DA REPRESENTAÇÃO À APRESENTAÇÃO: CRÍTICA HEGELIANA À
MATEMÁTICA COMO MÉTODO PARA A FILOSOFIA. 1
Alexandre de Moura Barbosa. 2
Resumo
O presente artigo pretende mostras a crítica especulativa de Hegel ao conceito
epistemológico de representação em especial à matematização do método pela matemática.
Esta matematização do real é resultado da objetivação do entendimento na modernidade
especialmente com as implicações da filosofia cartesiana no cerne da modernidade. Para
Hegel, tal representação epistêmica do real é uma redução abstrativa da realidade do real,
ou seja, há uma perda substancial da totalidade que constitui o real do objeto. Este, por sua
vez, possuiria sua verdade apenas como representação. Hegel almeja contrapor-se a esta
posição moderna, redimensionando os procedimentos metodológicos (que possuem uma
parte de verdade do real), mas que não podem englobar esta mesma totalidade. Destarte,
Hegel diferencia esta representação (Vorstellung) moderna, do conceito apresentação
(Darstellung), que seria a forma especulativa de expor a totalidade do real, superando a
cisão sujeito-objeto.
PALAVRAS-CHAVES: REPRESENTAÇÃO; APRESENTAÇÃO; ESPECULAÇÃO;
IDEALISMO ALEMÃO.
Crítica à metodologia moderna e as ciências matemáticas.
“
A matemática se orgulha e se pavoneia frente à filosofia – por causa desse conhecimento
defeituoso, cuja evidência reside apenas na pobreza de seu fim e da deficiência de sua
matéria; portanto, um tipo de evidência que a filosofia deve desprezar.”
3
Com o advento das ciências, na moderni
dade, o método ou o “caminho correto” e
adequado para o conhecimento, tornou-se questão essencial. As exigências dessas ciências
emergentes
– que se diferenciaram da antiga metafísica, em sua relação com o objeto –
foram a de estabelecer novos procedimentos para o desenvolvimento de seu conhecimento
da natureza. Esta mudança de procedimento de mediação do sujeito com relação à
natureza, tornando-se o quê constitui o método de tais ciências denominadas de naturais.
Tal método tinha na utilização e instrumentalização da experiência sua base para
aferimento e comprovação de seu conhecimento. A matemática exerceu função essencial
nesta transformação do método clássico para o moderno, fixando-se como o parâmetro
metódico do procedimento, para correta e adequada representação da realidade. Com
efeito, a matematização é o que constitui o próprio método científico, em sua formulação
de princípios e leis abstratas sobre a natureza. Esta abstração metodológica é importante
para sua generalidade, pois o experimento deve poder ser repetido nas mesmas condições e
ser válido universalmente. A filosofia foi influenciada por este procedimento abstrato,
tomando como seu método o das ciências naturais, que se denominou como
more
geométrico,
ou “à maneira dos geômetras”.
Assinala-se que o
more geométrico, um método decorrente da matemática clássica,
é reestruturado pela matemática moderna, em que se apresenta uma cadeia de deduções
que conduz às sentenças dadas a partir de proposições já intuídas de forma axiomática.
Suas sentenças constituem silogismos com base no juízo, que como já visto, é formado por
um sujeito e um predicado, ligados pelo verbo
ser, que relacionam em tais silogismos a
particularidade (sujeito) e a universalidade (predicado). Nesta relação estabelece o método
de demonstração como analítico e sintético, cuja distinção pertencente à própria
matemática desde a antiguidade
4. Esta diferenciação metodológica do método de
demonstrar se encontra em Hegel: “o conhecimento é primeiro analítico: o objeto tem para
ele a figura da singularização, e a atividade do conhecimento analítico visa reconduzir o
singular que se lhe depara a um universal”
5. Este procedimento do conhecimento é comum
para os empiristas, na medida em que há uma decomposição do objeto em elementos
abstra
tos e examinados isoladamente; “o objeto tratado analiticamente é aí considerado,
por assim dizer, como uma cebola, a que se retira uma casca depois da outra”
6. O método
sintético, para Hegel, seria o contrário do procedimento analítico, cujo “universal (c
omo
definição) forma o ponto de partida, por meio da particularização (na divisão) avança em
direção ao singular (o teorema)”
7. Com efeito, estas relações demonstrativas, que marcam
o pensamento, são utilizadas unilateralmente pelo procedimento construtivo-matemático
para obtenção do conhecimento nas ciências modernas.
