribuíam o
Faísca, um jornal mimeografado que se apresentava como boletim
de luta do trabalhador, a Liga Operária sofreu um forte ataque dos
órgãos repressivos: José Maria de Almeida e Celso Brambilla
foram presos.

Naquelas circunstâncias uma eficaz defesa, inclusive da
integridade física dos militantes presos, só poderia ser realizada
pelo movimento de massas. E como o movimento estudantil era
o setor que apresentava, naquele momento, mais condições
políticas para promover alguma ação em defesa dos presos a Liga
Operária decidiu recorrer aos estudantes. Conforme o depoimento
de Bernardo Cerdeira:

Daí veio a proposta de irmos às universidades acompanhados
de uma comitiva de operários, alguns já antigos. Na USP
[Universidade de São Paulo] houve uma assembléia
convocada às pressas. A diretoria do DCE [Diretório Central
dos Estudantes] era composta por uma chapa formada pelo
PCdoB [Partido Comunista do Brasil] e pela AP [Ação
Popular]. Quando os operários falaram de suas lutas e de sua
vida de trabalho... O velho operário falou assim: ëVocês estão
vendo essas paredes? Foram operários como nós que as
construíram.í Ele, então, falou aos estudantes dos operários
que estavam presos e que estávamos lá para pedir ajuda porque
a própria vida desses operários estava em risco. Isso emocionou
profundamente os estudantes da USP e daquela assembléia
em diante a defesa dos presos deslanchou e ganhou as ruas.10

Alguma coisa havia mudado no país. Os estudantes, que
até então, restringiam suas manifestações aos campi universitários,
saíram às ruas em protesto:

Em 1977, a tensão que vinha se acumulando no meio
estudantil ante a impressionante repressão, explode. A
partir de uma enorme passeata de dez mil estudantes em
São Paulo, reprimida com violência extrema pela polícia,
eclodem manifestações em outras capitais e cidades grandes
do interior.11

A sociedade brasileira havia se recusado a acreditar no
emprego das práticas de torturas por parte dos aparelhos
governamentais brasileiros. As campanhas pela anistia passaram
a se somar e a se confundir com a avalancha de revelações sobre
as torturas, os processos judiciais movido pela família Herzog
contra a União e as greves de fome dos presos políticos.

O governo, inicialmente, adotou a tática de permitir
algumas formas de manifestação e proibir as mais ostensivas,
como as passeatas. Com isso, esperava conter o movimento
estudantil dentro de limites toleráveis. No entanto, não demoraria
muito para que se percebesse que os estudantes não se
conformariam com pequenos espaços de protesto e seguiriam em
frente até a libertação dos presos e, se vitoriosos, intensificariam
as lutas pela reconstrução das suas entidades estaduais e a
nacional, ao mesmo tempo em que pressionariam pelas chamadas
liberdades democráticas.

Embora os estudantes tenham recuado ante a feroz
repressão eles conseguiram realizar uma eficiente denúncia do
autoritarismo no Brasil. Tornou-se cada vez mais difícil, para o
governo, ocultar o recurso à tortura pelos órgãos repressivos.

O ano de 1977 abrigou importantes mudanças na
conjuntura política.

As manifestações e protestos promovidos pelos estudantes
motivaram os mais diversos setores da sociedade a apresentarem
seus pleitos.

A demissão do general Sílvio Frota do Ministério do
Exército enfraqueceu as articulações que grupos de militares
promoviam visando o fortalecimento da tutela que as Forças
Armadas exerciam sobre o Estado brasileiro.

Importantes frações da burguesia iniciaram críticas
públicas ao governo autoritário. Os sinais de esgotamento do
ìmilagre brasileiroî animaram setores da classe dominante a
reivindicarem mudanças no modelo econômico e no regime
político.

Dirigentes sindicais, como Joaquim dos Santos Andrade
(Joaquinzão), do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, e Luiz
Inácio da Silva (Lula), do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo, obtiveram ampla cobertura da imprensa
quando realizaram uma campanha pela reposição da inflação de
1973 a qual havia sido manipulada pelo então ministro Delfim
Neto.

NASCE O MOVIMENTO CONVERGÊNCIA SOCIALISTA
A sociedade brasileira estava superando o estado de
torpor. Estes acontecimentos foram percebidos pela Liga Operária
como sinais de que haveria espaço político para a organização de
um partido socialista.

A conjuntura internacional também estava marcada por
importantes mudanças. O início do governo norte-americano de
Jimmy Carter, com sua política de defesa dos Direitos Humanos,
levou os governos autoritários a um certo isolamento.

As quedas das ditaduras de Salazar em Portugal e de
Franco na Espanha foram seguidas de um intenso processo de
reorganização dos partidos políticos. Os partidos socialistas,
nesses dois países, foram reconstruídos num ritmo acelerado.

Nesse período, um dirigente da Liga Operária que havia sido
deslocado do Brasil para auxiliar a 4ª Internacional na construção de
organizações em Portugal e na Espanha estava retornando ao Brasil
e propôs a formação do Movimento Convergência Socialista. A
própria inspiração para o nome do movimento foi fornecida por
uma organização socialista espanhola homônima. O fato de Portugal
e a Espanha estarem superando formas autoritárias de governo
fortaleciam a comparação com o caso brasileiro.

O debate acerca da reorganização partidária estava sendo
aberto. Várias articulações políticas estavam em movimento.
Apesar de haverem surgido correntes socialistas propugnando a
reorganização do partido socialista, o ponto referencial mais
importante, nesses debates, era a reorganização do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). Entre os envolvidos com a
organização de um partido trabalhista encontrava-se o secretário
do Trabalho do Estado de São Paulo, Maluly Netto. Suas
articulações envolviam vários dirigentes sindicais, como
Joaquinzão. Não demoraria muito para que Maluly Netto
desistisse dessas articulações, fruto principalmente da recusa dos
sindicalistas autênticos em lhe emprestarem apoio, e da iminência
do retorno de velhos dirigentes do PTB, como Leonel Brizola.

Uma questão recorrente, na Liga Operária, dizia respeito
à possibilidade do Partido Socialista (PS) que estava sendo
proposto vir a assumir um caráter social-democrata. O jornal
Independência Operária afirmava que:

[...] não estamos propondo um partido revolucionário. Mas
também não propomos um partido social-democrata. O que
queremos é formar um partido que seja para todos os explorados
e oprimidos uma alternativa real, imediata, independente, aos
partidos que a burguesia nos prepara. Dentro do PS lutaremos
para que ele não se vincule à II Internacional.12

A Liga Operária não se propunha formar a força
hegemônica no Partido Socialista. Julgava que, caso o Movimento
obtivesse êxito, as outras forças políticas que se referenciavam
no socialismo se tornariam maioria no novo partido. A Liga
Operária julgava que a formação de um amplo partido operário
seria fundamental para o amadurecimento político da classe
trabalhadora brasileira. Para isso, seria necessário superar o
bipartidarismo que impunha à classe trabalhadora a convivência
e a subordinação aos interesses da burguesia liberal.

A principal crítica que a Liga Operária dirigia ao Partido
Comunista Brasileiro (PCB) era que ele desenvolvia uma postura
passiva ante os projetos de abertura de Geisel, subordinando as
reivindicações operárias aos ritmos do MDB. Para a Liga, de forma
diferente, o Partido Socialista deveria se organizar como um
partido classista e não submeter às reivindicações operárias aos
acordos políticos com a burguesia.

A Liga Operária contava com uma ampliação das
mobilizações realizada pelo movimento de massas que
promoveria o debate sobre a reorganização sindical e política da
classe trabalhadora. Era necessário participar desse processo de
reconstrução das organizações da classe trabalhadora tendo em
vista fazê-lo a partir da ótica da independência política.

A análise dos modelos partidários, por ela efetuada, é
importante para que compreendamos como a Liga Operária
trabalhou, alternadamente, com as formulações de Partido
Socialista e de Partido Trabalhista:

Na Europa, de forma geral, encontramos a classe operária, na
sua maior parte, organizada nos partidos socialistas e comunistas,
tendo já feito sua experiência com os partidos da burguesia. Na
Inglaterra, a classe operária em peso segue o Partido Trabalhista,
sustentado pelo forte aparato sindical. É um partido que, apesar
de não ter um programa socialista ou comunista, levanta
essencialmente um programa de reivindicações operárias, além
de ser reconhecido pela classe, ou seja, é um partido operário.13

No caso brasileiro o documento avaliava que a classe
trabalhadora, além de desorganizada sindicalmente, estaria
emergindo de treze anos de contra-revolução bonapartista. Além
disso, sua experiência com o populismo não teria sido esgotada
porque haveria sido interrompida pelo golpe de 1964. O PTB,
segundo a Liga Operária, não poderia ser considerado um partido
operário, como o inglês, porque sua direção havia sido
majoritariamente burguesa, apesar da base operária que o PTB
haveria reunido.

