domingo, 23 de setembro de 2012

Feminismo, gênero e revolução


Lelita Oliveira Benoit*

"“De mãos dadas com o homem de sua classe, a mulher
proletária luta contra a sociedade capitalista.”"
Clara Zetkin1

A partir dos anos 80, os chamados “estudos de gênero” revolucionaram
todo o campo conceitual em que se situava a questão do feminismo. O próprio
conceito de “feminino” – ou de “feminilidade” – passou por uma radical revi-
são, particularmente, no sentido de superar e erradicar os referenciais “bioló-
gico-sexuais” que envolviam a temática feminista. Procurou-se, desde então,
circunscrever as expressões culturais, sociais, psicológicas do feminino e
reconstruir o conceito de feminino no campo das suas significações simbóli-
cas; nesse sentido, passou-se a investigar, nos diversos domínios da cultura,
da sociedade e da história, as chamadas “relações de gênero” entre mulheres e
homens2.


A partir destas séries de pesquisas acadêmicas, ao menos à primeira vista,
parece ter havido um avanço teórico significativo no domínio geral antes ocu-
pado pelo chamado “feminismo”. Sobretudo, considera-se importante a su-
peração de um suposto reducionismo biológico que sobredeterminava as diversas
categorias da anterior reflexão feminista: conceitos como “luta entre os sexos”,
“diferenças sexuais entre mulher-homem”, entre outras. O pretenso progresso
teórico em curso foi bem sintetizado pela historiadora Joan Scott: “Na sua utiliza-
ção recente, ‘gênero’ parece primeiro ter feito aparição entre as feministas ameri-
canas que queriam insistir sobre o caráter fundamentalmente social das distinções
fundadas sobre o sexo. A palavra indicava a rejeição do determinismo biológico
implícito no uso dos termos como ‘sexo’ e ‘diferença sexual’. O gênero enfatiza
o aspecto relacional das definições normativas de feminidade.” 3
Diante disto, pretendemos refletir especificamente sobre a seguinte ques-
tão: os chamados “estudos de gênero”, enraizados na tese da desnaturalização
do social, podem, efetivamente, em algum sentido, contribuir e harmonizar-
se com a teoria marxista clássica?

1. Feminismo
Reflitamos, inicialmente, sobre o discurso feminista contra o qual se vol-
tam os estudos de gênero. As categorias biológico-deterministas (“opressão
sexual”, “luta de sexos”, “classes sexuais”) predominaram no discurso femi-
nista que, durante os anos posteriores às barricadas de 68, autodenominava-se
“revolucionário e marxista”4.
Exemplo significativo do discurso feminista daqueles anos encontra-se
em Feminisno e Revolução. Nesta obra, Sheila Rowbotham sustenta a neces-
sidade de uma revisão feminista do marxismo, apoiando-se em categorias que
são evidentemente a-históricas e marcadas por um recorte biológico. Argu-
mentava a autora que Marx e também, em certo sentido, a tradição marxista
não teriam compreendido a especificidade da opressão feminina. Sendo histo-

ricamente anterior à sociedade capitalista, enraizada na própria natureza bio-
lógica, a opressão sexual incidiria, com a mesma intensidade, sobre as mulhe-
res de todas as classes sociais. Em outras palavras, para a autora, seria neces-
sário repensar o conceito marxista da história como luta de classes comple-
tando-o com o da “luta entre os sexos”.
Segundo Rowbotham, inquietações revolucionárias fundamentais poderiam
originar-se do entrecruzamento sexo/classe: “Estando dado que a submissão da
mulher precedeu à sociedade capitalista, podemos esperar que uma revolução,
que transforme os fundamentos econômicos da sociedade no sentido do socia-
lismo, afetará o papel sexual da mulher?”5. Concluía Rowbotham que, a exem-
plo da União Soviética e de outros países do Leste Europeu, a transformação
da propriedade privada capitalista em propriedade socialista não implicaria,
necessariamente, o fim da opressão de sexo. Nesse mesmo sentido, naqueles
anos, elaborou-se o conceito de “classes sexuais”6. Contra Marx, resgatando-
se, em certo sentido, as análises de Engels de inspiração antropológica, sobre-
tudo de A origem da família, da propriedade privada e do Estado, procurava-
se entrecruzar a questão da dominação econômica entre classes à questão mais
universal da mulher, como “sexo oprimido” 7.
No mesmo período, a teoria das novas vanguardas era elaborada no interior
de partidos ditos “marxistas”. Lado a lado à classe operária, pensava-se então nas
novas vanguardas: a juventude, as chamadas “minorias” raciais, sexuais, etc.,
assim como a “vanguarda feminista”. Mary-Alice Waters, feminista e marxista,
justificava o pensamento da nova vanguarda feminista pós-68, com as seguintes
reflexões: “O novo ascenso das lutas das mulheres em escala internacional e o
surgimento de um forte movimento de liberação da mulher (…) aumentam a
força política da classe trabalhadora e tornam mais clara a possibilidade de que a
revolução possa ser levada adiante, até a sua tarefa de reconstrução socialista. O
surgimento do movimento de liberação da mulher é uma garantia adicional contra
a degeneração burocrática de futuras revoluções”8.