A crítica à matemática como método da filosofia não é moderna. Em Platão, na
Republica, há um comentário crítico sobre este método de conhecimento pertencente a
diánoia
(ou nas categorias hegelianas, entendimento), que possui necessariamente como
ponto de partida da dedução da hipótese; já a filosofia, como epistéme, pretende ir ao
princípio em-si, ao a-hipotético, que seria propriamente o noético (a Razão), o fundamento
que suprassumiria todas as hipóteses e seria pressuposta pelas mesmas
8. Para Hegel, a
matemática, que a física moderna toma como parâmetro para o seu procedimento, resulta
em uma interpretação formalista da natureza, do mundo, mas apenas tange a coisa mesma.
Trata-se de uma linguagem abstrata sem demonstração dos pressupostos de suas
proposições axiomáticas. O método matemático utilizado para análise dos fenômenos
naturais, como na física newtoniana, é uma abstração formal da realidade a qual pretende
representar, pois seus conceitos, como peso, velocidade, etc, não são tratados em sua
constituição e relação essencial, mas já tomados como formas prontas; por exemplo, ao
falar de velocidade, abstrai-se da relação que existe e é pressuposta formalmente entre o
espaço e o tempo, a ciência não pode deduzir seus conceitos de forma intrínseca
necessária, isto se deve a uma relação externa entre o conteúdo e a forma de apreendê-lo. A
imperfeição de tal representação consiste no fato de que a geometria abstrai do tempo e a
aritmética do espaço na representação formal no interior da subjetividade, enquanto o
objeto real é situado espaço-temporalmente. A representação matemática do mundo,
própria ao entendimento subjetivo, tem como tarefa a análise das partes decompostas,
isolando o que há de concreto no objeto, isto é, as diferenças, conferindo-lhes a forma
subjetiva de uma identidade abstrata e formal do tipo A=A
9. Tal abstração provoca uma
formalização do conhecimento, que cinde forma e conteúdo, que têm na representação sua
possibilidade de síntese subjetiva, o que pode gerar arbitrariedades:
no conhecimento matemático, a intelecção é para a Coisa um agir
externo; segue-se daí que a verdadeira Coisa é por ele alterada. O meio
[desse conhecimento]
– a construção e a demonstração – contém
proposições verdadeiras; mais também se deve dizer que o conteúdo é
falso.
10
O método matemático, ressalta Hegel, privilegia o aspecto formal, exterior e
extrínseco ao conteúdo, que é o próprio objeto, constituindo-se numa representação
abstrata que implica uma cisão entre a forma e seu conteúdo, ou ainda, em uma diferença
(Differenz) externa, um estranhamento (Entfremdung), entre os dois, que torna contingente
esta relação. Na representação o espírito se mostra nesta justaposição, que ainda está presa
à materialidade intuída, que é representada como a interiorização da imediatez da
intuição
11. Assim, a representação teria um sentido subjetivo ou ainda psicológico que
estabelece uma separação entre os conteúdos e o espírito, no interior do próprio espírito.
Enquanto separação recíproca há uma duplicação do mesmo conteúdo (conteúdo
conhecido, o objeto externo, e conteúdo que sabe que conhece, o saber). Tal interiorização
representativa não constitui uma diferença interna no entendimento, mas puramente
externa, pois o material continua passivo e imaginado no espírito, correspondendo a um
movimento segundo uma reciprocidade externa entre o objeto e o saber. Desta forma, a
ciência moderna, que pretende com o método formal da matemática conhecer a natureza,
expõe-se como um conhecimento inefetivo, baseado em uma representação abstrata da
realidade, que não atinge a realidade efetiva mesma.