Desde abril de 1976 a Liga Operária sustentava uma
polêmica com setores da esquerda organizada que sistematicamente
procuravam excluir os sindicatos oficiais das articulações que
promoviam, como, por exemplo, as manifestações realizadas a
propósito do 1º de Maio. A Liga Operária reconhecia o
desvirtuamento que as direções sindicais, em sua esmagadora
maioria, promoviam, mas considerava que os sindicatos oficiais
se constituíam na principal referência para os trabalhadores
brasileiros.

A possibilidade de organizar um partido político apoiado
nos sindicatos foi hegemônica na Liga Operária até meados de
1977, quando se consolidou a opção por um partido socialista.
Isso porque temia, naquele momento, que um modelo trabalhista
repetisse o conteúdo policlassista que havia caracterizado o velho
PTB. A possibilidade do surgimento de um partido operário tipo
trabalhista inglês é descartada pela fraqueza da burocracia sindical
brasileira e por suas ligações com o populismo.14

Segundo a avaliação da Liga, um partido socialista poderia
disputar a representação política da classe trabalhadora contra a
burocracia sindical, porque esta, sendo fraca, tenderia a se apoiar
no populismo. Ou seja, avaliavam que um partido socialista
poderia atrair importantes parcelas da classe trabalhadora para
o seu projeto político porque a burocracia sindical não
abandonaria o populismo nem sustentaria a criação de um partido
dos trabalhadores. Por isso, em finais de 1977, a idéia de apoiar
um novo partido sobre os sindicatos passou a ser percebida com
desconfiança porque poderia atrair frações da burguesia. Por isso
a fórmula partidária escolhida foi a de Partido Socialista.

A construção do novo partido deveria tomar impulso na
medida em que a classe trabalhadora intensificasse suas lutas,
por isso o MCS deveria se apoiar nos organismos que
conseguissem canalizá-las.

As organizações que exerciam a representação sindical e
política dos trabalhadores brasileiros haviam sido atacadas e
parcialmente destruídas pelos governos instituídos após o golpe
civil-militar de 1964. A partir de 1974 o movimento sindical e
operário brasileiro iniciou uma lenta recuperação dessas
organizações. Em 1977, no entanto, não estavam claros os
caminhos que essa reorganização tomaria. Além de alguns
pequenos partidos de esquerda, os círculos operários mantidos
pela Igreja Católica, em geral, apostavam num completo
rompimento dos trabalhadores com os sindicatos oficiais,
controlados pelo governo através do Ministério do Trabalho. As
práticas autoritárias desenvolvidas pelo Estado brasileiro haviam
estimulado o surgimento de uma camada de ativistas que
repudiava a participação em qualquer organização sindical sujeita
às ingerências do Estado.

Quando a Liga Operária realizou o esforço de elaborar
uma proposta de reorganização política para a classe trabalhadora
brasileira, a dinâmica do processo de reconstrução dessas
organizações sindicais ainda não estava claramente estabelecida.

Os próprios trabalhadores, partindo de suas experiências e das
lutas empreendidas a partir de maio de 1978 determinaram essa
dinâmica.

Quando a Liga Operária decidiu pelo lançamento público
de um movimento pela criação de um partido socialista a grande
maioria dos colaboradores e dos membros do Conselho de
Redação de Versus incorporou-se ao MCS. O jornal Versus Afro--
América-Latina era uma publicação alternativa que, desde 1975,
tratava principalmente de assuntos culturais. A partir de finais
de 1977 tornou-se mais clara a influência política da Liga Operária
em Versus, que passou a desenvolver um intenso debate acerca
dos rumos políticos do Brasil.

A partir do lançamento do MCS, esse jornal abriu espaço
para que diferentes personagens expressassem suas opiniões e idéias.
Entre as matérias publicadas encontramos artigos assinados por
Fernando Henrique Cardoso, José Álvaro Moisés, Mario Pedrosa,
Octavio Ianni, Francisco Weffort, Celso Furtado, Moniz Bandeira,
Frei Betto, D. Pedro Casaldáliga e Almino Afonso.

Em uma dessas matérias o sociólogo José Álvaro Moisés
expressou a preocupação com a composição social do novo
partido. Esse tema era recorrente nos debates que estavam sendo
travados por causa do descolamento entre as organizações de
esquerda e a classe trabalhadora brasileira, vivenciado no período
anterior. Além disso, havia a questão da incorporação dos novos
movimentos sociais. Estavam se articulando no Brasil grupos de
homossexuais, negros, mulheres, ecologistas, além de outros.

Já havia, no Brasil, nesse período, uma tendência à
afirmação da diversidade de representações sociais e políticas.
Na Europa, os novos movimentos sociais se afirmavam em
disputa com os partidos tradicionais da classe operária. No Brasil,
a organização de um partido independente da classe trabalhadora
estava sendo proposta num momento em que esses movimentos
sociais já existiam e procuravam consolidar sua presença.

Fernando Henrique Cardoso elaborou, nesse período, uma
fórmula que permitiria a convivência dos diferentes movimentos
sociais no novo partido.

[...] o combate será travado contra os efeitos de uma
civilização que priva os trabalhadores e os outros
assalariados das condições da vida digna e decente. A ligação
dos interesses dos trabalhadores de fábrica e os dos
empregados de escritórios, das repartições públicas etc. é
imediata. E todos esses segmentos da população embora não
operários são assalariados. [...] O partido de tipo popular
deve ser organizado como uma confederação dos
movimentos sociais, relativamente independentes,
enraizados em suas bases. Os movimentos das comunidades
de base das igrejas, as associações de bairro, os sindicatos
autênticos, a imprensa alternativa quem sabe jornalistas,
da outra também, os centros de pesquisa e trabalho, o
movimento estudantil, as associações de empregados, de
professores, de mães, os clubes ecológicos, os movimentos
das minorias etc, formariam o tecido vivo destes partidos.15

O jornal Versus foi um veículo de fundamental
importância para o debate político e partidário e para a
repercussão obtida pelo MCS. Ainda em dezembro de 1977 Versus
destacou a realização do primeiro encontro público do movimento
pelo Partido Socialista e em seu editorial definiu a nova
perspectiva do jornal: A hora não é apenas das denúncias. Mas da
discussão de perspectivas.16 Para a Liga Operária havia chegado a
hora de organizar, abertamente, uma alternativa política que não
mais se subordinasse aos parâmetros da oposição liberal que
hegemonizava o MDB. A idéia era reunir todos os intelectuais,
políticos, movimentos sociais e organizações que se reivindicavam
socialistas em torno de um movimento pela criação do novo
partido.

A CLASSE OPERÁRIA ENTRA EM CENA
Os sindicatos brasileiros haviam sofrido um processo de
perda de funções como organizações de representação das
reivindicações operárias. No contexto da repressão inaugurada
pelos governos autoritários, havia restado aos sindicatos
cumprirem funções meramente assistenciais. Embora a maioria
dos dirigentes sindicais houvesse se adaptado bem ao papel de
gerentes de um aparelho burocrático, a situação foi diferente em
sindicatos onde os conflitos fabris geravam pressões sobre eles.

Nessas bases operárias ou se formavam oposições sindicais (o
caso mais típico é o do Sindicato dos Metalúrgicos da capital
paulista) ou as direções sindicais absorviam essa inquietação
tentando redirecioná-la contra o governo e os patrões. Foi dessa
postura que surgiu a corrente de sindicalistas que procurava
assumir as lutas reivindicativas de seus representados.

Em meados do ano de 1978 o panorama político brasileiro
mudou. As greves que começaram em 12 de maio em São Bernardo
e se alastraram pelo Estado de São Paulo, trouxeram a classe operária
e seus dirigentes sindicais para o centro do cenário político.

As grandes greves de 1978 e 1979 mudaram o contexto do
debate político-partidário. Esse ciclo grevista produziu novos
vínculos entre os líderes operários combativos. Além disso, eles
passaram a contar com o respaldo de uma base operária massiva,
mobilizada e decidida a lutar por mudanças.

Incorporar essa moderna classe operária foi uma
preocupação que esteve presente na maioria dos projetos para a
organização de um novo partido no Brasil. A partir de então, no
entanto, os trabalhadores passariam a desempenhar um papel
ativo nesse debate. As aspirações e as reivindicações da classe
trabalhadora deixavam de se constituir em mero debate entre
intelectuais e ganhavam contornos de pauta obrigatória nas
discussões entre grupos cada vez mais organizados:

Muitos líderes operários já não mais queriam deixar o ato de
interpretar aos outros 3/4 desejavam criar uma oportunidade,
em termos organizacionais, para que os trabalhadores
pudessem falar por si próprios.17

Dentre os dirigentes sindicais combativos, Lula tornou-se a
figura-chave, o centro de equilíbrio18 para a formação do novo partido.
As greves, que começaram em São Bernardo, tornaram-no o líder
operário responsável pelo formidável movimento paredista que
mobilizou a moderna classe operária brasileira. Essas lutas
libertaram e aumentaram o poder de todo o movimento sindical
brasileiro. O apoio de Lula tornou-se fundamental para que a
proposta de formação de um novo partido fosse ele operário,
socialista ou popular, pudesse desfrutar de legitimidade.