No Secretariado Unificado da IV Internacional, e particularmente na sua
seção americana, o Socialist Workers Party, a organização e luta pelo socialis-
mo deveria ter como eixo, ao mesmo tempo, a questão de classe e a questão
de sexo, como atestam diversos documentos daquela época: “A verdade é que
as mulheres estão, ao mesmo tempo, unidas pela opressão sexista e divididas
pela sociedade de classes. Há [contudo] uma base objetiva sobre a qual é
possível unificar a luta das mulheres de diferentes classes e nacionalidades:
todas as mulheres são oprimidas enquanto mulheres [sic] pelo capitalismo”9.

2. Gênero
Desde os anos 80, essas posições teóricas feministas foram sendo, pouco
a pouco, abandonadas. As abordagens chamadas “estudos de gênero” – nas
quais se fundamenta o discurso atual sobre o feminino – vêm apontando a
fragilidade de conceitos tais como opressão sexual, guerra dos sexos, classe
sexual, papéis sexuais. Contra o suposto “engano biológico-determinista” da
teoria feminista anterior, mas também, em certos casos, para “evitar a redução
ao determinismo econômico” do marxismo, defende-se agora que sejam fei-
tas pesquisas específicas sobre o feminino, reconstruindo este objeto a partir
de uma multiplicidade de níveis e perspectivas. Deve-se levar em conta os
aspectos mais diversos: culturais, literários, sociais, históricos, psicológicos,
etc.10 Além disso, recomenda-se que não se privilegie, como fundamento da
opressão feminina, qualquer “causalidade única” 11.
Apesar da multiplicidade dos enfoques disciplinares, “gênero” pode ser
entendido, contudo, como o nome de um certo modo ou método de conhecer
o “feminino” a partir das significações construídas, de modo relacional, por
mulheres e homens. As relações de gênero, sustentam os estudos atuais, de-
vem ser apreendidas ali onde se desenvolve o simbólico, ou seja, nas defini-
ções ou imagens do feminino (e do masculino). Trata-se de estudar as signifi-
cações do feminino, ou, nas palavras de Joan Scott: “o aspecto relacional das
definições normativas de feminidade”.
Se parte do discurso feminista pós-68, de maneira confusa, procurava apoiar-
se basicamente ainda na teoria marxista, agora, este novo discurso, com o
conceito relacional-cultural de gênero, parece possuir outros referenciais teó-
ricos. As categorias “gênero”, “relação de gênero” e “feminino”, como entes
construídos culturalmente, isto é, como elementos simbólicos, parecem nos
remeter ao corpus teórico da sociologia da cultura. Em Economia e socieda-
de, Max Weber desenvolve certas matrizes conceituais que, de certo modo,
são reativadas, de maneira evidente, na categoria “gênero”, tal como é utiliza-
da pelo discurso atual sobre o feminino. Designamos por “relação social” –
escreve Weber – “o comportamento de diversos indivíduos em tanto que, por
seu conteúdo significativo [Sinngehalt], o comportamento de uns se regulamenta
pelo de outros [auf-einander gegenseitig eingestellt] e se orienta por eles”12. Pros-
segue Weber explicando que o “conteúdo significativo” da relação pode ser “luta,
hostilidade, amor sexual, amizade, piedade, troca comercial, etc.”.13

Como o paradigma weberiano14 de “relação social”, a categoria “gênero”
delimita o estudo da questão da desigualdade feminina às significações que
são construídas nas relações entre indivíduos, especificamente, entre “mulheres”
e “homens”. Além do mais, como se obedecessem rigorosamente aos preceitos
epistemológico-weberianos, as atuais investigadoras do feminino evitam pensar
o conceito de relações de gênero como se este fosse uma entidade realmente
existente ou “estrutura coisificada”15. À semelhança dos paradigmas ou “tipos
ideais” weberianos, gênero é o nome de uma categoria do entendimento, uma
espécie de abstração sem maior realidade ontológica. É nesta abstração que as
pesquisas atuais se apóiam para apreender e descrever aspectos ou significa-
ções parciais das relações específicas entre mulheres e homens.
Ainda no corpus teórico da sociologia da cultura, podemos demarcar proxi-
midades do conceito de gênero com certas categorias simmelianas, em particular,
nas chamadas de “formas de associação”. “Associação” (Vergesellschaftung), para
Simmel, é uma espécie de síntese frágil de tendências opostas, como ele pró-
prio explica: “As relações sociológicas são condicionadas de modo absoluta-
mente dualista: a união, a harmonia, a cooperação, que valem enquanto tais
como forças socializantes, devem ser atravessadas pela distância, a concor-
rência, a repulsão, para dar lugar às configurações reais da sociedade (…)”16.