1. Sobre o desenvolvimento do conceito de Apresentação (Dastellung)
especulativa em Hegel.
Hegel pretende tornar a filosofia uma ciência, como pretendia Fichte, uma ciência
dos princípios
12, ou melhor, num programa comum com Schelling, o estabelecimento de
uma
ciência do Absoluto. Schelling, no entanto, foi influenciado em sua filosofia da
identidade por um modo do espinosismo13, compreendendo o Absoluto como Substância
postulada na forma de uma Identidade Absoluta do sujeito-objeto objetiva, a partir da qual
se deduz a totalidade,
more geométrico. Quanto ao saber, esta Identidade é pressuposta
como condição para o próprio filosofar: “o
primeiro passo para a filosofia e a sua condição
[...] é a compreensão de que o absolutamente ideal é absolutamente real”.
14 Sob este
prisma, Schelling coloca como fundamental na identidade absoluta o conceito de
Indiferença (
Indifferenz) entre o real e o ideal, que se dá de forma imediata numa intuição
intelectual
15, da qual se deduz, já na Identidade, a não-Identidade do Real (Natureza) e do
Ideal (Espírito). O saber dos fenômenos precisa, no caso de Schelling, reconhecer que só o
saber filosófico atinge o ato-de-conhecimento absoluto, contraposto à consciência comum.
Segundo ele, “o absoluto é, como talvez todo aquele que tem alguma capacidade de
meditar admite por si só, necessariamente identidade pura, é somente absolutez e nada
outro, e a absolutez, por
si, só é igual a si mesma”.16 Para Hegel, todavia, esta posição de
Schelling acerca do saber absoluto é uma tautologia formal, do universal abstrato, que se
torna uma violência contra a consciência comum, pois “para a consciência natural, confiar
se
imediatamente à ciência é uma nova tentativa que ela faz andando de cabeça para
baixo”
17. À consciência comum é requerido imediatamente que aceite a “identidade pura”
sem saber de sua necessidade na filosofia schellingiana. O Idealismo objetivo de Schelling
cairi
a, para Hegel, em um “formalismo monocromático” tão insubstancial (abstrato),
quanto a sua substância mesma, por ser uma unidade indiferente e indefinida
qualitativamente da totalidade que a constitui.18
Frente às posições tanto da representação, em especial a filosofia de Kant, quanto
da intuição, da filosofia da identidade de Schelling, Hegel propõe o ponto de vista de que a
“substância deva ser
também sujeito”, e com isto, superar a parcialidade de ambos, em que
de um lado se tem um sujeito sem “substância”, pura subjetividade “vazia”; de outro uma
substância sem o sujeito, pura ontologia “cega”. É nessa perspectiva de síntese entre
substância e sujeito, que Hegel articula o movimento que pretende suprassumir a
representação, negando nesta a diferença (
Differenz) externa, que está associada à relação
empírica de reprodução da realidade externa no sujeito, e que continua cindida no interior
do próprio sujeito como representação; e através de tal negação imanente, conserva uma
diferenciação (
Unterscheindung) interna no seu próprio conteúdo. Tal movimento é
chamando por Hegel de
Darstellung, isto é, apresentação (exposição, explicação)19. Esta
apresentação
, que é um conceito central na filosofia hegeliana, é um movimento
sistemático complexo que engendra em suas proposições o saber propriamente
especulativo e conceitual, que no sentido hegeliano não sendo uma abstração, mas, antes,
é o concreto em si e para si, e por isso mesmo, o Absoluto de forma conceitual. Tal
exposição conceitualizante do Absoluto através da apresentação especulativa é, de um
lado, uma crítica indireta a imediatidade intuitiva de Schelling e sua utilização a uma
estrutura do formal axiomático-dedutivo, segundo o qual admite de antemão o quê se
pretende provar, sem uma real demonstração necessária de tais pressupostos, ou seja, o
método geométrico
como em Spinoza20; de outro, como uma crítica da mediação finita da
representação na própria filosofia da subjetividade (Descartes, Kant e Fichte). Este
movimento de
apresentação é uma autodiferenciação qualitativa imanente ao conteúdo,
em que o formalismo é negado, já que “a forma é o vir
-a-ser inato do próprio conteúdo
concreto”,
21 que, ao se diferenciar e negar suas determinações contraditórias, as
suprassume em uma posição mais elevada ou conceitual
, que é a “Coisa mesma”. Deste
modo, a
apresentação desenvolve-se tanto subjetiva como objetivamente, relacionando o
sujeito com seu substrato ontológico, o que garante metodologicamente uma unidade entre
Epistemologia
, exposição do saber, e Ontologia, exposição da realidade; restaurando a
totalidade da ciência metafísica, a partir de uma crítica interna a seu próprio
desenvolvimento objetivo.