A greve dos trabalhadores na Scania adquiriu importância
especial porque além de paralisar todos os setores da empresa,
foi seguida por greves em várias outras fábricas. Os trabalhadores
já promoviam paralisações antes de maio de 1978. No entanto,
eram paralisações que não se estendiam para outras fábricas. Na
grande maioria dos casos, essas movimentações operárias
ocorriam de forma isolada em algum setor da fábrica. Um fato
importante: um dia antes da greve da Scania os motoristas das
empilhadeiras da Volkswagen, da Ford, da Mercedes-Benz tinham
parado.19

As greves iniciadas em maio de 1978 expressaram um
processo de fortalecimento da organização dos trabalhadores.
Foram eles próprios que imprimiram a dinâmica das lutas. As
decisões de paralisar a produção, em geral, foram tomadas no
ambiente fabril e expressaram a autonomia do movimento.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo possuía
enorme importância no movimento sindical brasileiro. Não só
ele era o maior sindicato de trabalhadores na América do Sul,
mas seu presidente, Joaquim dos Santos Andrade (Joaquinzão)
se constituiu num importante articulador pela criação de um
partido trabalhista. A trajetória de Joaquinzão a frente desse
sindicato, no entanto, despertava muita polêmica. Em 1964, como
decorrência do golpe civil-militar, o novo regime havia decretado
a intervenção no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias
Metalúrgicas, Mecânicas e de Material de São Paulo. Os
interventores realizaram uma razia contra os ativistas e delegados
sindicais desarticulando, nos primeiros anos, quaisquer
possibilidades dos trabalhadores oferecerem resistências:

Com a ajuda da repressão policial e das verbas do Ministério
iria começar o longo reinado de Joaquim dos Santos Andrade
no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Tendo ajudado a
interventoria em 1964, ele seria candidato único em 1965.20
Passados os primeiros anos, a atuação da diretoria de
Joaquinzão despertou uma oposição que reuniu diferentes
agrupamentos, entre eles havia os simpatizantes da diretoria
destituída; os grupos de operários que vinham se formando em
torno da Juventude Operária Católica (JOC), a qual mantinha uma
postura crítica frente à estrutura sindical oficial por ela
considerada cupulista; além de militantes ligados à esquerda.

A Oposição associava Joaquinzão e sua diretoria às forças
de repressão. Os depoimentos dos militantes da Oposição Sindical
Metalúrgica [OSM] falam todos do Sindicato como centro de delação e
do papel do seu presidente como agente da repressão.21

Quando se iniciaram as greves entre os trabalhadores
metalúrgicos na cidade de São Paulo22 havia, de um lado, a OSM
que havia sobrevivido, durante dez anos, numa militância apoiada
nos organismos sindicais de base, os grupos e as comissões de
fábrica; de outro lado, estava Joaquinzão, que havia consolidado
sua presença através do fortalecimento das atividades assistenciais
que o Sindicato promovia. O clima entre os trabalhadores no início
da década de 1970 comportava repressão e medo, mas, também
as fantasias de ascensão social.

Na grande maioria das paralisações ocorridas durante os
meses de maio e junho de 1978, os grevistas repudiaram a direção
sindical e reconheceram a liderança da Oposição. Em pelo menos
trinta e cinco empresas as comissões de fábrica foram reconhecidas
pelos patrões.

A campanha eleitoral para escolher a nova diretoria para
o Sindicato se desenvolveu paralelamente à onda grevista, e isso
reforçou enormemente as chances da Oposição. No entanto,
segundo muitas evidências, a equipe de Joaquim dos Santos
Andrade só venceu desta vez graças às fraudes ocorridas no
processo de apuração dos votos. A Oposição permaneceu
organizada apesar da derrota eleitoral. Isto se devia,
principalmente, às relações estabelecidas com os organismos de
base, grupos de operários e as comissões de fábrica.

O êxito obtido pelos trabalhadores nas greves de maio e
junho criou uma grande disposição de luta na categoria. O
reconhecimento pelos trabalhadores de base, da Oposição como
direção sindical, permitiu que ela dirigisse as greves de novembro
de 1978.

Em maio e junho ocorreram greves por fábricas,
geralmente negociadas através das comissões e com um
acompanhamento apenas formal por parte do Sindicato. No
entanto, em novembro, ocorria o dissídio coletivo de toda a
categoria, o que revalorizava o controle da estrutura sindical em
relevo. Após conseguir que a assembléia realizada no Sindicato
aprovasse a deflagração da greve, a Oposição organizou a
mobilização operária e preparou a paralisação nas fábricas. Esse
controle que na prática a Oposição exercia sobre o Sindicato, no
entanto, era evidentemente precário. Não tendo o comando do
Sindicato, não conseguiram evitar que seu presidente fizesse aprovar,
algo sorrateiramente, um acordo que pôs fim à greve.23

Justamente o ascenso que produziu o fenômeno das lutas
serem dirigidas pela Oposição Sindical revelou o problema que
se colocava para os grupos autônomos de operários. As greves
de maio e junho, ocorridas fora do dissídio coletivo, permitiram
que os grupos de fábrica deflagrassem as lutas a partir das
unidades produtivas e nesse processo formalizassem o nascimento
das comissões de fábrica. Essas vitórias estimularam a deflagração
de um novo ciclo de greves à época do dissídio coletivo. No
entanto, os trabalhadores mantinham o Sindicato como o
referencial para a organização das lutas. Esse processo levou a
Oposição a ocupar virtualmente o Sindicato sem, contudo,
conseguir controlá-lo efetivamente. Além disso, o esvaziamento
dos grupos de base a partir das demissões sistematicamente
promovidas pelos empresários permitiu que a liderança de
Joaquinzão voltasse a se fortalecer.

As comissões de fábrica serão desbaratadas pela repressão
patronal, e a velha direção sindical retomará o controle sobre
o Sindicato, evidenciando a dimensão dos desafios que estavam
postos para a Oposição Metalúrgica no momento em que seu
impulso negador enfrentava as exigências de uma
institucionalização.24

Diferentemente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo que conseguiu, parcialmente, incorporar à sua pauta
de reivindicações as contestações produzidas pelos operários de
base ao controle do processo de produção, estabelecendo vínculos
mais fortes com os grupos nas fábricas, a direção encastelada no
Sindicato de São Paulo ganhava um novo fôlego à medida que
esses organismos sindicais de base eram derrotados.

Ficava para trás todo um período de formação desse
movimento: aquele no qual as lutas nas fábricas e as comissões
de fábrica eram assumidas como processos de constituição de
sujeitos políticos, valorizados por si mesmos. Agora, quando
a Oposição Sindical Metalúrgica se constituía como
organização pública, com força para disputar a representação
na categoria, ela reafirma a organização autônoma das fábricas
como base para um sindicato legítimo. Mas é a transformação
deste 3/4 ou seja, a incidência na institucionalidade 3/4 que
passa a ser o seu objetivo central.25

A manutenção do controle do Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo por Joaquinzão apontou alguns dos limites à
transformação dos sindicatos oficiais em adequadas organizações
de representação sindical dos trabalhadores brasileiros.

Durante o segundo semestre de 1978, o debate acerca da
criação do novo partido passou a contar com a participação mais
decidida de alguns dos sindicalistas conhecidos como autênticos.

Esse grupo de sindicalistas formou-se em oposição à cúpula da
estrutura sindical quando da realização do 5º Congresso da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI)
realizado em julho de 1978 no Rio de Janeiro. O presidente da
(CNTI), Ari Campista, representava o servilismo típico do dirigente
sindical pelego e sofreu forte oposição durante o Congresso. Os
sindicalistas autênticos, que representavam cerca de um terço dos
votos, conseguiram aprovar duas de suas propostas. A primeira,
uma campanha unificada em nível estadual para o ano de 1979.

A segunda, uma caravana a Brasília, visando inibir as propostas
de mudança na política salarial e na Lei Antigreve com as quais o
governo Geisel pretendia enfrentar as greves previstas para o final
de 1978 e início de 1979.

Conforme o depoimento de Paulo Skromov, o grupo dos
sindicalistas autênticos incluía o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo, Joaquinzão:

O Joaquinzão apesar de ser um burocrata, era uma pessoa muito
tratável, muito educado com os companheiros de outros sindicatos.
E fazia parte do movimento intersindical que tínhamos, do grupo
dos autênticos.26

Entre os autênticos havia sindicalistas cuja simpatia com o
Partido Comunista Brasileiro os levava a permanecerem
refratários à proposta de rompimento com o MDB e à constituição
de um novo partido de trabalhadores, como Arnaldo Gonçalves,
importante sindicalista da Baixada Santista. Uma outra articulação
com vistas à formação de um partido político era integrada por
Joaquinzão e visava à constituição de um ìpartido social
trabalhistaî que seria composto por dirigentes sindicais a partir
de um convite feito por políticos da Arena, dentre eles o secretário
do Trabalho de São Paulo, Maluly Neto.