É preciso ainda que os indivíduos em interação “uns com os outros, para e
contra os outros”, formem de alguma maneira uma “unidade”, uma “socieda-
de”, e que sejam conscientes disto. Em certo sentido, segundo Simmel, a
sociedade seria a “unidade objetiva” das consciências subjetivas, cujo jogo de
interações ou associação forma o substrato essencial. Sendo que, como escre-
veu o próprio Simmel, a compreensão do social, na sua multiplicidade infini-
ta, deve ser elaborada a partir de conteúdos subjetivos da consciência: “Qual-
quer que seja o acontecimento exterior que designamos como social (…) se
não reconhecermos, de modo evidente, as motivações espirituais, os senti-
mentos, os pensamentos, as necessidades, (…) tratar-se-á de um espetáculo de
marionetes”17.
As formas sociais (conflito, subordinação, divisão do trabalho) pensadas
à maneira de Simmel remetem-nos à categoria “gênero”, tal como é elaborada
pelo discurso atual do feminino. Como as formas sociais de Simmel, gênero é
um modelo conceitual do jogo de interações simbólicas, neste caso, esta for-
ma social gênero é constituída pela polaridade “feminino/masculino”18. Aliás,
a própria forma feminino/masculino é essencializada por Simmel, como mo-
delo significativo da “tragédia da cultura”. Na teoria da cultura simmeliana, o
“masculino” está vinculado à cultura objetiva (lugar da alienação das signifi-
cações individuais) e o feminino, à cultura subjetiva (imanência individual
das significações preservadas), sendo que a tragédia da cultura (perda do sen-
tido) é apresentada como “tragédia feminina”19. Como as categorias simme-
lianas, também as “relações de gênero”, no discurso atual do feminino, são
pensadas, de certo modo, como oposição não-contraditória e apenas relativa.
Nesse sentido, as relações de gênero são apenas relações entre pólos comple-
mentares, não permitindo que seja pensada qualquer superação do processo
de divisão do trabalho que subordina e oprime a mulher, a partir da oposição
contraditória entre classes sociais.
Ao mesmo tempo, se a categoria “gênero” se enraíza na compreensão
weberiana e simmeliana das oposições sociais, afasta-se da teoria marxista
clássica20. Para Marx, a análise e a síntese teórica das relações sociais não
podem ter como elemento essencial as significações que os indivíduos lhes atri-
buem, ou seja, as realidades discursivas da consciência. Aquilo que os indivíduos
pensam não coincide, em geral, com o seu ser real, conforme Marx escreveu no
Prefácio à crítica da economia política: “O modo de produção da vida mate-
rial domina, em geral, o desenvolvimento da vida social, política e intelectual.
Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, ao contrário,
é sua existência social que determina sua consciência.”21 Ao contrário de ser
reveladora de conteúdos, a consciência – na sociedade de classes – seria o
lugar privilegiado das deformações ideológicas das relações sociais. Portan-
to, do ponto de vista de Marx, pode-se dizer que os estudos atuais sobre o
feminino, ao tomarem construções simbólico-sociais de gênero como fio con-
dutor de suas análises, recaem no engano comum a todas as manifestações do
idealismo conceitual.
Mas se gênero, como “categoria de análise”22, não coincide com o méto-
do marxista, podemos dizer que a teoria anterior, da chamada “nova vanguarda
feminista”, aparece, do ponto de vista de Marx, como igualmente problemáti-
ca. Também aquela teoria feminista, que se autodenominava “revolucionária
e marxista”, quando dava realidade indiferenciada e indeterminada às diferen-
ças biológico-sexuais, fundava o universal “mulher” de maneira puramente
abstrata; naturalizava elementos históricos e cortava, em diagonal, a con-
creticidade da luta de classes, totalidade, esta sim, real para Marx.
Aliás, talvez por isso mesmo, aquela teoria da chamada “nova vanguarda
feminista”, dos anos 60, apesar de comprometida com setores ditos “marxis-
tas”, não obteve resultados objetivos significativos no movimento revolucio-
nário das mulheres operárias, repercutindo muito mais nos setores burgueses
e pequeno-burgueses. Em sentido contrário, lembremos que, no quadro da II
Internacional, Clara Zetkin defendeu, em uma infinidade de textos teóricos e
políticos, a independência de classe do movimento das mulheres operárias,
em relação ao “feminisno burguês”23. Contra vanguardas feministas acima
das classes, Clara Zetkin escreveu: “Certamente, Marx não se ocupou da questão
feminina ‘enquanto tal’ e ‘em si mesma’. Entretanto, sua contribuição é
insubstituível, ela é essencial na luta levada pelas mulheres para conquistar
seus direitos. (…) Em O capital, acumula-se uma profusão de fatos, de idéias
e de sugestões sobre a questão do trabalho feminino, sobre a situação das
trabalhadoras, sobre a justificação da proteção legal do trabalho, etc. É um
arsenal intelectual inesgotável para nossa luta, tanto para as nossas reivindica-
ções imediatas como para nosso objetivo socialista.”24 A própria Clara Zetkin
discute amplamente em seus escritos, a importância, no final do século XIX e
começo do XX, da agitação e da propaganda de questões específicas que atin-
giam, em massa, a mulher da classe operária (direito ao voto, legislação traba-
lhista, assistência à maternidade, etc.), ou seja, aqui a mulher é pensada como
força de trabalho explorada pelo capital, isto é, como e enquanto Marx a
analisou.