2. Síntese especulativa na apresentação fenomenológica.
A questão metodológica moderna é caracterizada por Hegel como algo unilateral,
que separa análise e síntese como formas independentes entre si de demonstração da
verdade. Esta posição crítica diante das filosofias da subjetividade, que possuem como
fundamento a representação, está vinculada à crítica da cisão sujeito-objeto, assim como ao
problema do método associado a tal situação. O método moderno, de fato, é caracterizado
como um instrumento formal, principalmente em sua associação com a matemática22, que
não toca a essência, ou melhor, o conceito, que é a verdade. É através da
apresentação na
Fenomenologia
, que veremos melhor no decorrer deste trabalho, que está diretamente
relacionada com o conceito de Experiência, que Hegel almeja solucionar este problema
entre o método e a verdade. Esta experiência é o motor da
apresentação, “rumo ao
verdadeiro saber”, que não é só teórico, mas se põe como saber de si e do mundo. A
experiência significa inicialmente um sentido amplo, de uma atitude quotidiana frente à
realidade. Assim poderíamos dizer que Hegel retorna,
mutatis mutandis, ao ponto de vista
de Descartes, Kant e Fichte
23, de uma subjetividade (certeza) que se aparta da objetividade
(verdade efetiva), porém que não permanece neste modelo, pois mostra sua autocontradição
imanente, o que o leva a superá-lo. De toda forma, a
apresentação trata deste
elevar-se
da consciência ao espírito por meio da experiência de si mesma, cumprindo o
“caminho da alma que percorre a série de suas
formações [Gestaltungen] enquanto
estações que lhes são prescritas por sua natureza”.
24 Assim a experiência torna-se a questão
central na
apresentação fenomenológica, desenvolvendo o conteúdo e a forma em
movimento até a concretude, que é a ciência.
O Método fenomenológico é o caminho e o ato de caminhar para a Verdade, já que
o conteúdo e forma se movimentam imanentemente no conceito em um movimento de
autodiferenciação a de autodeterminação, ou melhor, num movimento dialético. Assim, o
método não pode se separar do seu próprio conteúdo, sendo um movimento no interior da
Coisa mesma, a verdade em si e para si. O resultado é a síntese entre saber (subjetivo) e
verdade (objetiva), que foi posta cindida pela modernidade e que caracterizada o próprio
movimento da Experiência da
Fenomenologia do espírito, que faz cada vez mais o
subjetivo (ou o saber), penetrar no objetivo (ou na verdade), até que sejam um só no Saber
Absoluto que é o resultado final da
apresentação.
Conclusões
Por fim, a
apresentação nos leva a considerar a relação entre método e a verdade.
Ou melhor: como se dá seu desenvolvimento no interior da própria verdade, já que para
Hegel a verdade do método representacional moderno não abarca a totalidade do Absoluto.
Esta limitação metodológica imposta pela cisão entre forma e conteúdo, sujeito e objeto,
que marca a modernidade no desenvolvimento de sua ciência.
A crítica a posição matematizante do mundo posta por Hegel é concomitantemente
uma crítica às filosofias que se pretendem utilizar (mesmo de intuitivamente, ou ainda,
indiretamente) o método axiomático das matemáticas para estabelecer seus princípios.