A dinâmica que o debate político-partidário desenvolveu
a partir de maio de 1978 tensionou a tática implementada pelo
MCS de criação de um partido socialista. Por mais que a definição
proposta ao Partido Socialista fosse o de um partido da classe
trabalhadora, sua veiculação inicial baseou-se na possibilidade
de atrair agrupamentos políticos principalmente formados por
intelectuais e estudantes. No entanto, começava a se fortalecer o
setor nucleado em torno do que era denominado sindicalismo
autêntico.

Apesar de o MCS conseguir realizar um certo
recrutamento de simpatizantes entre sindicalistas do ABC
paulista, o que lhe fez crer inicialmente na possibilidade de que a
proposta de um partido socialista pudesse contemplar as
aspirações dos novos dirigentes e ativistas sindicais, foi se
tornando mais claro que a formulação tática era inadequada.

À medida que a classe trabalhadora se movimentava
(greves de maio e novembro de 1978) e seus dirigentes sindicais
se fortaleciam, criava-se um novo pólo que passou a ser percebido,
pelo MCS, como capaz de sustentar a criação de um partido
baseado na classe trabalhadora.

O período compreendido entre setembro e novembro de
1978 foi marcado pelo esforço do MCS em consolidar um pólo
operário e socialista. Nesse sentido, o MCS apoiou várias
candidaturas do MDB nas eleições para o legislativo em 1978 que
se comprometeram previamente com o apoio à fundação de um
partido socialista. Dentre elas destacou-se a de Benedito Marcílio,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, que
foi eleito deputado federal nas eleições de 1978. A tática eleitoral
aprovada pelo Movimento Convergência Socialista era a de
conceder apoio aos candidatos operários e socialistas do MDB com a
condição de que esses candidatos, previamente, se
comprometessem em empenhar-se na organização do Partido
Socialista. No entanto, na campanha de Benedito Marcílio a tática
eleitoral foi ajustada de Partido Socialista para Partido dos
Trabalhadores a pedido do então candidato, como declarou José
Maria de Almeida: O Marcílio falou: Olha, o trabalhador ainda não
sabe o que é socialismo! Porque a gente não propõe organizar um Partido
dos Trabalhadores?27

O MCS ao propor a formação de um pólo operário e
socialista no MDB procurava ajustar sua formulação inicial, que
propunha um partido socialista, de forma a incorporar os
trabalhadores que estavam participando dessas jornadas de lutas
e os dirigentes sindicais que estavam se declarando favoráveis à
organização de um partido político referenciado na classe
trabalhadora. Foi com essa nova formulação que o MCS trabalhou
até finais de 1978, quando se tornou claro para os seus membros
que a classe trabalhadora brasileira amadurecia um projeto
partidário em muitos aspectos diferente.

O descompasso entre a proposta de criação de um partido
socialista e as experiências dos operários da Grande São Paulo
foi sendo percebido pelo MCS com mais clareza à medida que ele
se envolvia na organização e apoio às lutas operárias. Em finais
de 1978, a proposta de criação de um partido dos trabalhadores,
que durante a campanha eleitoral havia sido veiculada apenas
pelo comitê eleitoral de Benedito Marcílio, tornou-se hegemônica
no MCS e foi apresentada no Congresso dos Metalúrgicos do
Estado de São Paulo, realizado em janeiro de 1979 na cidade de
Lins.

O Congresso de Lins foi convocado para unificar as lutas
que os metalúrgicos deveriam promover durante o ano de 1979
no Estado de São Paulo. À medida que os empresários das
indústrias metalúrgicas foram se recuperando da surpresa
causada pelas greves iniciadas em maio de 1978, eles iniciaram
vários preparativos com a intenção de derrotar os movimentos
grevistas, contando para isso com a coordenação da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).28 A partir de
outubro, os trabalhadores perceberam, pelo endurecimento dos
empresários nas negociações, que precisariam, em 1979, aumentar
seu poder de pressão sobre a patronal.

O Congresso de Lins reuniu os dirigentes sindicais com a
proposta de promover a unidade de todos os sindicatos de
metalúrgicos de São Paulo, incluindo desde os dirigentes
considerados mais combativos, como Lula, de São Bernardo do
Campo, até aqueles considerados mais pelegos como Joaquinzão,
de São Paulo e Henos Amorina, de Osasco.

A presença de dirigentes sindicais considerados ìpelegosî pelas
oposições levou-as a uma atitude de indiferença e de desconfiança
em relação ao congresso e, conseqüentemente, à proposta de
formação do Partido dos Trabalhadores (PT) por ele aprovada.
Esse caráter unitário do Congresso de Lins afastou da proposta
inicial de criação de um partido dos trabalhadores algumas das
organizações de esquerda e a maioria das ìoposições sindicaisî.
Efetivamente a primeira decisão coletiva expressa publicamente
pela criação do PT foi a aprovação da moção apresentada pela
delegação do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e lida
por José Maria de Almeida no Congresso de Lins.

Em Santo André os delegados ao congresso discutiram e
aprovaram a moção. Mas, a tentativa de que outras delegações
também discutissem as teses durante as eleições dos delegados
se mostrou infrutífera, mesmo em São Bernardo do Campo.

Após aprovar a moção na eleição da delegação de Santo
André, o Movimento Convergência Socialista passou a procurar
as delegações dos outros sindicatos de metalúrgicos e a pedir
apoio à formação do Partido dos Trabalhadores. Uma dificuldade
a ser superada era a resistência que a maioria das organizações
da esquerda revolucionária ofereciam à convivência com a maioria
dos dirigentes sindicais, considerados ìpelegosî, na mesma
agremiação partidária.

Apesar de todas as articulações realizadas antes do
congresso em defesa da moção, as possibilidades de aprová-la
não pareciam muito animadoras, conforme o depoimento de
Paulo Skromov:

Neste Congresso, a relação de forças ainda era totalmente
desfavorável para passar uma emenda a favor do PT, porque só
havia dois sindicatos petistas...

Então como foi possível aprovar uma moção como essa? A
assessoria do Benedito Marcílio, presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de Santo André, da Convergência Socialista,
preparou uma moção, assim: ëOs trabalhadores metalúrgicos
reunidos em Lins, no seu congresso estadual... Manifestam a
importância da construção de um partido só de trabalhadoresí.

Algo desse tipo. E como o Joaquinzão e o Argeu Egídio, que
era presidente da Federação 3/4 quer dizer, a cúpula dos setores
pelegos 3/4, estavam discutindo com o secretário do Trabalho
do Governo do Estado a formação de um novo partido
trabalhista, a moção de um partido dos trabalhadores, em letras
minúsculas, não agredia a intenção deles, mas servia também
para justificá-la.29

A aprovação pelo Congresso de Lins da moção elaborada
pela delegação de Santo André alcançou repercussão e se
constituiu como o lançamento do Partido dos Trabalhadores:

Em janeiro de 1979, a proposta do PT foi lançada formalmente
no IX Congresso dos Metalúrgicos, Mecânicos e Eletricistas
do Estado de São Paulo, realizado em Lins (SP), através de um
texto elaborado por um grupo de trabalhadores, do qual se
destacava Benedito Marcílio, líder do Sindicato dos
Metalúrgicos de Santo André e ligados ao grupo de esquerda
Convergência Socialista.30

Durante o Congresso, a moção foi defendida por Lula e
aprovada pela grande maioria dos delegados. A oposição ao novo
partido reuniu, basicamente, os sindicalistas ligados ao Partido
Comunista Brasileiro, como o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos da cidade de Santos, Arnaldo Gonçalves. Esse
documento, que ficou consagrado como a tese de Santo André-
Lins31 começava denunciando a formação dos governos
autoritários como um recurso histórico para a sobrevivência do
capitalismo:

Enquanto vivermos sob o capitalismo, este sistema terá como
fim último o lucro, e para atingi-lo utiliza todos os meios: da
exploração desumana de homens, mulheres e crianças até a
implantação de ditaduras sangrentas para manter a
exploração.32

Portanto, segundo essa perspectiva, a luta dos
trabalhadores não deveria se limitar às reivindicações por
liberdades democráticas. O fim da ditadura militar, por si só, não
seria suficiente. Seria necessário que os próprios trabalhadores
constituíssem o seu partido político para melhor organizar a luta
por seus interesses. A tese avançava um programa de
reivindicações democráticas além das liberdades sindicais
afirmando que estas só poderiam ser obtidas pela luta dos
próprios trabalhadores.