Em O capital, Marx esboçou a tese que fundamenta a organização e a luta
independentes das mulheres trabalhadoras. Naquela obra, no capítulo “Ma-
quinaria e Grande Indústria”, Marx observa que a mecanização crescente do
processo de trabalho torna progressivamente dispensável a força muscular do
trabalhador, possibilitando a incorporação “de trabalhadores sem força mus-
cular ou com desenvolvimento corporal imaturo, mas com membros de maior
flexibilidade”25. Concretiza-se assim, conclui Marx, um trágico paradoxo: a
maquinaria, poderoso meio de substituir trabalho humano, em sua utilização
capitalista, transformou-se em seu oposto, ou seja, em poderoso meio de mul-
tiplicar infinitamente o número dos que podem trabalhar, ao destruir concreta-
mente todas as diferenças entre a força de trabalho masculina e feminina,
instaurando a mais absoluta e brutal igualdade, a da força de trabalho disponí-
vel para a exploração. Além disso, prossegue Marx, “a maquinaria, ao lançar
todos os membros da família do trabalhador no mercado de trabalho, reparte o
valor da força de trabalho do homem por toda sua família”, rebaixa o valor do
trabalho masculino e conseqüentemente, dali para diante, todos “os membros
da família precisam fornecer não só trabalho, mas mais-trabalho para o capi-
tal, para que uma família possa viver.”26 Desse modo, para Marx, a maioria
das mulheres é reduzida (como os homens e também os jovens e crianças da
classe trabalhadora) à condição de simples força de trabalho, ou seja, matéria
de exploração do capital.
Marx não aprofunda de fato, como disse Zetkin, a questão específica das
mulheres, ou seja, a questão da divisão “natural” do trabalho no interior da
família e da subordinação “natural” ao homem. Mas, exatamente porque, para
Marx, a superação das classes sociais, a instauração do comunismo, resulta na
superação da exploração da força de trabalho tanto do homem como da mulher
e, portanto, na superação de todas as formas opressoras de divisão do traba-
lho, inclusive as familiares, que recaem particularmente sobre as mulheres.
Para Marx, as questões específicas de opressão das mulheres – que atingem as
mulheres em geral e não só as operárias – estariam vinculadas à sobrevivência,
na sociedade atual, de formas pré-capitalistas de relações sociais que a socie-
dade burguesa, na sua fase já de decadência, jamais será capaz de superar.
Para Marx, ao contrário, legitimadas por supostos enraizamento na natu-
reza, as determinações biológico-sexuais (mas também raciais, nacionais, de
idade, etc.) da divisão do trabalho permaneceriam indefinidamente sob o ca-
pitalismo, mesmo porque a burguesia sabe instrumentalizá-las para alargar
ainda mais o tempo de trabalho não-pago da classe operária e conservar a sua
dominação de classe. Em O capital, Marx se refere à divisão natural do traba-
lho existente “no limiar de todos os povos civilizados”, sem contudo, tomar o
ponto de vista antropológico, ou seja, o ponto de vista da investigação de
supostos fundamentos universais, intemporais da divisão do trabalho. O que
interessa, para Marx, é pensar a atual divisão do trabalho, como lemos nos
Grundrisse: “Não é a unidade dos homens vivos e ativos com as condições
naturais e inorgânicas de seu metabolismo com a natureza que tem necessidade
de ser explicada; é, ao contrário, a separação entre as condições inorgânicas
da existência humana e de sua atividade, separação que é total na relação entre
o trabalho assalariado e o capital.”27 Nesse sentido, pode-se concluir que, para
Marx, a questão específica das mulheres trabalhadoras, e não só delas, se
reduziria, finalmente, à questão da superação revolucionária do modo de pro-
dução capitalista.

3. Revolução
A partir de tais colocações, diante da teoria marxista clássica, manifes-
tam-se claramente os limites conceituais do feminismo e das matrizes socio-
lógicas utilizadas pelo discurso de gênero. Por outro lado, neste caso, como
em tantos outros aspectos, as análises de Marx não parecem totalmente
envelhecidas, como propaga a ideologia burguesa. Aqueles limites conceituais,
aliás, são confirmados, em parte, pela história mais recente. Se é verdade que
mesmo no interior do capitalismo os direitos das mulheres têm sido contem-
plados, nas últimas décadas, isto ocorreu de modo bem unilateral. É inegável
que, particularmente após os anos 60, significativos avanços democráticos
foram obtidos pelas mulheres da burguesia e da pequena burguesia (intelectuais,
artistas, profissionais liberais, políticas, etc.). Desta época em diante, este se-
tor social vem conquistando direitos civis e igualdade de oportunidades de
trabalho. Se isto não deu ainda a estas mulheres a cidadania burguesa absolu-
ta, ao menos, configura significativo avanço na direção da completa igualda-
de, de forma jamais sonhada em outras épocas históricas. No entanto, estas
mulheres emancipadas, em geral, situam-se nas relações de produção, entre
aqueles que extraem mais-valia das próprias mulheres, as operárias28.