Trata-se de uma separação entre a forma metodológica e seus conteúdos reais, entre o
espírito e a sua própria letra. Re-estabelecer uma metodologia própria da filosofia como
forma especulativa, ou seja, com síntese sujeito-objeto é o que a apresentação hegeliana se
pretende. Esta apresentação tal como é exposta na Fenomenologia do espírito é mediada
pela negatividade imanente da experiência, que supera a cisão sujeito-objeto.
Bibliografia
AQUINO, J. E. F. “Diferença e singularidade: notas sobre a crítica de Hegel a Spinoza”.
In.:
Philosophica, Faculdade de letras de Lisboa, Lisboa, nº 28, 2006 pp. 109-133.
BORGES, Maria de Lourdes. “Será o hegelianismo uma forma de espinosismo?”. In:
Discurso, nº 30, São Paulo, (1999), 63-85 e MACHEREY, P. Hegel ou Spinoza. Paris:
Editions La Decouvert, 1990,.259 pp
CHAUÍ, M. “Espinosa e a essência singular”. In. Cadernos espinosanos, nº VIII, São
Paulo, (2002), 9-41.
DESCARTES, R.
Resposta do autor às segundas objeções as Meditações. Obras
escolhidas. São Paulo: Difusão Européia do Livro, [s/d].
HEGEL, G. W. F.
Phänomenologie des Geistes [1807]. Frankfurt-am-main: Suhrkamp-
Taschenbuch Wissenschaft, 1986. (Traduções brasileiras:
Fenomenologia do espírito. vol.
I e II. Trad: Paulo Meneses. Petrópolis: Vozes, 1988;
Fenomenologia do espírito,
Prefácio, Introdução, capítulos I e II. Coleção Os Pensadores. Trad: Pe. Henrique C. de
Lima Vaz. São Paulo: Nova Cultural, 1998, pp.295-367).
_____.
Differenz des Fichteschen und Schellingschen Systems der Philosophie [1801].
Frankfurt-am-Main, Suhrkamp-Taschenbuch Wissenschaft, 1986. (Tradução espanhola:
Diferencia entre los sistemas de filosofía de Fichte y Schelling
. Trad.esp.: Maria Del
Carmen Paredes Martín. Madrid: Editoral Tecnos,1990).
_____.
Science de la logique. vol. I . [1812]. Trad.fran.: P.-J. Labarrière et Gwendoline
Jarczyk. Paris: Aubier Montaigne, 1981.
_____.
Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio. Vols. I e III. Trad: Paulo
Meneses. São Paulo: Loyola, 1995.
_____.
Lecciones sobre la historia de la filosofía. vols. I, II e III. Tr. esp.: Wenseslao
Roces . México: Fondo de cultura económica, 1995.
HYPPOLITE, Jean.
Gênese e estrutura da Fenomenologia do espírito de Hegel. Trad.
Sílvio Rosa Filho. São Paulo, Discurso Editorial, 1999.
LUFT, Eduardo.
Para uma Crítica interna ao sistema de Hegel. Coleção: Filosofia.
Porto Alegre: EDPUCRS, 1995.
MACHEREY, Pierre.
Hegel ou Spinoza. 2a. ed. Paris:La Découverte, 1990.
MORUJÃO, C. Schelling e o problema da individuação (1792-1809). Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2004.
PHILONENKO, Alex. Lecture de la Phénoménologie de Hegel: Préface-Introduction.
Paris: Libraire Philosophique J. Vrin. 1993.
PLATON.
Obras completas. Tr esp.: Maria Araujo, Francisco Garcia Yagüe, Luis Gil, et
alli. 2ª. ed. Madrid: Aguilar, 1969.
SCHELLING, F.W.J.
Exposição da idéia universal da filosofia em geral e da filosofiada-
natureza como parte integrante da primeira
. [Coleção Os Pensadores.]. Trad.br.:
Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1989.
SCHELLING, F.W.J.
História da Filosofia Moderna: Hegel. [Coleção Os Pensadores].
Trad.: Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1989.
RAMETTA, G.
Concetto del tempo: Eternitá e “Darstellung” speculativa nel pensiero di
Hegel. Padova: ed. FrancoAngeli, [s/d].