A tese avançava, também, na definição da composição
social do novo partido que não deveria absorver nenhuma fração
da burguesia nacional e que, além disso, deveria ser dotado de
funcionamento democrático: Que este partido seja de todos os
trabalhadores da cidade e do campo, sem patrões, um partido que seja
regido por uma democracia interna33. E, por fim, propunha a formação
de uma direção para o movimento pela criação do PT:

Que seja eleita neste congresso uma comissão e junto com todos
os outros setores que, embora ausentes, também estão
interessados na construção desse partido, amplie os contatos e
comece a encaminhar essa luta nacionalmente em discussões
com as bases, iniciadas desde já: que essa comissão fique
encarregada da redação de um manifesto aos trabalhadores
brasileiros, chamando à construção do partido dos
trabalhadores.34

A grande aceitação da proposta foi surpreendente. Sua
aprovação só foi possível porque recebeu o voto favorável dos
sindicalistas mais fortemente ligados à estrutura sindical oficial
que estavam promovendo articulações com vistas à formação de
um Partido Social Trabalhista.

O Movimento pelo Partido dos Trabalhadores contava,
por exemplo, com a decidida presença de Henos Amorina, que
era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e
considerado um dirigente pelego pela Oposição Sindical. Como
relata Ivan Valente, na época dirigente do Movimento de
Emancipação do Proletariado:

Os motivos da desconfiança que as organizações de esquerda
tinham na época é que muitas organizações já vinham
convivendo enquanto Oposição Sindical, por exemplo, em
Osasco, com Henos Amorina. [...] Vocês [os integrantes
do Movimento Convergência Socialista] eram
exatamente pragmáticos nisso. Ao mesmo tempo em que
tinham uma proposta radical, socialista, se entendiam bem
com pessoas que eram indefinidas, como o Marcílio.35

Após o Congresso de Lins o MCS readequou a sua tática
e seu formato organizativo. Ele suspendeu a propaganda pela
criação de um Partido Socialista e empenhou-se com todas as suas
forças militantes na proposta de fundação do Partido dos
Trabalhadores. A Convergência Socialista deixava, então, de
propor-se como um movimento amplo, de frente única dos
socialistas para tornar-se uma organização política conforme a
tradição das organizações comunistas, o que significava, entre
outras coisas, a adoção do centralismo democrático.

Após o Congresso realizado em Lins os dirigentes sindicais
voltaram a se reunir no dia 30 de janeiro de 1979 no Sindicato dos
Metalúrgicos de Osasco. No entanto, os sindicalistas ligados ao
PCB conseguiram impedir que a Carta de Princípios do PT fosse
aprovada nesse encontro. Apesar desse encontro haver decidido
adiar indefinidamente as discussões em torno da fundação do novo
partido, ninguém menos que o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo, Joaquim dos Santos Andrade, propôs,
em fevereiro de 1979, que se iniciasse a coleta das assinaturas
necessárias para iniciar o processo de legalização do PT. A presença
desses dirigentes sindicais inibia a possibilidade do movimento
pelo PT atrair as oposições sindicais, sobretudo a que era
organizada pelos metalúrgicos da cidade de São Paulo:

Na opinião de Adalberto, conhecido na Oposição Sindical
Metalúrgica de São Paulo como Beto, o Congresso de Lins
não foi representativo, principalmente no que se refere à
participação do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Pois
o ëJoaquim ao invés de convocar uma assembléia da categoria
para discussão das teses e retirada de delegados, optou pelo
convite pessoalí [...] Para ele, as declarações de Lula são
sinceras. Mas não se deve esquecer que hoje ainda tem que se
construir uma nova estrutura sindical e, portanto, destruir a
velha.36

Após o encontro de Osasco decidiu-se pela formação
de uma Comissão Provisória que deveria redigir a Carta de
Princípios e encaminhar as questões referentes à fundação do
PT. Essa Comissão Provisória foi composta por Jacó Bittar, do
Sindicato dos Petroleiros de Campinas, Paulo Skromov, do
Sindicato dos Couros de São Paulo, Henos Amorina, do
Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, Wagner Benevides, do
Sindicato dos Petroleiros de Belo Horizonte, e Robson
Camargo, do Sindicato dos Artistas de São Paulo. Dessa
comissão dois membros mantinham relações com organizações
trotskistas: Robson Camargo era ligado à Convergência
Socialista37 e Paulo Skromov havia integrado a Organização
Socialista Internacionalista.38

Essa comissão provisória contou com a colaboração de
Joaquinzão até que os atritos produzidos durante a campanha
salarial de março provocassem um distanciamento entre eles. O
esforço realizado pelos sindicalistas mais combativos em
promover uma unidade que permitisse uma campanha salarial
conjunta no ano de 1979 havia sido frustrada e os sindicatos dos
metalúrgicos de São Bernardo e Santo André permaneceram em
greve mesmo depois que a Federação dos Sindicatos dos
Metalúrgicos de São Paulo assinou um acordo retirando-se da
campanha salarial. Nesse processo ocorreu um distanciamento
entre os sindicalistas mais ligados à estrutura sindical oficial, como
Joaquinzão, e o grupo de sindicalistas mais combativos, como
Lula, Jacó Bittar e Benedito Marcílio. Após esse processo de
divisão dos dirigentes sindicais, as oposições sindicais e vários
movimentos sociais tenderam à aproximação com os sindicalistas
combativos e com o Movimento pelo PT.

As greves metalúrgicas iniciadas em março de 1979
haviam gerado um duro enfrentamento político com o governo.

Quando o novo Presidente da República, o general João Baptista
de Oliveira Figueiredo, tomou posse, em 15 de março, os
metalúrgicos do ABC estavam realizando uma greve geral que
paralisou a produção da indústria automobilística e foi seguida
por greves em outras categorias profissionais.

O novo ministro do Trabalho, Murilo Macedo, enfrentou,
desde o primeiro dia no Ministério, essa onda grevista. Para isso
lançou mão da repressão violenta aos piquetes de greve, além de
usar os meios de comunicação de massa para acusar a
Convergência Socialista pela eclosão e organização das greves.

Esse expediente se constituía claramente numa estratégia para
derrotar o movimento grevista. O ataque mais duro ao movimento
grevista, no entanto, foi a decretação da intervenção nos sindicatos
com a conseqüente destituição das diretorias sindicais eleitas.

A Comissão Nacional Provisória se preparava para
distribuir a Carta de Princípios do PT no primeiro dia de maio de
1979. Nesse momento, o Sindicato de São Bernardo ainda estava
sob intervenção e a greve havia sido suspensa por quarenta e cinco
dias, conforme proposta realizada por Lula e aprovada pelos
metalúrgicos em assembléia.

O texto reproduzido na Carta de Princípios começava por
anunciar o que julgava ser o significado histórico e as dificuldades
que seriam enfrentadas para a fundação do PT:

A idéia da formação de um partido só dos trabalhadores é tão
antiga quanto a própria classe trabalhadora. Numa sociedade
como a nossa, baseada na exploração e na desigualdade entre
as classes, os explorados e oprimidos têm permanente
necessidade de se manterem organizados à parte, para que lhes
seja possível oferecer resistência séria à desenfreada sede de
opressão e de privilégios das classes dominantes.39

A Carta, polemizando com as diferentes propostas
partidárias, procurava ressaltar a essência classista do PT em
oposição aos partidos controlados pela burguesia. Nesse sentido,
a crítica às tentativas de políticos ligados ao governo de
reorganizarem o Partido Trabalhista Brasileiro foi realizada a
partir do caráter de classe que esse partido adquiriria.

Cientes disso também é que setores das classes dominantes se
apressam a sair a campo com suas propostas de PTB. Mas essas
propostas demagógicas já não mais conseguem iludir os
trabalhadores, que, nem de longe, se sensibilizaram com elas.

Esse fato comprova que os trabalhadores brasileiros estão
cansados das velhas fórmulas políticas elaboradas para eles.

Agora chegou a vez do trabalhador formular e construir ele
próprio seu país e seu futuro.40

A Carta denunciava o processo de auto-reforma do regime
como uma solução negociada entre os setores da classe dominante
e reafirmava a busca da classe trabalhadora por se constituir em
personagem político ativo como a forma privilegiada de enfrentar
o controle burguês sobre o Estado brasileiro. A defesa da unidade
política das oposições em torno do MDB foi discutida na Carta
de Princípios. Os partidos comunistas junto com outras
organizações de esquerda defendiam a necessidade da
manutenção da unidade no MDB até que o processo de
redemocratização estivesse concluído. Para eles, propor a
formação do PT significava fazer o jogo do governo que, ao
extinguir o bipartidarismo estaria, sobretudo, interessado em
dividir as forças de oposição.

Como já vimos antes, em fins de 1977, Fernando Henrique
Cardoso havia propagandeado a proposta de formação de um
Partido Popular que deveria se apoiar sobre os movimentos sociais
que estavam se organizando no Brasil. Seria uma espécie de
confederação dos movimentos sociais que procuraria ao mesmo
tempo emprestar uma dimensão política e partidária a esses
movimentos fazendo-os avançar na elaboração de suas propostas,
mas, respeitando a autonomia dessas organizações populares.
Essa elaboração de Cardoso havia sido debatida e divulgada,
inclusive, através do jornal Versus.