As mulheres da classe trabalhadora, ao contrário, nada conquistaram nas
últimas décadas. A estas, muito pelo contrário, cada vez mais amplamente,
têm sido negados direitos democráticos, mesmo aqueles conquistados pela
luta do movimento operário, desde o século XIX, como o simples direito ao
trabalho, hoje retirado, em nome da chamada “modernização capitalista”29.
Tendo, com muita astúcia, feito o corte de classes na questão das mulheres, a
burguesia ainda vê a mulher da classe operária como simples “instrumento de
trabalho”, para usarmos a expressão de Marx30.
Realmente, a igualdade das mulheres, em sentido não-unilateral, parece
ter limites bem concretos, no âmbito da sociedade capitalista e da democracia
burguesa. Contudo, a superação de todas as desigualdades culturais, sociais,
psicológicas, sexuais e da própria divisão natural do trabalho, não pode ser
considerada tão-somente uma utopia adiada para uma hipotética sociedade
socialista do futuro. Sob nossos olhos, concretamente, muitas vezes, já foi e é
iniciada a superação, mais ampla, da desigualdade feminina. Ali onde a negação
revolucionária da sociedade capitalista é iniciada, percebem-se claros avanços
nas relações cotidianas entre mulheres e homens, no sentido de uma sempre
crescente igualdade democrático-socialista. Assim é que, significativamente,
nos primeiros anos da Revolução Russa, efetivou-se uma ampla legislação igua-
litária, acompanhada do esclarecimento revolucionário e da organização polí-
tica das trabalhadoras russas, no sentido da real concretização de seus direi-
tos31. Mesmo que tenha sido aprisionado nos limites do “socialismo em um
só país”, e fracassado, o projeto democrático-socialista para as trabalhadoras
russas permanece, enquanto gênese e modelo radical de outras experiências
possíveis.
Atualmente, os movimentos populares da América Latina, na concre-
ticidade de práticas político-revolucionárias cotidianas, recolocam a questão
democrático-socialista das mulheres. Veja-se a experiência igualitária no inte-
rior das FARC-EP, organização marxista que controla parte da Colômbia:
homens e mulheres dividem todo o trabalho revolucionário, político e cotidia-
no, mesmo o doméstico 32. Da mesma forma, nos acampamentos do MST, no
processo de luta social, as mulheres trabalhadoras adquirem consciência po-
lítica e direitos que a sociedade burguesa lhes nega. Também em momentos
mais esporádicos de luta, por exemplo em grandes greves, as mulheres trabalha-
doras, freqüentemente, já ali vivem a experiência da igualdade que está con-
tida na própria oposição operária à exploração burguesa da força de trabalho.


NOTAS:
*
Doutora em Filosofia Política pela USP e pesquisadora da Fapesp.
1
Zetkin, C. “Relatório para o congresso de Gotha”, 1896. In Ausgewählte Reden und Schriften. 3
vols. Berlim (R. D. A.): Dietz Verlag, 1957-60, T. 1, p. 103-5.
2
Deve-se a constituição teórica do conceito de “gênero” à socióloga Ann Oakley, em trabalhos que
remontam à década de 70 (cf. Sex, gender and society, 1972; The sociology of housework, 1974,
Housewife, 1976), sendo, mais recentemente, rediscutido pela historiadora Joan Scott em “Gênero:
uma categoria útil de análise histórica”. Tradução de G. Lopes Loro. Revista Educação e Realidade,
Porto Alegre, 16 (2):5:22, jul./dez. 1990, p. 5-22; Idem. Gender and Politics of History. New York:
Columbia University Press, 1994.
3
Scott, Joan. “Gênero: uma categoria útil... ”, op. cit., p. 5. O suposto progresso teórico é apontado
na extensa bibliografia de “gênero”, também no Brasil: “Gênero tem sido (... ) o termo usado para
teorizar a diferença sexual. (... ) A palavra indicava uma rejeição ao determinismo biológico implícito
no uso de termos como ‘sexo’ ou ‘diferença sexual’. O gênero sublinha o aspecto relacional entre
homens e mulheres, ou seja, nenhuma compreensão de qualquer um dos dois pode existir através de
um estudo que os considere totalmente em separado.” (Soihet, Rachel.”História, mulheres, gênero:
contribuições para um debate”. In Aguiar, Neuma (org.). Gênero e Ciências Humanas, desafios às
ciências desde a perspectiva das mulheres. Rio de Janeiro: Record/Rosa dos Tempos, 1997, p. 101).