-------------------------------------------
NOTAS:
1
Este artigo é parte de minha dissertação de mestrado defendida na UFC em 2007.
2
Universidade Federal do Ceará – UFC / Campus Cariri. Doutorando da Universidade Estadual de
Campinas. E-mail: alexandre_mb@ufc.br
3
HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito, p.44. De agora em diante citarei abreviado como F.E. p.X
(Y). Onde X é a pagina na edição brasileira, e Y pagina na edição alemã:
Phänomenologie des Geistes
[1807]. Frankfurt-am-main: Suhrkamp-Taschenbuch Wissenschaft, 1986.
4
Exposta por Descartes na Resposta do autor à 2ªs objeções a Meditação, como “a ordem e a maneira de
demonstrar”, que “é dupla: uma se faz pela análise ou resolução, e a outra pela síntese ou composição”. Ver.
DESCARTES, R.
Resposta do autor às segundas objeções as Meditações. Obras escolhidas. São Paulo:
Difusão Européia do Livro. p.231.
5
HEGEL, G.W.F. Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio I. §227, p.359. Daqui em diante
abreviarei por: Enc. I., II ou III.
6
Idem, ibidem, loc.cit.
7
Idem, ibidem, p.359-360.
8
PLATÃO, República, livros VI e VII.
9
Enc. I, §115 pp. 27-29 e § 227, p.350. Cf. DUBARLE, Dominique e DOZ, André. Logique et dialectique,
Paris: Librairie Larousse, 1972, p.37: “
On a déjà dit plus haut comment il faut comprendre la caractérisation
hegelienne de l‟objet mathématique comme détermination abstraite de la pensée. C‟est dans le même sens
qu‟il faut considérer l‟entendement, à la fois dans l‟abstraction qu‟il fait du concret sensible et dans celle
qu‟il fait du concret spirituel et véritable de la raison”.
10
F.e. I, p.44 (p.43).
11
Ver. Enc III, §446 à §468, pp. 225-262. Nesta relação entre representação (Vorstellung) e intuição
(
Anschauung), a representação é uma mediação entre a imediatidade da intuição e a efetividade do conceito.
Há no interior da representação três modos que são distintos, mas se inter-relacionam: a) interiorização (ou
rememoração,
Erinnerung); b) imaginação; c) memória.
12
PHILONENKO, A.. Op. cit. pp.18-19: “Hegel est sur ce point parfaitement d‟accord avec Fichte. Ils sont
aussi d‟accod sur l‟idée que le savoir philosophique doit être un système et Hegel vers une conception
mathématique du système, bien que Fichte s‟oriente vers une conception mathématique du système et Hegel
vers une conception organique ; et par système ils entendent, comme chacun sait, une totalité cohérente, avec
ses articulacions précises, ses structures, gouvernée par l‟architectonique, Fichte et Hegel, après Kant, posent
comme un principe que la philosophie doit être une science dans l
a forme d‟un système.“
13
J. Hyppolite afirma haver um espinosismo em Schelling, na qual o Absoluto está para além de todo saber
como identidade. Ver. HYPPOLITE, J.
Gênese e estrutura da Fenomenologia do espírito, p. 23. Mas W.
Röd afirma que há mais um neo
platonismo que propriamente um espinosismo em Schelling, pois “a
identidade Absoluta parece ter sido concebida não tanto sob a inspiração da substância de Spinoza, mas do
uno de Plotino, que polariza em sujeito e objeto no pensar do pensar”. RÖD, W.
op. cit., p. 110. O problema
da relação entre Hegel e Spinoza não gira entorno apenas método para a filosofia, se a matemática pode ou
não ser método da metafísica especulativa, mas também do problema da singularidade no interior da
substância. Para Hegel, esta transposição arbitrária do método das ciências naturais para a filosofia, provoca
um engessamento da especulação em uma forma abstrata, estática e fixa, acaba por anular às qualidades
singulares dos objetos espirituais. Há diversas leituras sobre esta relação profunda entre Hegel e Spinoza
acerca da singularidade e do método. Sobre esta relação entre Spinoza e Hegel, ver E. Aquino que entra em
discussão com as argumentações pretendidas por M. Chauí, acerca do singular como pretensão do método
espinosiano. Ver.