Como conseqüência dessa formulação, durante sua
campanha ao Senado, Cardoso procurou se aproximar dos setores
ligados a esses movimentos sempre debatendo com eles,
divulgando suas reivindicações e declarando seu apoio. No
entanto, após a campanha eleitoral de 1978, Cardoso se convenceu
de que não seria necessário romper com o MDB e criar um novo
ìpartido popularî. Para Cardoso o MDB poderia ser transformado
de forma a assumir as feições políticas e programáticas que ele
propunha para o novo partido.

Foi para dialogar com esses setores do MDB que a Carta
de Princípios abordou o tema:

Não ignoramos o fato de que o MDB foi utilizado pelas massas
para manifestar eleitoralmente seu repúdio ao arbítrio.

Tampouco pretendemos ignorar a existência, entre seus
quadros, de políticos honestamente comprometidos com as lutas
populares. [...] O MDB, pela sua origem, pela sua ineficácia
histórica, pelo caráter de sua direção, por seu programa pró-
capitalista, mas, sobretudo pela sua composição social
essencialmente contraditória, onde se congregam industriais e
operários, fazendeiros e peões, comerciantes e comerciários,
enfim, todas as classes sociais cujos interesses são
incompatíveis e onde, logicamente, prevalecem em toda a linha
os interesses dos patrões, jamais poderá ser reformado. A
proposta que levantam algumas lideranças populares de ëtomar
de assaltoí o MDB é muito mais que insensata: é fruto de uma
velha e trágica ilusão quanto ao caráter democrático de setores
de nossas classes dominantes.41

As movimentações destinadas à reorganização do PTB,
realizadas em torno de Leonel Brizola, também foram objeto de
críticas. No exílio, Brizola havia iniciado uma revisão crítica da
trajetória do PTB no período anterior a 1964 e preconizava uma
aproximação com a social-democracia européia.

O novo partido deveria reunir, além dos operários fabris,
os movimentos sociais, os trabalhadores não envolvidos
diretamente com a produção e os profissionais liberais. Contudo,
reafirmava seu repúdio à presença não só de burgueses, mas,
também, de seus representantes:

O PT se declara aberto à participação de todas as camadas
assalariadas do país.[...] ...o PT recusa-se a aceitar em seu
interior representantes das classes exploradoras. Vale dizer, o
Partido dos Trabalhadores é um partido sem patrões!42

A elaboração dessa Carta de Princípios foi realizada, pela
Comissão Provisória, em um processo coletivo que incorporou,
inclusive, contribuições externas à Comissão, conforme
depoimento de Paulo Skromov:

Na reunião de fevereiro [de 1979] em São Bernardo, já tinha
um projeto da Convergência apresentado pelos metalúrgicos
de Santo André e eu tinha levado um rascunho de um outro
projeto.[...] No projeto da Convergência havia basicamente
um problema político: a Convergência queria que o PT fosse
igual ao Labor Party inglês. A proposta dela dizia
textualmente: ëTodo mundo que se filiasse ao Sindicato, e
todo trabalhador sindicalizado era automaticamente filiado
ao partidoí.43

A idéia de tomar o Partido Trabalhista Inglês como modelo
para a organização do PT no Brasil era realmente um traço
presente nas elaborações da Convergência Socialista desde as
formulações produzidas pela Liga Operária. Entre as dificuldades
geradas pela associação entre os sindicatos e o novo partido
encontrava-se a legislação brasileira que vetava as filiações
coletivas. O texto final da Carta de Princípios, contudo,
incorporava muitos elementos do texto que havia sido proposto
pela Convergência Socialista, como o próprio Paulo Skromov
assinala: O projeto deles tinha sido rejeitado, mas várias passagens do
texto deles foram agregadas para valorizar. Não tinha porque não se
fazer, se era exatamente o que nós pensávamos.44

Paulo Skromov apresentou um texto para servir de base
para a elaboração da Carta de Princípios. Ele informou que foi
auxiliado, nessa tarefa, por Fábio Munhoz, que também era um
militante de formação trotskista e havia integrado o Grupo
Primeiro de Maio.45

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco,
Henos Amorina, havia se declarado favorável a que o PT
assumisse um perfil parecido ao do partido trabalhista da
Inglaterra. Ele era um dos defensores da proposta de construir
um Partido profundamente ligado aos sindicatos: O trabalhador
precisa participar e confiar em seu sindicato. O partido deve ser uma
extensão do sindicato, enquanto o sindicato não tiver liberdade46. As
propostas formuladas pelo MCS para a configuração do novo
partido eram compartilhadas por outros membros da Comissão
Provisória:

Foi muito importante essa participação para melhorar a
qualidade do Partido dos Trabalhadores. E fez a gente tomar
muito cuidado na proposta de encaminhamento de formação desse
partido. Principalmente o pessoal da Convergência [Socialista]
que era um pessoal de uma educação política muito boa...47

Apesar do processo democrático com que a elaboração
da Carta de Princípios foi elaborada, poucos dias antes do 1. de
Maio de 1979, a divulgação do Manifesto recebeu diferentes vetos.
Um deles veio da maioria da Comissão Nacional Provisória e
outro veio de Lula.

Conforme o depoimento de Paulo Skromov, depois de
aprovado o texto final pela Comissão, a Carta de Princípios foi
entregue aos militantes da Convergência Socialista para ser
impresso porque eles tinham um belíssimo jornal, o ëVersusí, muito
bem impresso, bonito.48 Quando a Carta de Princípios ficou pronta,
no entanto, ele julgou haver um problema: embaixo vinha o
expediente, diagramado, publicado pela Editora Versus, editor
responsável Júlio Tavares etc. Algo que identificava a Carta de Princípios
com a Convergência. Skromov argumentou que a identificação com
a Convergência Socialista traria prejuízos para o Movimento pelo
PT:

Ora, a Convergência tinha uma campanha no país que tudo
que acontecia, embora 99% não fosse de sua responsabilidade,
mas era atribuído a ela. Era uma campanha de queimação da
Convergência. A grande imprensa divulgava que aconteceu
uma maluquice não sei aonde e foram os xiitas da Convergência,
um negócio desse tipo. Para um movimento que tinha que
crescer no meio sindical, onde nem todo mundo era claramente
socialista, não era uma boa coisa.49

A Comissão Nacional Provisória decidiu não distribuir a
Carta de Princípios impressa pela editora Versus: Não distribuímos.
Depois a gente vê o que faz com isso. Mas é proibido sair um número
dessa impressão. Henos, que tinha um mimeógrafo elétrico, rodou 1.500,
datilografado.50

Apesar do veto em distribuir o material impresso pela
gráfica do Versus, a Carta de Princípios tornou-se de conhecimento
público principalmente pela divulgação realizada pela imprensa
diária. Lula, no entanto, expressou diferenças mais profundas
quanto aos encaminhamentos que deveriam ser tomados no
processo de formação do PT, revelando suas divergências,
inclusive, com a Comissão Provisória:

Eu disse aos companheiros que lançaram aquele esboço de
programa que a coisa foi muito precipitada, porque entendo
que deveríamos procurar outros setores da sociedade antes de
lançar qualquer coisa. [...] Se queríamos lançar um partido de
assalariados, juntando todos os setores da sociedade que vivem
de salários, deveríamos conversar com todos os setores da
sociedade para que cada um desse sua opinião e, a partir daí
levar a coisa para discussão nas bases.51

Havia no MDB grupos de parlamentares que conservavam
ligações com os movimentos sociais e os sindicatos. Esses setores
do MDB haviam produzido várias críticas à formação do PT. Entre
elas a de que o referencial de classe, que o PT estava assumindo,
estaria definindo contornos muito restritivos à participação no
novo partido. Lula julgava possível e necessário incorporar esses
setores do MDB ao novo partido:

Eu acho que antes de fazer qualquer coisa, é necessário conversar
com muita gente. Existe muita gente boa por aí para ser
consultada. Eu vou dar alguns exemplos: querer criar um
partido hoje impõe necessariamente conversar com um cara
como o Jarbas Vasconcelos, que tem uma enorme liderança no
Nordeste. [...] Fernando Henrique Cardoso, Chico de Oliveira...
Tem várias pessoas. Senadores e deputados mais progressistas,
o MDB, o pessoal de atitudes mais coerentes... Mas nada
definido ainda. Temos de conversar com várias pessoas para
reunir um grupo disposto a organizar um partido em que a
classe trabalhadora predomine.52

A Comissão Provisória estava enfrentando um problema
gerado pelas oscilações políticas de Lula. Ele já havia se tornado
o centro de equilíbrio do novo partido e a Comissão tinha
consciência de que não haveria um Partido dos Trabalhadores
sem o apoio dele. Apesar de ter comparecido à primeira reunião
da comissão, em fevereiro, ele ausentou-se das articulações
políticas para dedicar-se integralmente à organização da
campanha salarial em 1979. Lula declarou ter participado da
elaboração e de haver tomado conhecimento da Carta de
Princípios sem fazer objeções ao seu texto final. Quando ele
declarou-se contrário ao lançamento do PT no 1º de Maio de 1979,
isso, inegavelmente, enfraqueceu o lançamento do partido. As
diferentes concepções acerca da composição social e do ritmo de
formação do Partido dos Trabalhadores estavam sendo
contornadas pela Comissão Provisória até maio de 1979, quando
elas afloraram inequivocamente.