4
Sobre o feminismo da década de 70, cf. Fougeyrollas, Dominique. “Les féministes des années
1970”. In Fauré, Christine (org.). Encyclopédie politique et historique: Europe, Amérique du Sud.
Paris: PUF, 1997; Thébaud, François. Écrire l’histoire des femmes. Col. “Sociétes, temps”. Fontenay-
aux-roses: ed. Fontenay-Saint-Cloud, 1998.
5
Rowbotham, S. Féminisme et Révolution [Women, Resistance and Revolution, 1972]. Paris: Payot,
1973, p. 86.
6
Cf. Firestone, Shulamith. A dialética do sexo, um estudo da revolução feminista [The dialectic of
Sex, 1970]. Rio de Janeiro: Ed. Labor do Brasil, 1976, p. 14.
7
Até hoje, A origem da família... é uma referência necessária aos estudos do feminino e feministas.
Para uma leitura feminista clássica do pensamento de Engels, cf. Delmar, Rosalind. “Looking again at
Engels’s ‘Origins of the family, private property and State’”. In Mitchell, Juliet e Oakley, Ann (org.).
The rights and wrongs of women. Londres: Penguin Books, 1976, p. 271-287.
8
Water, M.-A. “La revolución socialista y la lucha por la liberación de la mujer”. In Trotski, Leon.
Escritos sobre la cuestión femenina. Barcelona: Anagrama, 1977, p. 133.
9
“Un programme socialiste pour la libération des femmes: vers un mouvement féministe de masse
(Résolution de congrès du Socialist Workers Party)”. In F. Le Cavez, Françoise. (tradução e apresen-
tação). Féminisme et socialisme aux États-Unis. Col. “10/18”. Paris: U.G.E, 1979 ( 1a ed., 1971); este
documento se insere na linha política “inovadora” do setor dito “pablista” do trotskismo que, na
década de 50, já “inovara” sustentando uma possível “regeneração dos PCs” e do “stalinismo”.
10
Para uma descrição da abrangência teórica da categoria “gênero” cf. Scott, Joan, “Gênero: uma
categoria útil...”, op. cit.
11
Sobre o relativismo imanente aos estudos de gênero, comenta uma das pioneiras na temática:
“Sendo escrupulosa em meu uso das palavras, utilizaria o termo ‘sexo’ apenas para falar da diferença
biológica entre macho e fêmea, ‘gênero’ quando me referisse às construções sociais, culturais, psico-
lógicas que se impõem sobre essas diferenças biológicas. Gênero designa um conjunto de categorias
às quais outorgamos uma mesma etiqueta (crosslinguistically, ou crossculturally), porque elas têm
alguma conexão com diferenças sexuais. Estas categorias, no entanto, são convencionais ou arbitrá-
rias. Elas não são redutíveis e não derivam diretamente de fatos naturais, biológicos, e variam de uma
linguagem a outra, de uma cultura a outra, na maneira em que ordenam experiência e ação” (Shapiro,
Judith. ”Anthropology and study of gender”. In Soudings, an Interdisciplinary Journal, 64, n. 4, 1981,
p. 446-65).
12
Weber, M. Économie et Société (Wirtschaft und Gesellschaft), 1 e 2 . Tradução de Julien Freund e
outros. Paris: Plon, 1971, T. 1: “Les catégories de la sociologie”, p. 58.
13
Idem, ibidem. A seguir, Weber explica que “o conceito nada diz sobre a existência de uma ‘solida-
riedade’ entre os agentes ou o contrário”.
14
É o próprio Weber que se refere aos “paradigmas sociológicos” ou “tipos”, explicando: “A sociolo-
gia – como pressupomos em vários momentos, por ser evidente – elabora conceitos de tipos e põe-se
à procura das regras gerais do devir (... ). A elaboração de conceitos, que é característica da sociolo-
gia, toma seus materiais, sob a forma de paradigmas, nas realidades da atividade as quais são igual-
mente importantes para os pontos de vista da história” (op. cit., p. 48-49, grifos do autor).
15
Como diz Weber, rejeitando o realismo conceitual dos universais ou das totalizações: “Não é
somente a natureza particular da linguagem, mas também aquela de nosso pensamento que faz com
que os conceitos, pelos quais apreendemos uma atividade, deixem que esta apareça sob a forma de
uma realidade durável, de uma estrutura coisificada ou de uma estrutura ‘personificada’, tendo uma
existência autônoma. É assim igualmente, e mesmo bem particularmente, em sociologia. Conceitos
como aqueles de ‘Estado’, ‘associação’, ‘feudalismo’ ou outros semelhantes, designam, de uma ma-
neira geral, do ponto de vista da sociologia, categorias representando formas determinadas da coo-
peração humana; [a] tarefa [da sociologia] consiste em as reduzir a uma atividade ‘compreensível’,
o que quer dizer, sem nenhuma exceção, a uma atividade dos indivíduos isolados que delas partici-
pam.” (Weber, M. “Essai sur quelques catégories de la sociologie compréhensive” (“Über einige
Kategorien der verstehenden Soziologie”, 1913). Tradução de J. Freund. In Weber, M. Essais sur la
théorie de la science (Gesammelte Aufsätze zur Wissenschaftslehre). Paris: Plon, p. 318-19.