AQUINO, J. E. F. “Diferença e singularidade: notas sobre a crítica de Hegel a Spinoza”.
In:
Philosophica, Faculdade de letras de Lisboa, Lisboa, nº 28, (2006), 109-133; CHAUÍ, M. “Espinosa e a
essência singular”. In.
Cadernos espinosanos, nº VIII, São Paulo, (2002), 9-41. Também sobre a relação
metodológica de Hegel com Spinoza, cf. BORGES, Maria de Lourdes. “Será o hegelianismo uma forma de
espinosismo?”. In:
Discurso, nº 30, São Paulo, (1999), 63-85 e MACHEREY, P. Hegel ou Spinoza. Paris:
Editions La Decouvert, 1990,.259 pp.
14
SCHELLING, F.W.J. Exposição da idéia universal da filosofia em geral e da filosofia-da-natureza como
parte integrante da primeira
. [Coleção Os Pensadores.]. Trad.br.: Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo:
Nova Cultural, 1989, p. 47.
15
Fichte e Schelling, cada um a seu modo, se utilizaram para a posição de seus princípios incondicionados do
artifício da intuição intelectual. Em Fichte, a síntese sujeito-objeto se dá após a abstração de todo objetivo no
puro “sujeito originário”, no entanto em Schelling o mesmo artifício chega ao incondicionado do “puro
objetivo”, a identidade absoluta, a Substância. Assim, enquanto Fichte eleva à última potência Eu = Eu, a
intuição de Schelling vai para o oposto. Restam a Schelling os seguinte
s problemas: “(1) saber quem realiza a
intuição intelectual; 2) saber o que é aquele “puro objetivo”, a que Schelling não hesita em chamar também
de „natureza‟”. Ver. MORUJÃ, C.
Schelling e o problema da individuação (1792-1809). Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2004 pp. 245-246. De fato, Schelling, admite que é o filósofo que intui e relaciona
o „puro objetivo‟ como uma objetividade intrínseca ao próprio pensar. Este puro objetivo está de tal forma
imanente que se identifica com a própria intencionalidade do ato de pensar.
16
SCHELLING, F.W.J. op.cit. , p. 49
17
F.e. I, pp. 34-35, (p.30)
18
Para Hegel, o formalismo de Schelling é universal e abstrato, em que há uma indiferença (Indiferenz) no
interior do absoluto onde tudo é uma identidade indiferenci
ada qualitativamente. “É ingenuidade de quem
está vazio de conhecimento pôr esse saber único
– em oposição ao conhecimento diferenciado e pleno; ou
então fazer de conta que seu absoluto é a noite em que „todos os gatos são pardos‟”. Ver. F.e. I, p.29, (p.
22).
Frente a esta crítica, Schelling realizará em 1827 uma exposição como o nome de
História da filosofia
moderna
, da qual dedica uma parte a criticar o sistema hegeliano, com base somente na Ciência da Lógica,
reduzindo-o a um formalismo, a uma filosofia negativa, que teria contrabandeado para o lógico as categorias
da filosofia da natureza. Acusa Hegel de utilizar a intuiçã intelectual, “lgo tã pouco cientifico” para
demonstrar o Absoluto em sua Lógica, pressupondo no começo aquilo que só no fim tem seu momento de
substancialidade. Cf. SCHELLING, F.W.J.
História da Filosofia Moderna: Hegel. [Coleção Os Pensadores].
Trad.: Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1989 pp.155-178. No entanto, segundo E.
Luft, a crítica de Schelling é externa ao sistema de Hegel, pois se caracterizaria por tratar a Lógica ainda no
interior da cisão sujeito-objeto, pré-
Fenomenologia do espírito. Por partir Schelling imediatamente da Lógica
(no esquema silogístico: Lógica-Natureza-Espírito) e assim não ter passado pela mediação da
Fenomenologia
do espírito
, considera uma intuição intelectual a posição inicial da Ciência da lógica, além de identificar a
uma determinação subjetiva, e não necessária. Ver. LUFT, E.