Os motivos para que a Comissão Provisória vetasse a
distribuição da Carta de Princípios impressa pela gráfica do Versus
advinham do isolamento político que ela estava enfrentando. A
falta de unidade com os dirigentes sindicais e as críticas
provenientes do MDB à criação do PT produziam dúvidas quanto
à viabilidade do lançamento do novo partido. Nesse sentido, a
identificação da proposta de criação do Partido dos Trabalhadores
com a Convergência Socialista alimentava os receios de isolamento
político da proposta de criação do PT e de que o MCS viesse a
controlar o novo partido.

A decisão da Comissão de realizar uma tímida distribuição
da Carta de Princípios em um impresso de formato clandestino e
mimeografado e a aproximação de Lula aos parlamentares do
MDB, identificados com a Tendência Popular, que era integrada,
entre outros, por Fernando Henrique Cardoso refrearam as
atividades destinadas à formação do PT. Esse processo abriu a
possibilidade de voltar a discutir a conformação dos contornos
políticos e ideológicos que o PT deveria assumir. Para isso foi
realizado o Encontro de São Bernardo. Ele ocorreu durante os
dias 2 e 3 de junho de 1979 e reuniu sindicalistas, intelectuais,
políticos e militantes da esquerda organizada, conforme
depoimento do jornalista Perseu Abramo:

O Almino Afonso formava parte de uma articulação que estava
começando a pensar na possibilidade de criação de um partido
novo, diferente do MDB e dos partidos de esquerda
tradicionais. Essa articulação reunia principalmente
intelectuais de esquerda, políticos do tempo de João Goulart,
que voltavam do exílio e da prisão (continuavam o Almino,
Plínio de Arruda Sampaio), velhos militantes sindicais dos
tempos do Partidão, novos militantes sindicais ligados à igreja
progressista e aos movimentos de Oposição Sindical, antigos
membros do antigo PSB de antes da ditadura... Esse novo
partido queria ter características socialistas, democráticas,
populares. A articulação chegou a realizar várias reuniões 3/4
em alguns casos em locais alugados da Igreja Católica 3/4 e
produziu muitos documentos de caráter analítico e
programático que, posteriormente, inspiraram em grande parte
os documentos básicos do Partido dos Trabalhadores. Essa
articulação foi uma das principais precursoras do PT, na medida
em que a maior parte de seus integrantes optaram por formar o
PT.53

A falta de acordo no encontro de São Bernardo marcou o
fim das negociações com os setores do MDB para a formação de
um novo partido que incluísse os sindicalistas.

Segundo o depoimento de Wagner Benevides:
Já estávamos com a proposta do PT nas ruas e eles não. Eles
tinham a proposta do tal do PP, do Partido Popular. Mas não
falavam, esconderam isso da gente. E aí o MR-8, o Partidão,
todo mundo entrou no meio para tumultuar isso e inviabilizar
a proposta. Os do MR-8 tinham como missão implodir o PT a
qualquer preço e em qualquer lugar. Esse encontro foi um
negócio extremamente confuso, onde as pessoas diziam assim:
ëNão, realmente vocês estão cobertos de razão, vocês são a
essência, o que vocês põem para nós são coisas que não sabíamos
e estamos aprendendo com vocês. Vocês são verdadeirosí. Eram
adulações para todos os lados, mas eles diziam também: ëVocês
estão equivocados, não podemos sair daqui sem ter uma proposta
política partidária definida.í Eles falavam uma linguagem que
nós não entendíamos. No final eles partiram para a catequese.

ëRealmente a proposta de vocês é boa, mas é inviável. É sectária,
é uma proposta que não tem futuro. É uma proposta que não
tem parlamentaresí. Nós tínhamos um, Edson Khair, único
deputado federal que ousou vir para o PT. Aí o Lula levantou e
disse: ëFoi tudo muito bonito, vocês falaram bem, mas nós
continuamos com a nossa propostaí. Aí os olhos do Olívio
brilharam, os do Skromov também.54

Passando a contar com um apoio mais decidido de Lula,
o Movimento pelo PT consolidou-se como um forte pólo, atraindo
cada vez mais setores políticos e sociais para a sua órbita,
vencendo resistências entre grupos de operários ligados aos
setores progressistas da Igreja Católica, oposições sindicais e
organizações de esquerda. Embora o único parlamentar que tenha
permanecido no Movimento pelo PT tenha sido, inicialmente, o
Edson Khair, ligado a Convergência Socialista, nos meses
seguintes ele recebeu a adesão dos deputados; Marco Aurélio
Ribeiro, Geraldo Siqueira Filho e José Eudes. Também intelectuais
reconhecidos nacionalmente se incorporariam, como Francisco
Weffort, Chico de Oliveira, além de outros. O PT foi lançado como
organização política em 13 de outubro de 1979 em São Bernardo
quando se decidiu dar forma legal ao PT.

É interessante notar que a partir desse momento, em que
as organizações de esquerda intensificavam sua aproximação com
o PT, a Convergência Socialista tendeu a se ausentar de suas
articulações. Isso não significava que houvesse se formado na
organização uma posição de repúdio ao novo partido que estava
sendo construído. Era certo que ela desenvolvia críticas a
mudanças ocorridas nas articulações a partir de maio de 1979, no
entanto, a própria organização declarou repetidas vezes que essas
modificações alcançavam apenas aspectos secundários.

O que estava acontecendo era que a Convergência
Socialista estava atravessando um período em que seu projeto
político parecia se esgotar. A organização se orgulhava em ter
participado ativamente das articulações pela criação do PT e
percebia o nascimento do novo partido político como uma vitória
política de importância histórica para os trabalhadores brasileiros.

Isso, no entanto, não impediu que ela mergulhasse em um período
de profunda crise política em que os fatores de coesão partidária
entraram em colapso.

O debate travado internamente na Convergência Socialista
revela que a crise era motivada pelas polêmicas envolvendo o
modelo partidário a ser adotado pela organização. Desde seu
lançamento o MCS, que se definia como um movimento amplo e
democrático, coexistiu com a organização revolucionária e
clandestina. Embora o MCS tenha nascido sob o signo do
isolamento político e a maior parte de suas forças militantes tenha
sido fornecida pela Liga Operária, ele só abandonou os contornos
de um movimento plural e democrático para se tornar uma
organização centralizada no início de 1979. Já a Liga Operária foi
dissolvida após os ataques que os órgãos de repressão política
realizaram contra ela em setembro de 1978. Portanto, durante seis
meses os militantes educados pela Liga Operária na tradição
leninista foram impelidos a exercerem sua militância política
exclusivamente no MCS. Esse processo de legalização forçada das
atividades partidárias foi percebido por parcelas da organização
como uma derrota do embrião do partido revolucionário.

Durante o congresso partidário realizado em outubro de
1979 foram produzidos acordos políticos que permitiram a
elaboração conjunta de um Documento de Balanço. Esse processo
levou a que a principal tendência que disputava o Congresso, a
Fração Unitária de Reconstrução do Partido (FURP), aceitasse
participar da composição da nova Direção Nacional. Logo após,
no entanto, essa fração decidiu pelo rompimento com a
Convergência Socialista alegando que a reconstrução do embrião do
partido revolucionário não passava [mais] pela CS.55

As articulações pela criação do PT estavam, inegavelmente,
enfraquecendo os fatores de coesão partidária do MCS. Havia
consenso na organização de que ela deveria apoiar a formação do
Partido dos Trabalhadores e de que ele representava a expressão
das experiências concretas vividas pela classe trabalhadora. Restava,
no entanto, resolver as questões acerca do relacionamento entre o
MCS e o PT: É no mínimo confundir os trabalhadores apresentar ao mesmo
tempo dois partidos em construção.56

A solução preconizada pela FURP para resolver as
dificuldades de relacionamento entre o MCS e o PT se constituía
num retorno do MCS à clandestinidade. Já a maioria da
Convergência Socialista alegava que o abandono da legalidade e
a militância no Movimento pelo PT produziriam a dissolução da
organização. Embora a direção majoritária possuísse a firme
convicção de que a sobrevivência da Convergência Socialista
dependia dela conseguir participar da construção do PT e ao
mesmo tempo afirmar uma identidade própria ela encontrava
dificuldades em estabelecer as relações futuras entre os dois
partidos:

O documento nacional aponta o PT como eixo fundamental
para a construção do nosso p.[partido] hoje. Assim o verdadeiro
desafio que temos é dar respostas ao PT. Damos resposta ao
PT, saímos da crise! Não damos e o p.[partido] não vai
adiante, [...] Em relação ao classismo e ao PT, propomos que
se faça um documento que arme o p.[partido] em todos os seus
distintos setores e atividades, de como trabalhar no classismo e
na campanha pelo PT.57