16
Simmel, G. Soziologie. Untersuchungen über die Formen der Vergesellschaftung, in Gesamtausgabe,
v. 11. Frankfurt, Suhrkamp, 1992, p. 28, cit. por Vandenberghe, F. Une histoire critique de la sociologie
allemande. Aliénation et Réification. 2 T. Paris: La découverte/M.A.U.S.S, 1997. T 1, p. 117.
17
Idem, ibidem, p. 35.
8
Simmel propõe que as formas de associação sejam reconstruídas conceitualmente fazendo-se o
inventário das polaridades que as constituem, ou seja: distinção/imitação, oposição/integração, re-
sistência/submissão, diferenciação/expansão, distanciamento/proximidade. Assim, por exemplo, o
conflito, como forma social, deve ser pensado (reconstruído conceitualmente) como síntese entre
“subordinação e resistência”; a troca, como forma social “que separa e une os indivíduos”, etc.
19
Simmel, G. “Culture féminine”. In: Philosophie de l’amour. Paris: Rivages, 1988, p. 69-109; Idem.
“Ce qui est relatif et ce qui est absolu dans le problème des sexes”. In: Philosophie de la modernité.
La femme, la ville, l’individualisme, I. Paris: Payot, 1989, p. 69-112.
20
Para uma análise comparada de Marx e Weber, além do estudo clássico de Löwith, K. Marx and
Weber. Londres: Allen & Unwin, 1982, cf. Weiss, J. Weber and the marxist world. Londres: Routledge,
1986; Wiley, N. (direção de). The Marx-Weber debate. Bervely Hills: Sage, 1987; Sayer, D. Capitalism
and modernity. An excursus on Marx and Weber. Londres: Routledge, 1991; Vincent, J.-M. Fétichisme
et société. Paris: Anthropos, 1973.
21
Marx, K. “Avant Propos”. In Critique de l’Économie Politique [Zur Kritik der politischen Oekonomie,
1859]. Tradução de M. Rubel e L. Évrard. In Marx, K., Oeuvres. T: Economie I. Col. “Bibliothèque de
la Pléiade”. Paris: Gallimard. p. 273.
22
A expressão é de Joan Scott.
23
Amiga de Rosa Luxemburg, de Franz Mehring e de Karl Liebknecht, Clara Zetkin (1857-1933) foi
uma das figuras marcantes da ala esquerda da social-democracia alemã; em 1907, tornou-se dirigen-
te do Movimento internacional das mulheres socialistas. Organizou, em 1915, uma conferência
internacional das mulheres, em Berna. Foi dirigente da Liga spartakista, e mais tarde do partido
comunista alemão; em 1921, eleita para o Comitê executivo da III Internacional. Como Rosa, após
1906, denunciou o reformismo da direção social-democrata, que, segundo pensava, não lutava com
bastante energia contra a sociedade capitalista. Clara criou aquele que foi então o mais importante e
único órgão de propaganda e agitação socialista dirigido às mulheres trabalhadoras: Die Gleichheit
(A Igualdade), cujo subtítulo era: “Revista dos interesses das trabalhadoras” que circulou amplamen-
te, na Europa, de 1891 a 1917. Em sua luta política pela independência de classe do movimento das
mulheres trabalhadoras, enfrentou a ala feminista reformista dentro da própria social-democracia
alemã; comenta Badia que, para Clara, “(... ) o partido não tem que desenvolver uma propaganda
feminina específica, mas uma ‘propaganda socialista entre as mulheres’. Sendo que sua tarefa essen-
cial é despertar ‘nas mulheres a consciência de classe e fazê-las participar da luta de classes’.”
Badia, Gilbert. “Préface”. In: Zetkin, C. Batailles pour les femmes. Paris: Ed. Sociales, 1980, p. 35;
sobre a atividade política de Clara Zetkin, cf. Badia, G. Rosa Luxemburg, journaliste, polémiste
revolutionnaire. Paris: ed. Sociales, 1975; Idem. Les spartakistes, 1918: l’Allemagne en révolution.
Col. “Archives”. Paris: Julliard-Gallimard. 2a ed., 1974; Dornemann, Luise. Clara Zetkin. Leben und
Wirken. Berlim: Dietz Verlag, 1973. Constituída por uma infindável série de escritos teóricos e polí-
ticos, a obra de Clara Zetkin foi reunida, parcialmente, em Ausgewählte Reden und Schriften. 3 vols.
Berlim: Dietz Verlag, 1957.