Para uma crítica interna ao sistema de Hegel.
Porto Alegre: EDIPUCRS, pp. 17-34.
19
A palavra alemã“Darstellung”possui varias traduções correlatas para o português como: exposição,
apresentação e mesmo representação. Todavia, para Hegel,
Darstellung é um conceito metodológico do
movimento especulativo, não se confundindo com o conceito de
Vorstellung ou de representação –como
ainda pertencente ao entendimento. Na sintaxe hegeliana ambos conceitos possuem funções específicas e
mesmo diferentes no desenvolvimento da totalidade do sistema. Para acentuar a diferença metodológica entre
Vorstellung
e Darstellung, optei por traduzir esta última por apresentação, e a primeira por representação.
Segundo Rametta, enquanto a representação está presa à justaposição no sentido psicológico do termo; a
apresentação resguarda, no entanto, um dispositivo metodológico complexo, que sintetiza especulativamente
o efetivo e o conceito. A temporalidade, afirma o autor, é exatamente o que distingue a representação
(
Vorstellung) da apresentação (Darstellung), pois na representação não há pelo tempo uma interiorização da
diferença, ao contrário da apresentação, em que pelo movimento dialético-especulativo de negação engloba a
temporalidade interiorizando as diferenças como determinações da Coisa-mesma no movimento lógicoontológico
da negação da negação. É este movimento que finitiza o infinito (num primeiro momento, como
exteriorização de si) e infinitiza o finito (no segundo momento, como interiorização de si) que é o próprio da
especulação. Ver. RAMETTA, G.
Concetto del tempo: Eternitáe “arstellung”speculativa nel pensiero di
Hegel
. Padova: ed. FrancoAngeli, [s/d], p. 20ss.
20
Para Hegel, a identidade absoluta de Schelling se torna uma apresentação formal e externa ao
desenvolvimento imanente de sua idéia especulativa devido da própria forma demonstrativa. Nesta forma
pura da identidade absoluta, segundo Hegel, “Schelling emplea aquí, ... , o mismo que hiciera Spinoza, el
método geométrico: establece axiomas y luego principios a cargo de los cuales corre la prueba y de los que
salen en seguida otros principios derivados, etc”.
Ver. LHF III, p.499. Mas, para Hegel, este método não é
aplicável à sua filosofia, pois tal derivação axiomática precisa da posição de um princípio incondicionado,
que só pode ser dado por uma intuição intelectual.
21
F.e. I, p.53 (p.55).
22
A mesma critica de Hegel à matemática que encontramos no prefácio da Fenomenologia do
espírito é reposta no prefácio da Ciência da lógica, em que afirma que: “O fim –
ou o conceito – da
matemática é a grandeza. Essa é justamente a relação inessencial carente-de-conceito. Por isso, o movimento
do saber [matemático] passa por sobre a superfície, não toca a coisa-
mesma” (F.e., I, p.44 (p.44)); por isso,
como reitera no prefácio da Ciência da lógica, “
la philosophie, en tanto qu‟elle doit être science, ne peut pas à
cet effet, ainsi que je l‟ai rappelé ailleurs, emprunter sa méthode à une science subordonnée comme l‟est al
mathématique
“ (CL. p. 6). A utilização do cálculo infinitesimal na parte referente à quantidade, só comprova
a afirmação crítica na Fenomenologia do espírito de que a matemática só abarca a
grandeza. Nesta parte na
Lógica, Hegel, se utiliza do cálculo infinitesimal não na forma de método essencial da filosofia, mas para
apreciar especulativamente as relações lógicas subjacentes no cálculo à infinitude quantitativa.
23
Cf. HYPPOLITE, J. Op. cit. p.23.
24
F.e. I, p. 66 (p.72): “der Weg der Seele, welche die Reihe ihrer Gestaltungen, als durch ihre Natur
ihr vorgesteckter Stationen, durchwandert ...”
[Grifo meu]
Nenhum comentário:
Postar um comentário