A disputa política no pré-congresso foi muito intensa.
Como resultado, de maio até outubro de 1979, a organização,
dedicando-se quase exclusivamente aos seus debates internos,
ausentou-se em grande medida das atividades e dos eventos
político que ocorriam na sociedade, inclusive dos debates
promovidos em torno do Movimento pelo PT. De forma geral, as
organizações de esquerda que afluíram ao PT também se sentiram
pressionadas a dissolver suas estruturas partidárias, mas isso é
outra história.
57


NOTAS:
1 Pesquisador associado do Laboratório de Estudos do Tempo Presente.
<moutta@ig.com.br>.
2 Este artigo é uma versão dos capítulos iniciais da minha dissertação de
mestrado: FARIA, M. M. de. Partido Socialista ou Partido dos Trabalhadores?:
Contribuição à história do trotskismo no Brasil: a experiência do Movimento
Convergência Socialista, 2005. Dissertação (Programa de Pós-Graduação
em História Comparada)-da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2005. Orientação do Prof. Dr. Sidnei Munhoz.
3 HOBSBAWM, E. J. Revolucionários. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. p.16.
4 Na década de 1930, a tática do entrismo havia sido adotada pelas recém-formadas
Ligas Comunistas, de inspiração trotskista. A Europa vivia, então,
uma conjuntura política explosiva e os partidos socialistas contavam com
correntes de esquerda que os trotskistas acreditavam ser possível
influenciar. Já na década de 1950 o 3º Congresso Mundial da 4ª
Internacional, adotou novamente a tática do entrismo. A conjuntura era
bastante diversa. No entanto, o desenvolvimento da Guerra Fria havia
impressionado a jovem direção da 4ª Internacional a qual elaborou
prognósticos políticos que concediam à burocracia Soviética e aos Partidos
Comunistas um papel político progressista, a partir das avaliações de que
o socialismo seria vitorioso com a própria resolução da Guerra Fria. Dessa
vez foram ampliadas as possibilidades de realização e foi proposto que os
trotskistas ingressassem, também, nos partidos comunistas. Essa decisão
gerou tensões na Internacional e a organização francesa, dirigida por Pierre
Lambert, recusou-se a praticar o entrismo no Partido Comunista Francês e
foi expulsa pela direção da 4ª Internacional.
5 MARQUES NETO, J. C. Solidão revolucionária: Mário Pedrosa e as origens
do trotskismo no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. Mário Pedrosa
foi um dos organizadores da primeira geração de trotskistas no Brasil.
Ainda na década de 1920 aderiu à Oposição de Esquerda liderada por
Leon Trotski. Mário Pedrosa mantinha ligações políticas e pessoais com o
SWP desde a década de 1930, quando foi dirigente da Internacional.
6 O Secretariado Unificado reunia a maioria das organizações políticas que
integravam a 4ª Internacional.
7 Hugo Miguel Bressano Capacete mais conhecido como Nahuel Moreno
nasceu em 21 de abril de 1924 em Alberti, um povoado da província de
Buenos Aires. Ele foi um dos fundadores do Grupo Operário Marxista
(GOM) em 1944. Em 1953 ele rompeu com a maioria da 4ª Internacional e
em 1957 formou o Secretariado Latino-Americano do Trotskismo Ortodoxo
(SLATO). Em 1972, junto com o SWP, formou a Tendência Bolchevique
Leninista com a qual a Liga Operária manteve contatos políticos regulares.
Morreu em 25 de janeiro de 1987.
8 As discussões sobre o emprego de guerrilhas como método revolucionário
intensificaram após a Revolução Cubana. A maioria da 4ª Internacional,
identificada com o dirigente Ernest Mandel, recusou-se a organizar um
partido trotskista em Cuba. Essa política foi contestada por minorias, entre
elas as representadas pelos dirigentes trotskistas Lambert e Nahuel Moreno.
No Brasil a Democracia Socialista referenciava-se em Mandel, a
Convergência Socialista em Nahuel Moreno e O Trabalho, em Lambert.
Após a revolução nicaragüense, voltaram a ser discutidas questões muito
parecidas o que aproximou Nahuel Moreno de Lambert. No Brasil, nesse
período, a Convergência Socialista e O Trabalho mantiveram um comitê
de enlace e desenvolveram atividades em comum.
9 Independência Operária, [Rio de Janeiro], p. 3, jun. 1974.
10 Bernardo Cerdeira: entrevista [julho 2003]. Entrevistador: Marcos Moutta
de Faria. São Paulo, 2003. (Bernardo Cerdeira integrava a Liga Operária e
o MCS.)
11 KUCINSKI, B. O fim da ditadura militar. São Paulo: Contexto, 2001. p. 82.
12 Porque um partido socialista? [S.l.], [1977?]. p. 11. Biblioteca do Centro
Pastoral Vergueiro, São Paulo. Mimeografado.
13 Ibid., p. 3.
14 Ibid., p. 4.
15 A BIONOCRACIA. Versus, São Paulo, p. 10, dez. 1977. Grifo do autor.
16 EDITORIAL. Versus, São Paulo, p. 2, out. 1977.
17 KECK, M. E. PT: a lógica da diferença: o Partido dos Trabalhadores na
construção da democracia brasileira. São Paulo: Ática, 1991. p. 55.
18 BERBEL, M. R. Partido dos Trabalhadores: tradição e ruptura na esquerda
brasileira (1978-1980). 1991. Dissertação (Mestrado em História)-Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1991.
19 DANTAS JUNIOR, A. (Ed.). Lula sem censura: ì...e aí a peãozada partiu
pro pauî. Rio de Janeiro: Vozes, 1981. p. 39.
20 SADER, E. Quando novos personagens entraram em cena: experiências e lutas
dos trabalhadores da Grande São Paulo 1970-1980. São Paulo: Paz e Terra,
1988. p. 229.
21 Ibid., p. 233.
22 JOAQUIM com os dias contados. Em Tempo, São Paulo, jul. 1978.
23 SADER, 1988, p. 257.
24 Ibid., p. 251.
25 Ibid., p. 261.
26 HARNECKER, M. O sonho era possível. Havana: Casa América Livre, 1994.
p. 73.
27 ALMEIDA, J. M. José Maria de Almeida: depoimento [ago. 2003].
Entrevistador: Marcos Moutta de Faria. Santo André, 2003. (José Maria
de Almeida era metalúrgico em Santo André desde 1971 e membro da
clandestina Liga Operária desde maio de 1977).
28 Tornou-se pública a orientação da FIESP para que as fábricas impedissem a
permanência de trabalhadores em greve dentro das fábricas e, uma vez
que os trabalhadores estivessem nas ruas, a orientação era para que as
forças policiais fossem acionadas.
29 HARNECKER, 1994, p. 65.
30 MENEGUELLO, R. PT: a formação de um partido 1979-1982. São Paulo:
Paz e Terra, 1989. p. 67.
31 A proposta de criação do Partido dos Trabalhadores, articulada pelos
metalúrgicos de Santo André e aprovada como uma moção no Congresso
de Lins, ficou conhecida como a Tese de Santo André-Lins. A obra
publicada pela Editora Perseu Abramo reunindo as resoluções do PT
também consagra esse nome e a Tese de Santo André-Lins abre a coleção
de documentos partidários.
32 FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Resoluções de encontros e congressos. São
Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998. p. 47.
33 FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1998, loc. cit. Grifo do autor.
34 Ibid., p. 49.
35 HARNECKER, 1994, p. 135.
36 PARTIDO dos Trabalhadores prós e contras. Em Tempo, São Paulo, n. 49,
p. 6, fev. 1979.
37 HARNECKER, 1994, p. 65.
38 BERBEL, 1991, p. 69. Paulo Skromov depois de desligar-se da Organização
Socialista Internacionalista passou a animar um pequeno agrupamento
denominado Organização Mobilização Operária (OMO).
39 FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1998, p. 49.
40 Ibid., p. 50.
41 Ibid., p. 54.
42 Ibid., p. 53.
43 HARNECKER, 1994, p. 66.
43 HARNECKER, 1994, p. 66.
44 Ibid., p. 74.
45 BERBEL, 1991, p. 81.
46 O PARTIDO deve ser uma extensão do sindicato. Em Tempo, São Paulo, n.
49, p. 6, 1 fev. 1978.
47 HARNECKER, 1994, p. 74.
48 Ibid., p. 163.
49 Ibid., p. 75.
50 Ibid., p. 76.
51 Núcleo ampliado de professores do PT, 1981, p. 222.
52 Ibid., p. 223.
53 HARNECKER, 1994, p. 79.
54 Ibid., p. 80.
55 Declaração da Fração Unitária de Reconstrução do Partido (FURP), 1979, p. 1.
56 Declaração da Tendência Esquerda Proletária, 12 jul. 1979, p. 7.
57 BALANÇO: setembro de 1978, p. 66. Grifo do autor.




































































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