24
Zetkin, C. “Ce que les femmes doivent à Karl Marx”, 1890 [“O que as mulheres devem a Karl
Marx”, 1890]. In Idem. Batailles pour les femmes. Paris: ed. Sociales, ed. cit., p. 90-94; cf. Idem. La
cuestión femenina y la lucha contra el reformismo. Barcelona: Anagrama, 1976.
25
Marx, K. O capital. Crítica da Economia Política. Tradução de R. Barbosa e F. Kothe. 3 Livros. Col.
“Os Economistas”. São Paulo, Abril, 1983. Livro I, (1/2), p. 23 .
26
Idem, ibidem.
27
Marx, K. Fondements de la critique de l’économie politique [Grundrisse der Kritik der politischen
economie, 1857-58]. Tradução de R. Dangeville. Paris: Anthropos, 1968; 2bis. “Supplément au Chapitre
du Capital”, p. 24.
28
Neste sentido, não parece sem fundamento a crítica segundo a qual os estudos de gênero fariam
parte da contra-ideologia atual: “Essa ‘contra-ideologia’ raramente desafia as prescrições da política
liberal (... ). Dentro dessa contra-ideologia (que é generosamente financiada pelas instituições de
pesquisa), estudiosos do desenvolvimento encontram um confortável nicho. Seu papel é gerar (inter-
namente a esse contra-discurso) uma aparência de debate crítico sem tocar nos fundamentos sociais
do sistema de mercado global. O Banco Mundial desempenha um papel-chave nesse particular,
promovendo a pesquisa sobre a pobreza e as chamadas ‘dimensões sociais do ajuste’. Esse enfoque
ético e as categorias subjacentes (por exemplo, a diminuição da pobreza, questões ligadas a gênero,
eqüidade, etc.) fornecem uma ‘face humana’ às instituições de Bretton Woods e uma aparência de
compromisso com a mudança social. Todavia, uma vez que está funcionalmente divorciada das
principais reformas macroeconômicas, essa análise raramente constitui uma ameaça para a agenda
econômica neoliberal.” (Chossudovsky, Michel. A globalização da pobreza. Impactos das reformas
do FMI e do Banco Mundial. Trad. de M. Pinto Michel. São Paulo, Moderna, 1999, p. 35.)
29
Em pesquisa da própria ONU, constatou-se: “O relatório provisório das Nações Unidas deixa
também perceber que as práticas ligadas à globalização se apoiaram em uma ideologia patriarcal
que existia anteriormente mas que a globalização soube integrar, quando não a reforçou. Desta
forma, três dos fenômenos ligados à globalização – a multiplicação dos ‘sweat shops’ (fábricas onde
o trabalhador é superexplorado), empregos em tempo parcial e formas de trabalho precárias – atin-
gem principalmente as mulheres, em especial as do Sul e as imigrantes: a globalização soube, desta
forma, incorporar e utilizar uma divisão do trabalho e um sistema de valores baseado, entre outros,
na desvalorização das funções desempenhadas pelas mulheres.” (Callamard, Agnès. “Pequim, cinco
anos – avanços e obstáculos: um balanço”. Traduzido por C. Marcondes. In Le Monde Diplomatique,
ed. bras., ano 1. n. 4, 2000, p. 4; cf. da mesma autora: Méthodologie de recherche séxospécifique.
Montreal: Anistia Internacional e Centro Internacional dos Direitos da Pessoa e do Desenvolvimento
Democrático, 1999).
30
No Manifesto Comunista (1848), lemos que “aos olhos dos burgueses, a mulher [da classe proletá-
ria] é apenas um instrumento de trabalho”, quanto às mulheres da própria burguesia, escrevem Marx
e Engels, pode-se dizer que estão, mais ou menos veladamente, destinadas à “prostituição oficial ou
não-oficial”.
31
“As medidas avançadas que foram tomadas no início [da revolução de 1917], com relação ao
casamento, ao divórcio, ao aborto, ao cuidado das crianças e da família, foram suprimidas totalmen-
te e a reação se impôs a tal ponto que, em 1943, estava proibida a co-educação na União Soviética.
Sufocada a revolução sexual, triunfava a contra-revolução. Durante as décadas seguintes, a opinião
conservadora mundial se regozijou em mostrar que a União Soviética permanecia totalmente atrasa-
da a este respeito.” (Millet, Kate. Sexual Politics. Nova Iorque: Doubleday, 1970, p. 176)
32
Observe-se, no entanto, que em interessante artigo intitulado “Feminismo y Genero”, da revista da
FARC, utiliza-se a equívoca categoria “gênero”, porém neutralizada pelo recorte de classe: “Categorías
que han omitido el género, tales como ‘campesinos’, ‘desposeídos’, ‘desplazados’ siguen prevaleciendo
a pesar que dentro de estos grupos las mujeres han sido las más prejudicadas, al grado de que se
habla de la ‘feminización de la pobreza’.” (Documento eletrônico).







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